domingo, 19 de abril de 2009

Totalitarismo à moda da casa

O degredo político aguarda a chegada do dr. Sérgio Marques. A decisão está tomada. E o processo já está em marcha. Depois do incenso, da exaltação e das loas, o purgatório há-de ser a etapa seguinte. Em nome, claro está, dos superiores interesses do partido, do futuro da Região, das conveniências de quem manda.
Acreditem. Isto não é leninismo. É apenas jardinismo no seu estado mais puro: todos ao serviço do partido; todo o partido ao serviço do chefe. Sem lugar para o luxo da dignidade pessoal. E sem margem para a mania do pensamento autónomo. É fácil de perceber. O sistema sobrepõe-se ao indivíduo como as engrenagens transcendem as peças. O todo é a única finalidade. As pessoas não passam de comparsas menores de valor coisificado e instrumental. E a encimar tão prodigiosa construção, existe apenas a excelsa e caprichosa vontade da única pessoa com direitos de personalidade - o nosso querido líder! Ora digam lá se a coisa não está bem concebida...
O dr. Jardim não sabe. Mas a sua força é simultaneamente a sua fraqueza. Ela só vale enquanto à sua volta só houver cunhas perversos e sonsos. À medida que se for descobrindo que o purgatório é suportável e que a dignidade vale mais do que o elogio de consumo instantâneo, há-de começar a perceber-se que o chefe não passa (ele também) de uma peça (apenas mais uma) da cada vez mais insuportável engrenagem que nos governa. Dispensável como todas as outras. Descartável como as demais. Os sistemas totalitários são assim: depois de implantados, sobrepõem-se até aos seus próprios criadores. E até o dr. Jardim há vir a percebê-lo um dia.
Não custa admitir, dito isto, que o dr. Jardim só faz o que lhe dá na gana porque o partido, virgílios e sérgios incluídos, lhe permite que ele faça apenas o que lhe dá na gana. Todos lhe dão carta branca. E nunca ninguém se atreveu a balizar a discricionaridade da sua vontade. Pois o resultado aí está. Desta vez sob a forma de caso Sérgio Marques. Da próxima envolvendo outro nome qualquer, num processo que há-de depender, como é bom de ver, da intriga palaciana que nesse momento vingar.
Concordo com o que diz hoje o dr. Cunha nos três pontinhos que no Diário escrevinha: a política regional anda estranha. E nada como quem sabe do que fala para nos lembrar que a política madeirense é um terreno pouco sadio de jogadas subterrâneas e intriga permanente, onde impera a ausência de escrúpulos e o apetite desenfreado dos que se sentam à direita do chefe. Sérgio Marques vai senti-lo agora. Só espero é que tenha a arte de trocar as voltas aos que pretendam fazer dele um caso exemplar de punição da dignidade atrevida. Sabem. Resistir é também um bom exemplo. Sobretudo para os que possam não ter ainda descoberto que há muito mais vida para além da cada vez menos recomendável política oficial do nosso totalitarismo doméstico.
Bernardino da Purificação

2 comentários:

Anônimo disse...

Agora entendo o súbito desaparecimento da nossa querida Dona Bruder.

É evidente que a querida, tão empenhada na substituição do Dr. Sergio, faltou-lhe tempo para nos presentear com a sua maviosa intervenção.

jorge Figueira disse...

É verdade que o ainda deputado europeu Sérgio Marques vai ser submetido a um forte processo de ostracização. Caminhar apenas assente nos membros inferiores é coisa subversiva para os HUMANOS habitando esta terra. Ele sentirá, em breve, o peso de certas organizações que, apoiadas por alguma imprensa, dirão do ex-deputado aquilo que Maomé não disse do toucinho. Força Dr. Sérgio Marques a dignidade de um Homem distingue-o dos vermes sem coluna que tudo se adaptam.