domingo, 19 de abril de 2009

Totalitarismo à moda do vice

O vice do chefe da ilha anda agastado com o valor excessivo dos impostos municipais. E como não é pessoa de calar o que sente, fez o favor de, em seu e em nosso nome, puxar as orelhas às câmaras, que é como quem diz aos presidentes das ditas. Estou-lhe grato. Gostei de saber que há por aí um vice preocupado com as contas que pagamos ao estado.
É verdade que apreciaria bastante mais que o dito cujo se abespinhasse, mesmo que fosse só em nosso nome, com os impostos que dele dependem e nos abocanham os rendimentos. Porém, compreendo que não lhe apeteça fazê-lo. É sempre mais fácil apontar o dedo aos outros.
Acontece, no entanto, que as leis democráticas que nos organizam a vida conferem ao poder local uma autonomia plena. Os responsáveis autárquicos subordinam-se apenas à vontade soberana de quem os elege. Não têm outra tutela que não seja a que decorre do império da lei. E têm o seu quadro de competências legalmente protegido da interferência de qualquer outro ente político. Para o dr. Cunha, no entanto, isso não passa de uma bizarria qualquer. Ele é vice-presidente do governo, logo pode botar sentença sobre tudo e mais alguma coisa. Mesmo ao arrepio do dever de contenção que os políticos a sério habitualmente respeitam.
Certo. Para além de político, o dr. Cunha é também cidadão. E foi nessa qualidade, há-de dizer sua excelência, que se permitiu dizer umas quantas verdades aos albuquerques e baetas instalados nas câmaras.
Pois. Compreendo o argumento. O Cunha-cidadão está contra a política municipal do partido do Cunha do governo. De modos que, sendo pessoas distintas, podem dizer o que querem, que ninguém há-de acusá-los do que quer que seja. Nem de safadeza. Nem de deslealdade. Nem de hipocrisia.
É claro que a gente percebe a verdadeira natureza das nobres preocupações do dr. Cunha. Como estamos em ano de autárquicas, é preciso suprir a falta de uma oposição a sério. Até porque senão os albuquerques ainda voltam a disparar nos votos, coisa obviamente terrível para o futuro político do nosso vice dr. Cunha, bem como para os interesses patrimoniais do cidadão que também é.
Mas o que verdadeiramente me preocupou nos três miseráveis pontinhos que hoje li do vice do chefe foi o argumento que utilizou. Diz ele que as câmaras devem reduzir as tabelas de impostos, dado que têm contratos-programa celebrados com o governo - no fundo, uma forma mais ou menos retorcida de sugerir que quem paga manda. Ora, não percebo por que razão deixou o argumento a meio. Se tivesse agitado um pouco mais as meninges levaria certamente mais longe a profundidade do raciocínio. Propondo a fixação administrativa (pelo governo, já se vê) das tabelas municipais de impostos e taxas. E acabando com essa fantasia que dá pelo nome de poder local autónomo. Uma dúzia de delegados do partido do governo bastariam para resolver a coisa. Em nome da democracia e dos interesses do dr. Cunha.
Bernardino da Purificação

3 comentários:

Jorge Figueira disse...

É óbvio que o texto do sr. vice é um sermão de encomenda. Confesso, porém, a minha ingenuidade pois admiti que ele apenas quereria enganar os incautos votantes solidarizando-se com eles face às taxas do IMI para assim lhes sacar a a "cruzinha" a favor do seu partido.
Caso o questionassem porque não baixa as taxas o Sr? Use o seu poder de tutela sobre as autarquias. Logo diria:o Sócrates não dá poderes.
Vindo de quem vem poderia também recorrer a mais uma sociedade de "endividamento" que dava no mesmo. Tem, além do mais,larga experiência nesse campo

amsf disse...

Talvez não saibam mas o Governo da República isentou por mais um ou dois anos os contribuintes cujo período de isenção tinha terminado. Talvez o Vice-Presidente quisesse confundir os leitores que eventualmente estão a receber agora a cartinha das finanças regionais com a boa nova!

PRINCIPADO DA PONTINHA disse...

Neste principado não há finanças, nem há nobres, apenas um príncipe...Que Deus vos guarde!