segunda-feira, 13 de abril de 2009

Queridos inimigos

O DN anda em guerra com o dr. Jardim. Como a qualidade dos entes se mede em grande medida pela estatura dos inimigos que têm, é de presumir que estão bem um para o outro. O dr. Jardim adora, como se sabe, o papel de vítima putativa dos azedumes ocasionais de alguma comunicação social. E o DN anda, pelos vistos, com umas súbitas maldades entaladas na garganta. Resultado: nem as amêndoas pascais adoçaram a relação de tão queridos e inseparáveis inimigos; e nem a leve circunstância de o dr. Jardim ter sido durante anos o melhor director de marketing do "independente" cá do burgo teve o condão de suavizar o, salvo seja, morticínio que todos os dias se anuncia.
Uma vez que o terreno escorrega, e porque o seguro morreu de velho, deixem-me esclarecer desde já o que penso do leitmotiv alegado de tão belicosa refrega. Entendo, sem margem para dúvidas, que a EDN tem razão. É injusto que o poder político distorça, ainda por cima em seu exclusivo benefício, as regras da concorrência. É imoral que um governo se permita interferir no mercado publicitário ao sabor da discricionaridade das suas conveniências. É perverso o poder que asfixia sem pestanejar tanto a imprensa que tutela como aquela que não controla. A social-democracia não é isso. O papel regulador do estado também não. A função supletiva do sector público muito menos.
Acho muito bem, portanto, que a EDN reaja. Emitindo os comunicados que considere oportunos. Denunciando a violência de que está a ser vítima. E levando o caso a todas as instâncias que lhe parecerem capazes de acabar com o desmando.
Há, todavia, uma perplexidade que me aflige. As razões da EDN são velhas de vários anos. A intervenção do governo no JM é um processo que vem de longe. E a utilização perversa da publicidade como meio de pressão política é uma prática com mais de duas décadas. Não obstante, nunca o protesto da administração do DN foi tão audível, tão radical, tão veemente. Como se só agora tivesse despertado para o problema. Ou como se as velhas fórmulas (inocente eufemismo das negociatas promíscuas de certas traficâncias político-jornalísticas) com que sempre lidou com ele tivessem de repente perdido a eficácia.
Reconheça-se. O caso dá que pensar. E eu, acreditem, gostava que um dia me explicassem o que é que, afinal, mudou assim tanto na relação tantas vezes cúmplice, e quase sempre lucrativa para ambos, entre a EDN e o dr. Jardim. Não é por nada. Mas tenho o péssimo costume de gostar de perceber as coisas.
Como não gosto das meias-tintas, permito-me ainda uma nota final. Compreendo, como disse, a justeza das razões da administração da EDN. Verifico, no entanto, que a expressão do seu protesto vem contaminando a orientação editorial do Diário. E assim há-de ser até à celebração de mais um armistício (outro eufemismo). Não me sinto, nem mesmo ao de leve, incomodado com o facto. Suspeito, no entanto, que o dr. Jardim agradece a gentileza. Uma imprensa hostil às vezes dá jeito. Quanto mais não seja para justificar atitudes e branquear o faz-de-conta da democracia que temos.
Bernardino da Purificação

8 comentários:

amsf disse...

Não me parece que seja apenas o EDN a reagir oficialmente, também os seus jornalistas começam a sentir os seus interesses pessoais postos em causa. Infelizmente o ser humano é assim mesmo, só reage ao perigo quando se sente pessoalmente ameaçado! A prespectiva de desemprego pode tornar um jornalista mais cauteloso mas também pode-o tornar mais "agressivo"! Para um político demagogo como o AJJ um ambiente de conflito só o favorece. Não há nada pior para um populista do que uma paz podre. Esta impede-o de adiar a decadência inexóravel!

Anônimo disse...

Oh AMSF!
Já tinha saudades de vê-lo opinar sobre tudo e sobre nada. Mas, já agora, porque não fala do seu PS-M. Aquilo está tão divertido! Porque não ajuda à festa?

amsf disse...

Caro irónico anónimo

Bem me sinto tentado até porque como independente não tenho estatuto para poder participar nos debates internos que seria saudável haver! Como vê, para uma pessoa que costuma "opinar sobre tudo e sobre nada" estou a portar-me muito bem! Aliás, um soldado raso e ainda por cima independente, só interessa a esta direcção, bem como às anteriores, para preencher a base da pirâmide que permite a alguns se manterem no vértice superior da mesma!

Qualquer seita brasileira sabe como "produzir" coesão de grupo, fazer felizes os seus membros e com isso ampliar a sua base de colaboradores no entanto estes "condutores de massas" pretendem "conquistar" a Madeira sem fazer os trabalhos de casa. Todos eles têm cometido o mesmo erro de seguirem as mesmas tácticas e estratégias de curto prazo!
Qualquer ser humano tem necessidades básicas de carácter social e psicológico que podem ser satisfeitas sem grandes recursos económicos! Comecem pelos militantes!
Há quem pense que no vértice superior da pirâmide, independentemente do tamanho da mesma, cabe sempre o mesmo número de felizardos! A esses sugiro que olhem todos os dias para baixo pois se a pirâmide se desfizer o vértice também cessará de existir!

-Cala-te boca!!!

Anônimo disse...

O DN-Madeira, aquele do balsamo segundo a opinada atribuição do Dr. Sampaio,desde que temos o governo que temos, tem sido o garante independente da sua legitimidade.

Mais concretamente, manda umas indolores picadas de quando em vez, demonstrando com tal virtual oposição, que se não faz mais, o mérito é todo de quem governa.

Puro desengano, o DN-Madeira, agora começa a sentir a necessidade de se demarcar da sua fiel defesa do governo de Jardim.

Outras necessidades assim o exijem !

Porém e não obstante a indiscutivel realidade do que acima fica dito, o Dr. J.C.Silva, presenteia quinzenalmente a "vilhoada" com aquele brilhante naco de prosa, o qual de brilhante somente perde com o brilhantismo do seu mavioso sorriso "pepsodent" resultante da foto com que ilustra "à maneira" a qualidade da sua escrita.

Será que pelo tardoz desta inanaravel cena, continua a existir a traficancia de interesses, tais como as grandes negociatas dos computadores, das publicidades, das distribuidoras graficas, etc, etc,?

Realmente e para não desfazer do sistema, temos também a imprensa que merecemos.

amsf disse...

Porque a forma vale mais do que o conteúdo já estou a ver muito velhinho, habituado a uma cobertura dos trabalhos da ALRM devidamente formatada e "higiénisada", confuso sem saber quem é do PSD e quem é da oposição! É interessante como um ambiente novo (des)condiciona os profissionais da RTP/M (cameramens inclusive)e a perspectiva do telespectador! Diria que o PSD/M na ALM no Tecnopolo está a jogar fora!

José Leite disse...

Esta «conflitualidade» é teatral... para «inglês ver»...

Honi soit qui mal y pense!

amsf disse...

Agora já se percebe o que andou AJJ a negociar esta semana, secretamente, em Lisboa. Tão secretamente que o Sérgio Marques só ontem soube o lindo resultado! Então o PSD/M não tinha uma mulher capaz de ocupar o quinto lugar!?

Pica-Semeilhas disse...

Senhor(a)amsf
As madamas do PSD (Partido Sem Democratas)não podem ser dispensadas das "funções" regionais para as quais foram, e são,investidas.
E(do ponto de vista gay)não fora a lei das incompatibilidades ser uma aberração(porque,ainda,não comtempla aquele "género")o problema nem sequer se colocava.