segunda-feira, 6 de abril de 2009

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Curioso. Três dias depois, e nada. Nem uma palavra. Nem um comentário. Nem um rumor. Jardim assobia para o lado. A Rua dos Netos limita-se a observar. Os comentadores oficiosos nem deram pelo assunto. As araras da Quinta Vigia esganiçam silvos despreocupados. E, barricado na cidadela do seu gabinete, o dr. Albuquerque espreita e espera. Entretanto, cá fora, a malta comenta. É o pobre do dr. Jardim que deixou de ter mão mão no partido. É o presidente da Câmara que sem os votos das autárquicas fenece politicamente. E é o folhetim da sucessão que vai erraticamente marchando ao sabor dos impulsos dos candidatos irrequietos.
Seja lá o que for, a verdade é que o dr. Jardim foi encostado à parede. Com um simples título de jornal, Albuquerque trocou-lhe as voltas. E a gestão política do processo de preparação das autárquicas deixou de ser exclusiva do crónico dono da estratégia laranja.
Tenho como certo que Jardim não tem outro remédio senão engolir a afronta. A menos, claro, que lhe surja o milagre de uma ajuda externa. Não vejo, porém, que os ganhos da manobra política de Albuquerque possam ir além da sua já quase inevitável candidatura. É verdade que ao permitir-se torpedear a estratégia eleitoral do líder do partido a que pertence, o actual presidente da Câmara do Funchal conseguiu pôr em evidência a relativa autonomia dos seus objectivos políticos. O problema do episódio é que se calhar acrescentou mais uma mossa ao relacionamento politicamente distante que se sabe existir entre ele e o chefe da agremiação a que ambos pertencem.
Não nos iludamos. O dr. Jardim é muito capaz de fingir entusiasmo quando um dia destes vier a público oficializar a recandidatura de Miguel Albuquerque. Mas como não é político de ficar a remoer desaforos em casa, é certo e sabido que depois vamos ter festa. Como aconteceu no tempo de Virgílio Pereira. E como há-de acontecer sempre que alguém tiver o atrevimento de colocar uma agenda pessoal, por mais legítima que seja, à frente da estratégia do presidente do partido.
A sorte de Albuquerque, de Jardim e do PSD é que a oposição é curta. Porque neste quadro de circunstâncias não há mais-valia política no facto de a Câmara do Funchal e o governo da Região virem a ter novamente a mesma cor partidária. Bem pelo contrário. O cenário mais provável é que o relacionamento entre os dois executivos venha a ser difícil e pontualmente crispado. Tanto pelo que atrás ficou dito, como pelo facto de ser público e notório que Jardim não quer Albuquerque nas contas da sucessão. Ora, como a corda se rompe sempre pelo lado mais fraco, está-se mesmo a ver a festarola em que andaremos daqui a alguns meses.
Se ao menos houvesse uma oposição a sério...
Bernardino da Purificação

3 comentários:

Anônimo disse...

Nem o AMSF, nem os comentaristas anónimos, nem os heteronimos, nem os identificados...e pior ainda, nem a minha Querida Bruder, ao que parece "desaparecida em combate".

E o Obama, ainda tem lata de dizer, que a retoma começa a dar sinais.

Logo aqui, nesta Região arredada da crise, dado o trabalho de casa do nosso inteligente Visse ou Vixe, conforme ufanamente fez gala de exibir, algum tempo antes do seu chefe ter anunciado as tais 41 medidas de combate à crise, que não era mas que passou a ser crise.

Jorge Figueira disse...

A questão aqui colocada pelo nosso anfitrião Bernardino tem toda a razão de ser na sequência, alíás, do seu anterior texto.
Miguel Albuquerque vive uma solidão imensa. Foi penoso ouvir-se o número de vezes em que se dirigiu a Suas Altezas Reais, no Teatro Municipal no encerramento dos 500 Anos. Primaram pela ausência as referências Republicanas...Faltou também um espírito mordaz de um Eça a alertar para o ridículo da situação.
Passarm já quatro meses sobre o evento. Ano de eleições justifica plenamente que, agora, Miguel Albuquerque esqueça a costela monárquica e "brinque às republicanices". As estratégias de poder aí estão deixando AJJ refém das afirmações.
Ao anónimo antecessor, reconhecendo-lhe alguma razão, gostaria de dizer-lhe que nestes dias a vinda aos blogs é menos frequente.

Anônimo disse...

Luís XIV dizia: L`Ètat c`est moi!
O paranóico do PSD afirma que o único importante é ele!!!
(Se calhar é pelo tamanho do charuto, no qual - por mecanismo de substituição - vai mamando).
Entretanto, à sua revelia, já vão dois:
Albuquerque,que quer;Marques, que não quer.
O trambulhão já esteve mais longe, olá se esteve...