quarta-feira, 18 de março de 2009

O trabalhinho do dr. Gama

Os maldosos vão ter de engolir a desconfiança. Pensavam, se calhar, que o dr. Jaime Gama viria este ano ao Chão da Lagoa. Enganaram-se. Redondamente. Ele vem, sim senhor, mas agorinha já que mais tarde era capaz de dar um bocado nas vistas. Que diabo. O dr. Gama tem um pingo (aposto que é mesmo só um) de vergonha na cara. Se viesse ao Chão da Lagoa cairia certamente o Carmo e a Trindade. Vindo agora desarma os maldizentes. Ora digam lá se isto não é mesmo coisa de gente esperta.
O dr. Jardim disse há dias que do continente só era bem vindo quem viesse trabalhar. Como já sabia da visita do sócio número um do seu cada vez mais restrito clube de fãs, tenho como certo que o dr. Gama vem preparado para dar o corpinho (salvo seja) ao manifesto. Compreenda-se. O dr. Jardim está cada vez mais exigente. De tal modo que onde antes se resolviam as angústias do inquilino das ditas com meia dúzia de elogios, agora é necessária uma visita, uma mão cheia de recepções, as primeiras páginas que forem necessárias, umas quantas entrevistas de exaltação das virtudes democráticas do regime e do seu chefe, tudo isso, como é evidente, devidamente condimentado com o tempero da desvergonha. Entretanto, lá no continente, o eng. Sócrates há-de corar de arrependimento e porventura de inveja. Ele que aprenda. Não é para todos ser recebido na Madeira como o dr. Gama vai seguramente ser.
Enternece-me, devo dizer, o enlevo das relações simpáticas entre os órgãos de soberania e os órgãos de governo próprio da Região. Desde que devidamente salvaguardada a esfera de competências de cada um. E na óbvia condição de serem democraticamente respeitadas as diferenças de pontos de vista que possam separar conjunturalmente os dois lados. Note-se. A tensão autonómica não pode ser tida como um drama da pátria. Pelo contrário. Se devida e responsavelmente enquadrada, estou certo de que ela pode, ao invés, constituir um importante impulso criador do desenho do nosso futuro colectivo. Há, todavia, um porém que nenhum político a sério tem o direito de esquecer. As boas relações têm de assentar numa base sólida de respeito e reciprocidade. A não ser assim, a desconfiança instala-se, o diálogo vai-se, e, como tradicionalmente acontece em momentos de azedume, quem se lixa é sempre o mexilhão, se vosselências me permitem a crustácea maresia da expressão plebeia.
Não quero lembrar coisas do passado. O que lá vai, lá vai, e não se fala mais nisso. Mas juro que ainda não percebi como, e por que artes, é que o dr. Jardim conseguiu subir tanto na tabela taxonómica do dr. Gama. Arrancou do fundo mais fundo que imaginar se possa. Mas agora já se senta onde se sentam os eleitos.
Para os mais esquecidos recordo que na mente preclara do dr. Gama já não há uma sombra sequer do bokassa de tempos idos ou do défice democrático de má memória. Onde antes havia um ditador há agora um ilustríssimo democrata. E o patriota imenso que o dr. Jardim obviamente agora é nada tem a ver com o famigerado separatista de outros tempos. As coisas mudaram, em suma. Mudou evidentemente o dr. Gama. E mudou, pelos vistos, também o dr. Jardim. A maçada é que ninguém percebeu em que ponto da política lusa se produziu o clique que deu origem a tão acentuada mudança. Bora lá perguntar ao dr. Gama quando e como foi? Ao dr. Jardim não vale a pena que ainda é capaz de nos fazer um manguito, mandar bardamerda ou levar a tribunal. Mas já que o dr. Gama é um senhor polido e paciente, e uma vez que preside ao órgão de soberania que o seu inesperado ídolo, em vistosas cuecas, mandou um dia àquela parte, há-de fazer-nos certamente o favor do esclarecimento conveniente. Mas note-se. Não me refiro ao esclarecimento que pessoalmente lhe convenha. Refiro-me ao outro. Àquele que a seriedade não dispensa.
Bernardino da Purificação

5 comentários:

Anônimo disse...

Alguém saberá explicar-me qual a diferença entre o paquiderme do Gama e o Bokassa Jardim.

Pois é, aves da mesma plumagem...! O resultado é aquele que se vê ! Só não entendo è a posição do Sr. Gouveia no propalado almoço a realizar-se na tal sala da ALR, pintada para o efeito.

Anônimo disse...

Pois é. É por estas e por outras que o PS/M nunca mais sairá da cepa torta.

Anônimo disse...

Lá,como cá,já se viu muito revolucionário mudar-se,de armas e bagagens,de extrema esquerda para a direita das regaladas mordomias.
Se assim não fosse,como poderiam ir às compras ao...Freeport!?!

Anônimo disse...

Mudam-se os tempos. Mudam-se as vontades... garante o Poeta. Isso aconteceu com Jaime Gama ao reconhecer num Bokassa um símbolo da democracia. O mesmo tivemos com Alberto João que tendo escrito o que escreveu aderiu de alma e coração à "democrácia". Péssimo, no meio de tudo isto, é que certos cidadãos investidos em determinados cargos comprometem o Estado. Quererão ser, depois de comportamentos inintelegíveis, respeitados?

Anônimo disse...

Li,o que a este propósito,o Pica-Miolos, escreveu no blog do Professor André Escórcio(denominado,"Com que então...").
E se,como outro comentador alvitrou,estar este país cheio de vigaristas, não admira que a suspeita do Pica-Miolos (de ter sido iníciada a campanha eleitoral para a presidência da república)fazer todo o sentido.
Sócrates,que não é nada parvo(só é parvo para o Zé Pagante)está a fazer a folha ao Alegre.
Aproveita-se da(mais vale tarde,que nunca)paixão de Gama pelo rei da Madeira para inocular no povinho a imagem de um "grande democrata" capaz de apear do poleiro o homem do Poço,credo,Fonte de Boliqueime.
Jardim que não morre de amores pelos tabús do sr.Silva,não descurará a oportunidade de explorar, até o tutano,a "democrática tolerância" do seu declarado,atento e obrigado, apaixonado.
Sócrates,sem perder a face(no seu "ódio de estimação" a Jardim), duma cajadada, mata dois coelhos:
Alegre e Cavaco.
E,do gelatinoso Gama,sabe como tratar.
Pudera,o homem é todo ouvidos...