segunda-feira, 23 de março de 2009

O embuste da santa aliança

É evidente que a culpa só pode ser minha. Cada um é como é. E eu, pobre de mim, nasci pobre de compreensão. De uma forma sumária, o meu problema formula-se assim: não percebi, não percebo, e tenho a certeza de que nunca hei-de perceber, qual a utilidade da visita institucional do inefável dr. Gama às latitudes africanas desta belíssima parcela pátria. Não é embirração minha, acreditem. É mesmo incapacidade. Por mais voltas que dê, não consigo enxergar qualquer efeito prático dos devaneios turístico-políticos do senhor presidente do parlamento nacional. Independentemente do empenho que parece estar a pôr neste indizível papel de kissinger luso de uso doméstico. Ou dos pungentes apelos que o dr. Jardim finge que faz com as reservas mentais conhecidas. E a razão é devastadoramente simples: sua excelência, até me dói a alma dizê-lo, não manda rigorosamente nada.
Não tenho a mais pequena intenção de apoucar tão subida figura do Estado português. Porém, convenhamos. O presidente do parlamento tem uma reduzidíssima capacidade de influenciar o curso da vida política nacional. Dirige os trabalhos de um parlamento comandado pela vontade de dois ou três directórios partidários. E substitui ocasionalmente o presidente da República se as ausências deste fizerem mergulhar o país na depressão da orfandade. Ora, como é bom de ver, e pedindo desculpa pela talvez excessiva simplificação, o facto confere a sua excelência a condição, salvo seja, ou de um mestre de cerimónias ou de um suplente escassamente utilizado. O que parecendo muito é, reconheçamo-lo, praticamente nada.
Não nos iludamos, pois. O dr. Gama só é a segunda figura da hierarquia do estado para efeitos de protocolo. Para quase nada mais. Tem influência porque frequenta os bastidores. Mas, em bom rigor, a sua vontade vale pouco mais do que coisa nenhuma.
Já que vou embalado, atrevo-me a ir um pouco mais longe. A influência do dr. Jaime Gama no curso da política portuguesa é muito mais tributária da sua conhecida condição de figura referencial de uma das sensibilidades do partido do poder do que do lugar que ocupa no protocolo de Estado. Aí, de facto, ele move-se bem e tem peso. O que me faz pensar que a sua visita à Madeira tenha sido ditada por egoístas razões partidárias e não por altruístas preocupações de Estado.
Explico. É vital para o dr. Gama não permitir que o poeta Alegre polarize todas as franjas de descontentamento que se sabe que existem no seio do PS relativamente ao líder Sócrates. E, na falta de melhor terreno de demarcação, encontrou no tapete vermelho que o dr. Jardim lhe estendeu o espaço que precisava para afirmar a autonomia do seu posicionamento estratégico.
Ou seja, estou perfeitamente convicto de que o dr. Gama veio à Madeira muito mais preocupado com Sócrates, e com a preservação do seu espaço no interior do partido, do que com essa novela de faca e alguidar que tem por sujeito o azedume crónico das relações entre os governos da Madeira e do país. Ele sabe muito bem que rigorosamente nada pode decidir nesse domínio. E tão bem ou melhor do que ele, sabe-o igualmente o dr. Jardim. Porém, ao líder madeirense deu jeito exaltar a putativa capacidade de intervenção do dr. Gama. Porque, fazendo-o, aumentou o valor do seu mais recente troféu de caça. Ao mesmo tempo que deu rédea solta à ideia de que a culpa das más relações com o continente reside em exclusivo na intransigência do primeiro-ministro.
Temos, pois, em marcha uma curiosa aliança entre dois ilustres e despudorados cavalheiros que não sentem qualquer problema em servir-se dos cargos institucionais que ocupam para juntarem mais um tijolo às estratégias político-pessoais que desenharam. A menos, claro, que o dr. Gama tenha aceite sacrificar por momentos a sua imagem de estadista em nome da meritória tarefa de tentar negociar com o dr. Jardim o lugar de recuo que ele tanto procura mas que um Sócrates azedo nunca lhe dará. Mas isso são coisas para verificarmos mais tarde. Para já, o que se retira do embuste de uma visita institucional que nunca valeu o que dela se tem dito é que o dr. Gama, consciente e deliberadamente, tirou mais uma vez o tapete aos seus correlegionários locais. Mas, pelos vistos, a alta política desenvolve-se assim.
Bernardino da Purificação

3 comentários:

Anônimo disse...

Alta politica ou Alta Vigarice ?

Quem sabe explicar-me a diferença entre o AJJ, enquanto Bokassa na visão do Gama, mais novo e mais politicamente sério, da actual ?

Qual a diferença entre a politica de AJJ, hà dez anos atrás e actualmente ?

Julgo que não será nada dificil de concluir.

O Sr. Gama, como politico, sempre pautou a sua orientação por uma manifesta e reconhecida mediocridade, nomeadamente durante a época do Cavaco, altura em que alegadamente arauto de uma denominada oposição, ficava-lhe bem sair nas primeiras paginas, pelo que nada melhor, que se lembrar do nosso Bokassa Regional.

Depois veio a desgraça, isto para não dizer a calamidade total. O dito foi sem saber ler e escrever, nomeado Ministro dos Estrangeiros, e logo na primeira vez que botou faladura, inchado de ridicula vaidade, afirmou que o Governo Português, tinha sido muito bem representado, por ele Gama, nessa qualquer reunião.

A partir daé a até à data, foi um infindável haviar de dislates e disparates. O dito julgou-se uma entidade superior, capaz, quiça de chegar a PR.

Então, julgando-se titular de soberanas influencias, vem à Madeira, fazer este triste papel. Julga que vai ser o PR do Sócrates e conta com o seu nóvel amigo AJJ, reconhecido também , pelo seu ódio ao Cavaco.

Coitado do pobre Gama...até já reconhece o seu Bokassa, com capacidade para o ajudar nesta virtual e idilica luta, como se o Cavaco, se tratasse do tipo de pessoas, proprio para dar "água a pintos", leia-se, gamas e bokassas.

Pobres de ambos...na história ficarão , até porque desde sempre,aqui nesta Madeira, conta a dita que nunca houve arraial sem cambado.

Anônimo disse...

e pelos vistos, o ps-m continua a não aprender.
daí as derrotas eleitorais que se aproximam para o ps-m.

Anônimo disse...

O nosso Grande Lider é exímio nas movimentações em águas turvas. A comprová-lo lá estão trinta e um anos de poder onde manobrando com muito jeitinho lá foi puxando a brasa à sua sardinha. Os resultados para o Estado (para a RAM Também) que deveria ser Pessoa de Bem, são péssimos. Poderemos fazer alguma coisa quando do outro lado há sempre alguém apto a colaborar com Conselheiro de Estado absentista que se deixou fotografar em cuecas?
Mandemos rezar uma missa para que Cristo ilumine a mente do bisonho Dr. Gama