segunda-feira, 9 de março de 2009

A humildade confessada

Afinal, nem tudo está perdido. Li o texto de ontem do dr. Cunha e reconciliei-me com a política. A sua franqueza tocou-me. O exercício de humildade que fez sensibilizou-me.
Podem achar surpreendente. Mas acreditem que é verdade. Sem pruridos tolos nem subterfúgios escusados, o senhor nosso vice fez questão de informar-nos que, em regra, a ascensão ao poder tem tudo a ver com o acaso e nenhuma relação com o mérito. Mais. Ciente da incredulidade com que as suas palavras seriam acolhidas, ilustrou a tese com exemplos. De Barroso a Santana. De Guterres a Sócrates. De Balsemão a Cavaco.
Saibam os cépticos que o seu exercício de modéstia foi ainda mais longe. Ao ponto, imagine-se da injustiça auto-infligida. O facto de não ter cedido à tentação de incluir o seu nome na lista que elaborou é algo que só o credibiliza e lhe atesta a honra. Não significa, estou certo disso, que exclua a política regional e o seu caso particular da bondade da tese. O que aconteceu, aposto, é que a modéstia há-de ter falado mais alto - emparceirar ao lado de tanto peso-pesado é coisa que seguramente não passa pela humilde cabeça do dr. Cunha. Nem mesmo a título de acidente do acaso.
Se bem percebi a intencionalidade da prosa, o nosso improvável vice terá pretendido com ela visar alguém em particular. Compreende-se. O dr. Cunha pode não passar de um governante acidental. Mas dá para perceber que não é homem de atirar palavras ao vento assim como quem atira milhões ao mar. Resiste, é verdade, à cruel tentação de identificar o seu alvo. Porém, o político frontal que sabemos que é não podia ser mais directo - aponta clara e inequivocamente para um atrevidote qualquer que anda para aí a dar-se ao desmazelo de perder tempo e cabelo planeando estratégias de tomada do poder. Bravo, dr. Cunha. Ficaria mal comigo mesmo se não lhe relevasse a coragem, o tacto e o sentido de oportunidade. A coragem porque vosselência não treme quando a consciência o interpela a desmascarar certas jogadas. O tacto porque, como toda a gente percebe pela farta e leonina cabeleira que laboriosamente penteia, vosselência tem a prudência de se limitar a perder tempo. E o sentido de oportunidade porque de facto chegou a altura de se denunciar e fazer abortar o descaramento incompetente de certo tipo de manobras.
Tome cuidado, porém, dr. Cunha. Não leve excessivamente à letra a tese que desenvolve. E atenção ao princípio de Peter. Acredite que uma carreira bem sucedida exige muito mais do que a simples garupa da sorte. Sobretudo em política. Pode crer que as pessoas que votam um dia percebem o logro em que caíram. Mas isto, é claro, só vale para quem vai a votos. Não para quem galhardamente escolhe a sombra protectora de um guarda-chuva aberto ao acaso.
Bernardino da Purificação

2 comentários:

Anônimo disse...

Como diria um velho sábio, doutorado pela universidade da dura vida que o Criador lhe deparou, não existem acasos, existem sim, é casos, menos casos que outros.

Já estou imaginando Madame Bruder, vir inflamada ao nosso terreiro, explicar que os acasos, somente ocorrem na pobre oposição que vegeta nesta magnificiente Região do Povo Superior, a qual, com inegavel mérito, passou bem ao largo da crise, pelo simples facto de que não existem acasos. A crise, essa que severamente infligiu duros golpes nas ditas economias mais desenvolvidas do globo, aqui não aportou, porque os nossos intelectuais e estudiosos governantes, preveram-na com a tempestividade propria de quem sabe do caso e nunca trabalha por acaso.

É evidente que isso dos túneis virados parques de estacionamento, das marinas abatidas pelas escarpas e pela força do mar, dos parques empresariais transformados em amplas zonas de pastoricia, do heliporto que nem para aportar cagarras, dos centros de dia, que nem de dia nem de noite funcionam,dos restaurantes, bares, esplanadas e outras pocilgas, das famigeradas sociedades de desenvolvimento, criminiosamente falidas, dos contratos exarados com o Grupo Pestana, que não passam de mais uma falsidade do acaso, esses sins, são simples acasos de pequena monta, cujos custos, não serão por acaso suportados pelas gerações vindouras, saberemos lá com que capacidade e possibilidades...?

Convenhamos, hoje somos perseguidos pelo acaso do caso que colocou à frente dos nossos destinos, alguns indigentes personagens, as quais jamais por acaso, continuam gerindo casos, que não serão por acaso resolvidos por aqueles que nunca foram chamado pelo acaso de se locupletarem à custa dos demais.

Será que por acaso, a Madame Bruder quer assumir o caso de convencer essa gente trazida pelo acaso de assumirem o caso da sua demissão ?

Anônimo disse...

S. Exa., o Sr. Vice, canta bem mas não encanta. É um pouco jovem. Falta-lhe perceber que por vezes há quem tenha de receber, por imposição como bem descreve S. Exa.,naqueles casos simpáticos, situações políticas putrefactas. Olhe, não paga nada pelo avivar de memória.Pense quão armadilhado deixou o solo que pisava, o manhoso velhinho de Santa Comba, para quem quis substituí-lo... Bem sei que o Vice pode sempre dizer que de contas nada sabe basta-lhe citar Dias Loureiro...