sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A especulação e o cheque em branco

Provavelmente, nunca saberemos o que é que o presidente da Assembleia Legislativa foi dizer ontem ao primeiro-ministro. E, do mesmo modo, é pouco provável que um dia venhamos a saber o que é que Miguel Mendonça ouviu de José Sócrates. O facto de o encontro ter decorrido a sós há-de desaconselhar com certeza as fugas de informação. E mesmo que os circunstantes inesperados deste improvável tête-a-tête político venham a partilhar com os seus próximos o teor da conversa havida, é pouco expectável a deselegância da inconfidência pública. A menos que a falta de decoro faça o número do costume. Ou que uma certa forma de estar na política consiga sobrepor-se às regras da decência. O facto, ainda assim, merece ser tratado em sede de comentário político. Apresenta um valor facial susceptível de interpretações políticas diversas. E apesar de amanhã poder ser já uma coisa do passado, reclama hoje uma atenção que não lhe deve ser negada.
Do quase nada que se sabe, avulta desde logo uma primeira observação: o encontro foi pedido pelo presidente do Parlamento dos madeirenses. O que quer dizer que assumiu uma dimensão política e simbólica muito particular no contexto das relações institucionais existentes entre os órgãos de soberania e os órgãos de governo próprio da Região - foram os madeirenses, e não o representante do poder político da RAM, que pediram a graça do encontro com o primeiro-ministro do país; foi a voz da vontade soberana dos eleitores da Madeira que quis ser ouvida em S. Bento, e não simplesmente a da maioria que nos governa. Muito interessante, sem dúvida alguma. O problema é que a dita vontade soberana madeirense não soube, não sabe, nem nunca há-de saber por vias limpas o que é que o dr. Mendonça resolveu ir dizer, alegadamente em seu nome, ao primeiro-ministro de Portugal.
A democracia representativa é assim mesmo, dirão os formalistas e anuirão acriticamente os ingénuos. Peço desculpa, mas não me parece que seja. Não está escrito em lado nenhum que a representação deva dispensar a apresentação de contas. Nem me parece aceitável que, em nome da democracia, alguém se atribua o direito de apropriar-se da vontade popular com a ligeireza de quem usa um cheque em branco. Sob pena de, no caso em apreço, podermos cair na tentação de pensar que, ao contrário do que é subliminarmente sugerido, Miguel Mendonça se limitou a ir a S. Bento cumprir uma agenda estritamente partidária, porém, à boleia das funções supra-partidárias que desempenha.
Não sou adepto da inconfidência. Esse é o expediente dos cínicos e dos bufos. Mas tenho o direito de pensar, a título de direito de cidadania, que me é devida uma explicação, ao menos em forma de comunicado conjunto ou nota de imprensa (impressiona-me que o dr. Mendonça não se sinta obrigado a informar os seus pares do parlamento). Mas como a regra do silêncio impera, ninguém levará a mal que, especulando um pouco, admita um de dois cenários: ou Jardim está realmente à rasca e já não consegue gerir o beco sem saída para onde atirou as relações do seu governo com o governo da República; ou Mendonça pediu a audiência a Sócrates na esperança secreta, mas entretanto frustrada, de que este o mandasse redondamente à fava. Como estamos em vésperas de eleições, e tendo em conta o absurdo e malcriado cadastro das relações (não) existentes entre o dr. Jardim e o senhor Pinto de Sousa, nenhuma das hipóteses se afigura propriamente inverosímil. Muito pelo contrário. A maçada é que nenhuma consegue ser melhor do que a outra.
Bernardino da Purificação

5 comentários:

amsf disse...

Suponho que o PM quererá saber que medidas, entre as muitas que o Dr. Jardim considera negativas para o país, pretende o dito Jardim que sejam extensíveis à Região Autónoma das Vacas Gordas em tempo de vacas magras! Como é evidente essas medidas deverão ser pagas pela República e inauguradas pela Região Autónoma, à semelhança do que aconteceu com a residência universitária.

Anônimo disse...

Podem crer que infelizamente para todos, vezes para todos, a crise é genérica e universal.

Significa isto dizer, que o nosso velho e conhecido circo, gerido por AJJ, com o beneplacito da ALRM, concluiu que necessita de fundos, para susbtituição do seu velho equipamento e contratação de novos animais e palhaços.

Daí que na falta de alternativa viável, tenhamos assistido a um dos seus espectaculos terminais, através da camuflada ida do Presidente do Parlamento a Lisboa.

Como bem diz o nosso anfitrião, em nome de quem ?

Do Par(a)lamento de todos ?

Do Grande chefe, que manda em tudo e em todos ?

Pois bem a duvida está bem levantada, e a resposta á simples e imegável.

O Presidente do Parlamento, uma ves mais ao total arrepio da divisão de poderes, vestiu a sua fiel capa de continuo do AJJ e foi a Lisboa, em nome do Governo (pasme-se...!) negociar como Presidente da ALRM, "benesses" para o seu patrão.

Esta é efectivamente a Madeira no seu melhor.

E depois, alguns dos muitos burgessos que por aqui proliferam, neste execravel circo, dão-se ao desplante de exemplificar as africas e chinas deste mundo, como exemplo daquilo que não se deve fazer.

Acreditem o futuro desta Região, encontra-se centrado na "psiquiatria". Já fabricamos moscas para o munda e dentro em pouco seremos seguramente o maior produtor mundial de acéfalos, daí que efectivamente iremos muitos nos orgulhar de exportar os nossos indigenas, lidimos representantes do nosso Produto Bruto Regional, conforme já lhe chamou o nosso Anfitrião.

Anônimo disse...

Se o sr. dr. Vira-Casaca foi visitar os amigos,à sua custa, ninguém tem nada com isso.
Agora, se lá se deslocou na qualidade de instalado presidente da "minha" Assembleia Regional - à custa dos meus impostos - aí,o caso muda de figura.
Olá,se muda.
Neste caso,ou informa a sociedade que o sustenta,ou,terei de concluir que não passa de um corrupto e de um ladrão.

Anônimo disse...

Carissimo Bernardino, cheque em branco...? Olhe que não...!

O povo putativamente votou num programa, mandatando para execução desse programa, os nossos excelsos deputados.

Por outras palavras, os ditos deputados, receberam do seu povo, uma simples procuração para executarem, só e tão só, o programa que tempestivamente apresentaram aos seus eleitores.

Agora à pala do cargo, como é o caso do Sr. Presidente da ARL da RAM, ir a Lisboa fazer uns recados ao patrão...ISSO, NUNCA.

Certamente que terá que explicar de imediato o motivo da viagem e quem a custeou.

E não venha dizer, que sempre foi do PS, muito embora amigo do AJJ. Essa explicação será tão boa e justificativa, como aquela que desviou o curso da rua que passa à frenta da sua casa, para proteger aquela sua bela pitangueira.

Já agora e na mesma senda, não se esqueça da minha quota parte nas ditas pitangas.

Por ultimo, mas não menos importante, quando privar com o seu amigo, que se refugia no heteronimo de Bruder (julgo que traduzido à letra, significa bronco ou bronquilha)informe-o que nos paises germanofilos a carne de porco, é avaliada ao peso.

Anônimo disse...

O Dr. Aventura vai à Australia ver comam os "Cangurus" escondem os seus dilectos seguidores.

E não explica nem tampouco fundamenta, como é que o erário de todos nós participa no referido périplo, sem qualuer explicação minimamente plausivel...!

O Presidente da ALR da RAM, combina um "flirt" com o nosso primeiro, e muito menos explica.

Depois disto, queixam-se que o Veneravel AJJ, vai periodicamente de forme muito periódica a Bruxelas, e não explica o porquê da ida da outra...!

O Mugabe, pode e tem muitos defeitos, mas explica sempre e previamente, de forma explicada e entendivel os critérios das suas viagens.

Esta é a verdade, e depois digam que o dito é Ditador e Africano.

Chega...só falta os do BPN. explicarem sem quaisqueres pruridos, porque arrombaram, conforme arrombaram as poupanças de milhares de Portugueses crentes neste regime da falácia e da mentira.

E viva a Democracia do POVO SUPERIOR !