sábado, 15 de novembro de 2008

Uma sucessão sem sucessor

Se calhar porque sou céptico, só agora começo a acreditar que o dr. Jardim prepara, de facto, a sua sucessão. Porém, se os sinais não me enganam, parece-me ainda prematuro admitir que alguém venha mesmo a receber em breve o testemunho. Creio mesmo, aliás, que o mais certo é que venhamos a ter, provavelmente no final da legislatura, uma sucessão sem sucessor. Porque o dr. Jardim não brinca em serviço. E porque se sabe que, para ele, a democracia e os votos só têm piada se se puder antecipadamente saber quem ganha as eleições.
Concluído o intróito, permitam-me que ponha um pouco de ordem nas ideias.
Como acontece com a generalidade dos cidadãos desta terra, estou muito longe de dar por adquirida a ideia de que o presidente do Governo vai calçar as pantufas, por sua iniciativa, no final do presente mandato. Admito que possa estar farto do que faz e de quem o rodeia. E sou até capaz de dar de barato que a descompressão de uma reforma dourada possa estar a sorrir-lhe de uma forma, digamos, tentadora. Creio, no entanto, que o vício do poder será mais forte do que o manifesto desprezo que a criatura já nem esconde que nutre, tanto por adversários, como por companheiros de partido. O que me leva a pensar que o dr. Jardim há-de continuar por aí, parafraseando o outro de má memória, pelo menos até conseguir o lugar de recuo que o seu elevado auto-conceito considere mais adequado.
Desgraçadamente para ele, Bruxelas não passou de uma idílica miragem. Felizmente para o seu instinto de sobrevivência, a política do rectângulo, para além de lhe não ser actualmente favorável, fascina-o muito menos do que por vezes nos tenta fazer crer. Ora, tudo isto somado (ou melhor, subtraído) dá como resto a necessidade imperativa de ter de ficar por cá. Por muito que isso lhe custe. A despeito de todas as maçadas e enjoos que o futuro lhe possa trazer.
O dr. Jardim sabe que se não tivesse dito e redito, jurado e tornado a jurar, que este seria o seu último mandato, as coisas ser-lhe-iam francamente mais fáceis. Recandidatava-se, e pronto. Fazia um novo mandato, porque sim. E toda a gente engolia a coisa sem discussão que se visse ou problemas de maior.
A chatice é a eterna mania que tem de fazer política como quem anda no arame. Um dia finge que cai. Num outro faz de conta que se equilibra. Num terceiro ameaça que se estatela. Num seguinte volta a fingir que se apruma. E assim sucessivamente até fartar toda a gente com o espectáculo. Até, imagine-se, a que sempre considerou sua.
De maneira que, sem lugar de recuo à medida das exigências do ego, e com toda a gente mais ou menos saturada de ter continuamente mais do mesmo, o dr. Jardim percebeu que é chegado o momento de sacar do reportório uma última cartada. Vai, pois, voltar a fazer de conta. Vai sair, porém, vai ficar. Vai deixar o governo, mas não vai deixar o poder.
Como sei que a ideia assim expressa pode soar a coisa estapafúrdia, avanço desde já a leitura que faço dos últimos sinais visíveis. Na minha modestíssima opinião, todos eles, os sinais, parecem indicar que o dr. Jardim se prepara para, no final do mandato, e sempre como hipótese de recurso, recolher à retaguarda aparente do cargo de presidente da Assembleia Regional. Foi provavelmente por isso que decretou uma alteração ao regimento, por forma a que o presidente volte a ser eleito por legislatura e não por sessão legislativa. E terá sido também em obediência a esse plano que deu carta branca a Coito Pita, nesta espécie de rebelião larvar que parece estar em curso no seio do grupo parlamentar do PSD, contra Jaime Ramos. É que só um presidente forte do parlamento precisa de um Ramos fraco, ou até mesmo, quem sabe, de um Ramos ausente. E só a um presidente autónomo, com força e com poder efectivo, o dr. Jardim daria o direito de libertar-se da sujeição ao voto anual dos deputados eleitos. Ora, digam-me lá quem é que no PSD reúne o cúmulo de todas estas condições?
Bernardino da Purificação

10 comentários:

Anônimo disse...

Senhor Bernardino da Purificação

A sua antevisão merece parabéns!
Revela uma percepção perfeita do entendimento maquiavélico que Alberto João Jardim tem do mundo!
Tal como diz, a criatura,enquanto viva for,não abrirá mão do Poder.
Na realidade, ao apoderar-se da Presidência da Assembleia Regional,de uma cajadada, mata uma série de coelhos (incluindo o aparecimento de um eventual Coelho, claro está).
Se bem entendi o seu raciocínio:
Primeiro - Restituirá à "Casa de Loucos" a dignidade de Primeira e Única instância da Autonomia (isto é,transferida dele para ele próprio);
Segundo - Eximir-se-á ao pagamento da factura que o "novo executivo" terá de desembrulhar (sabendo, de antemão,que ninguém, da sua "maioria", terá coragem, ou autoridade moral, para lhe assacar responsabilidades);
Terceiro - Manipulará o funcionamento "normal e democrático" do hemiciclo, permitindo às minorias (sempre e quando interessar) a tarefa de auditar, fiscalizar,responsabilizar e,portanto, "demonstrar", que Governo igual aos dele, nunca mais houve nem haverá;

E,de certo modo, contrariando a sua hipótese:

Quarto - Entregará, de "mão beijada", a franga(depenada)ao Petit Salazar (qual cereja no cimo no bolo).
Isto digo eu, que sou quem sou.

Bom Domingo.

Anônimo disse...

discordo.
ajj nunca deixará jfr ou m alb chegarem ao poder. e ainda bem para a ram. são ambos muito fracos.

o problema da ram estava, está e estará num ps-m fraquissimo, o qual, quando chegar ao poder em 2015 ou 2019 será chefiado por gente de direita.

Anônimo disse...

Bem observado. Parece-me, porém, que o nosso homem, com a apetência que tem para mandar, não se reverá naquilo que (na óptica dele)são funções de "mestre de cerimónias". A fazê-lo, fá-lo-á resignado pelo facto de a saída implicar fim da imunidade (para ele impunidade)e por ter de sentar o "almofadado" no banco dos réus pelas aleivosias quem tem dito e escrito. Será, na sua panóplia de opções, sem dúvida, e ainda que a contra-gosto, a menos gravosa

Anônimo disse...

O Bernardino tem "paletes" de razão.

O incontornavel Aldrabão Jardim, vai para Presidente da sua "Casa de Loucos" com a certeza de que previamente coloca na Presidencia do GR o seu "bananinha", o tal que hoje no DN, já se colocou a geito, contando aquela estória (sem "h" as estórias com que nos brinda no DN) do presente e do volante.

Mais claro...obviamente que não, pelo que lá teremos que "arrostar" com esta nóvel parelha, o Jardim na AR ao volante do GR do Banana.

Isto se entretanto o povo não tomar juizo.

Anônimo disse...

DEPUTADOS ELEITOS pelo PS em 2007:

Jacinto Serrão de Freitas, Bernardo Luís Amador Trindade, Carlos Manuel Nogueira Fino, Lino Bernardo Calaça Martins, João André Camacho Escórcio, Carlos João Pereira e Maria Luísa de Sousa Menezes Gonçalves Mendonça.

PPD/PSD: 64,20% (33 mandatos), 90339 votos
PS: 15,42% (7 mandatos), 21699
CDU: 5,44% (2 mandatos), 7659
CDS-PP: 5,34% (2 mandatos), 7512
Bloco de Esq.: 2,97% (1 mandato), 4186
MPT: 2,25% (1 mandato), 3173
PND: 2,08% (1 mandato), 2928

Anônimo disse...

Aos dois primeiros Anónimos

Esquecem-se de um "pequenino" pormenor:

A Assembleia Regional(no exercício pleno das suas atribuições, note-se) tem todo o poder sobre o Executivo.
Logo, quem dominar a AR, domina o Governo.
E,quem quer que venha a assumir a Presidência do Governo, jamais dominará João Jardim(e quanto mais fraquinho,melhor).
Tão simples quanto isto! Clarinho como água pura!

Por outro lado, quando se aborrecer, manda tudo às malvas, e vai gozar as gordas reformas, para Bora-Bora ou para a herdade do Brasil( a coberto de qualquer tentativa de extradição).
A criatura é parva ou quê!?!

Anônimo disse...

Ás vezes, é-se mais eloquente quando menos se disser. Por isso, limito-me a dar-lhe os mais calorosos parabéns pela sua análise. Concordo plenamente.
Maquiavel não faria melhor.

Anônimo disse...

Os senhores que me desculpem,mas há aqui umas pessoas que só sabem dizer mal.
Eu cá não acredito que o senhor dactor Alberte João seja capaz de fazer as patifarias que estão para aí a inventar.
Deus Nosso Senhor o guarde por muitos e bons aninhos.
Tenho dito.

Anônimo disse...

Socorro, o tal de anónimo dos "deputados eleitos", necessita urgentemente de um colete de forças com consequente internamente, no qual, mesmo que deontologicamente errado, deverão ser-lhe aplicados, tres tratamentos diários de "choques electricos", até que a dita criatura, perca a mania da história dos números.

Anônimo disse...

Sem querer abusar da paciência, tanto do Autor do blog, como dos seus leitores,permitam-me três perguntinhas, muito simples, ao Anónimo da estatística dos Deputados eleitos:
- Admitindo que 14,2%, dos eleitores no PPD/PSD, estão, mais directa ou, menos directamente, dependurados no Orçamento, os restantes 50% serão fiéis do tipo do ilustre comentarista que se intitula de "Vilhão Burro"?
- Por serem tantos, na dita "Casa de Loucos"(33, mas equivalem bem a 40) é que os baldrocaram (caso único, desde a Revolução Francesa) da direita para a esquerda e, os da esquerda, para a direita?
- Ainda não reparou que as suas calças estão curtas e tem "batatas" nas meias?