terça-feira, 18 de novembro de 2008

De uma maneira ou de outra

Gostava de saber se o cidadão Rui Alves, e não o presidente de um clube de futebol, era capaz de prometer duas estaladas a alguém. Gostava também de saber se o cidadão Jardim, e não o chefe daquela coisa que aparenta ser um governo, era capaz de trovejar ameaças frequentes, tal como faz constantemente a sua versão presidencial. Gostava, enfim, de saber se toda essa notável cadeia de comando, que vem por aí abaixo desde a Quinta Vigia até chegar à Junta de Freguesia ou à associação de bombeiros, se dava algum dia ao atrevimento da costumeira bravata de disparar ameaças a torto e a direito, caso não estivesse acoitada na loca do poder.
Não pretendo especular muito sobre a miserável indigência do fenómeno. Mas todos sabemos que, sem as vestes institucionais de que toda esta fauna se apropriou, o mais certo é que andassem de rabinho entre as pernas, desdobrando-se em carentes palmadinhas nas costas de todos os que habitam o seu triste espaço de convívio, rasgando-se em insinuantes sorrisos para aqui e para acolá, num permanente e surdo apelo à consideração alheia.
Uns desgraçados, em suma. Uns cobardes. Que exibem com despudor uma força usurpada ao cargo que ocupam. Que ameaçam com uma ousadia que individualmente não têm.
De uma forma geral, todos nos lembramos deles antes e depois. Antes de serem o que são, não passavam de uns pobres diabos à espera da atenção da fortuna. Depois de serem o que são, voltam à lúgubre condição de pobres diabos. A única diferença é que regressam mais ricos, mais gordos, porventura inchados pela fartura da gamela.
Convém esclarecer, no entanto, que compreender o fenómeno não é, não pode ser, relevar-lhe a culpa ou desculpar-lhe a gravidade. O poder não há-de ser assim tão mau que consiga dar a volta à cabeça dos que por ele possam passar. O problema, parece-me claro, reside muito mais na qualidade pessoal de quem a ele acede do que na perversa capacidade que possa ter de transformar gente vulgar em refinados filhos da mãe (sem qualquer ofensa às senhoras suas progenitoras). Acho muito bem, portanto, que as vítimas que fazem lhes vão dando o troco que merecem. Na Justiça, já se vê, apesar da imensa desproporção de acesso e de meios. Mas sem descurar, como há alturas em que é preciso, outras formas, digamos, mais criativas de oposição e resistência. Até porque a Justiça não chega a todo o lado, sendo que, por vezes, só chega onde lhe convém. Ao passo que a criatividade, por enquanto, ainda não conhece limites.
Como a nossa mente nos surpreende por vezes com associações tramadas, ao pensar nas prepotentes diatribes de Jardim, de Rui Alves, e de todas as outras personalidades, correlativas ou afins, que os acompanham na proa que ocupam, lembro-me sempre de um episódio da bola. (Faz todo o sentido. Afinal, o pretexto da prosa foi, na circunstância, uma coisa da bola.)
Ora, acontece que uma vez foi perguntado ao central Mozer, que defendeu com brio o emblema, as cores e o orgulho do Glorioso, como é que tencionava travar os atacantes adversários. Pois bem, com a simplicidade um bocado safada de quem se rala pouco com estados de alma, o defesa limitou-se a retorquir, sorrindo. É simples. Há-de ser de uma maneira ou de outra. E nem ele sabia que as suas palavras encerravam, afinal, todo um programa de legítima defesa.
Bernardino da Purificação

4 comentários:

Anônimo disse...

Por detrás da arrogância está sempre um fraco, um covarde.

Anônimo disse...

Pois... Qunto mais acobardados mais gritam para se fazerem ouvir e amedrontarem as vítimas. Os últimos acontecimentos vividos nesta colectividade de 270 mil almas são disso o exemplo. Foi vê-los desnorteados mostrando as suas verdadeiras qualidades Humanas quando o Coelho teve engenho e arte para lhes dar a provar o fel que nos impõem há 30 anos.

Anônimo disse...

Senhor Bernardino da Purificação

Dando de barato a cacofonia, tem toda a razão:

"Se queres ver o vilão, mete-lhe na mão o bastão."

Anônimo disse...

O ser humano tem duas vias para se impôr na sociedade, ou pelas suas intrinsecas qualidades pessoais, ou pelas qualidades do mandato que legitima a sua intervenção pública.

Numa sociedade civilizada, o politico titular do tal mandato, previamente impôs-se como homem, solidário, totalmente integrado no seu meio com o qual interage de igual para igual. Complementarmente como politico, impõe-se legitima e democraticamente em nome de todos a todos aqueles que também legitima e democraticamente o reconhecem como tal.

Obviamente que estamos a falar de uma sociedade civilizadamente organizada.

Aqui o Sr. Presidente há pouco tempo escrevia no JM (o tal brindado agora pelo OR com três milhões e tal de euros) que não havia problema que não se resolvesse com um bom par de estalos. Desenganem-se se pensam que me refiro ao baixo nivel da ameaça, refiro-me tão só hà pouco vergonha do dito, o qual já mal vai podendo com as calças e ainda se atreve a ameaçar de "chapada" o seu povo.

Pois é "mete-lhe na mão o bastão" e se não fosse o "bastão", coitados dos Albertos, Dantas, Cunhas, Aventuras Garcês, Machadinhos , Brazões, Machiqueiros e outros reconhecidos e miseráveis aborigenas que por cá pastam...! O que é que eles fariam ?
Até me fazem recordar a atitude de um reconhecido parasita, pretensamente erudito, que em fase de desespero, recorre amiudamente aos Deuses do Olimpo...!

Haja paciencia e muita caridade Crîstã, para tranquilamente manter-se calmo nesta grotesco cenário.