quinta-feira, 6 de novembro de 2008

As contas de sumir e o estádio

A máquina da propaganda político-futebolística aí está na sua máxima força. Afinal, diz ela, o estádio do Marítimo vai ficar mais barato ao nosso erário. E o povo regozija-se. E o dr. Jardim pisca o olho, em mal disfarçado gozo, ao presidente Pereira dos assuntos futebolísticos do governo da RAM. E o nosso querido e escasso orçamento lá vai fazendo contas à fatia que vai ter de dispensar para a manutenção do lucrativo e dispendioso divertimento de alguns.
Um estádio mais barato! Palavra que gosto da ideia. Em período de crise, nada há mais estimável do que poupar e cortar nos gastos. Sobretudo nos desnecessários. O problema, e é com humildade que o confesso, é que não a percebi. Mais barato do que quê? Do que se não fosse feito? Do que pura e simplesmente se dissesse ao senhor Marítimo que já recebeu do erário mais do que o suficiente para ter feito estádios, obras, campos de treino, academias e outras coisas quejandas? Palavra que estou confuso. Como não é disso que se trata, juro que não percebo que raio de poupança é essa que o DN nos serve num dia e o dr. Jardim nos assegura no outro.
A minha dificuldade em perceber como é que vai ser mais barata uma despesa imoral, e a todos os títulos inútil, assenta ainda num outro tipo de considerações.
Passo a explicar.
Há dias, antes ainda deste mimo propagandístico que nos quer convencer da bondade de uma coisa manifestamente ruim, vi na têvê que temos um cavalheiro do IDRAM declarar o que um zeloso aplicador dos nossos dinheiros nunca poderia aceitar. Disse ele, num debate a propósito deste famigerado estádio do Marítimo, que a análise de solos e o estudo geotécnico, que as leis da engenharia exigem que se faça, serão executados pelo empreiteiro depois da adjudicação da empreitada. E no ar, como se calcula, ficou a simpática ideia de que a RAM assim furtaria os seus exauridos cofres a uma desnecessária despesa (mais uma, já se vê, que, pelos vistos, esta operação do estádio do CSM só tem contas de subtrair).
A maçada da coisa é que tanta poupança deixa a gente a matutar. Ora, acontece que eu também matutei. E, se calhar, mais do que devia. De tal modo que dei por mim confrontado com a seguinte dúvida de leigo: como é que se pode determinar um valor-base de adjudicação de uma obra pública, sem se apurar antecipadamente a dimensão e o custo da totalidade da intervenção?
Como não sou engenheiro, confesso que ainda hoje a coisa me aflige. Será que só vai ser adjudicada a obra acima do solo? Será que há alguma empresa de construção civil disposta a partir para uma obra como quem parte para a compra de um melão (o tal que só depois de aberto se sabe se valeu o que custou)? E os trabalhos abaixo do solo? Quem vai fazê-los e pagá-los? Serão um presente envenenado, salvo seja, dado ao empreiteiro? Tenho a certeza de que a singeleza complexa destas dúvidas dá bem a nota do tormento reflexivo em que me encontro.
É verdade que, a dada altura, pensei ter chegado à resposta para todas estas dúvidas. Visualizei então a palavra derrapagem. E a coisa pareceu fazer algum sentido. Na verdade, não há obra que não derrape financeiramente neste país e nesta região. Só que, logo a seguir, recordei-me que, não há muito tempo, entrou em vigor um diploma legal que limita a uma percentagem irrisória o valor dos trabalhos não previstos no caderno de encargos. E aqui, para meu desespero, regressaram as dúvidas. Será que alguém pode ajudar-me a desfazê-las? É que, com tantas contas de subtracção, às tantas ainda teremos um estádio real assente em fundações virtuais. Ou será que a virtualidade da coisa vai ficar-se apenas pelas contas da dita?
Bernardino da Purificação

4 comentários:

amsf disse...

E será que esse alerta do Presidente do Tribunal de Contas, Oliveira Martins e respectiva legislação se aplica à Madeira!? Parece-me que já haveria legislação impeditiva das derrapagens tão comuns nas "obras de arte" e nem por isso elas deixaram de ser comuns! As "derrapagens" ultrapassam em média (no país) os 100.

Anônimo disse...

Tudo o que atrás fica dito merece concordância. Atenedendo, porém, a que o sr. Bernardino já se confessou adepto do Nacional assentava-lhe bem - nem que em pequeníssimo parágrafo - falar dos gastos astronómicos com "a bola" onde não cabe apenas o Marítimo. Não deixa de ter razão naquilo que escreveu. Acontece que o descalabro que refere é muito maior do que o Estádio do CSM. Há dezenas de campos relvados na RAM e "os craques" são fundamentalmente "estrangeiros". Aqui cabem os continentais.

Anônimo disse...

Será que estádio do Nacional já foi analisado? Pelo TC?
Pela PJ?

Anônimo disse...

Caros Amigos, com ou sem derrapagem, com ou sem seriedade, não é nada que uma "Off-Shore" não resolva. Tal qual diria AJJ, cujo genro é assalariado de uma dessas magnificientes instituições, patrocinadas pela SAD do Maritimo, aquela mesma, cujo capital social é susbcrito em 40 % pela RAM.

Não julguem que o que acima fica dito, reporta-se a qualquer futuro sketch dos gatos fedorentos.