Primeiro o registo de interesses. Não sou nem pró-democrata, nem pró-republicano. Considero que a política dos Estados Unidos só me diz respeito na sua vertente externa. E, desse ponto de vista, considero-me um pró-americano. Porque simpatizo mais com as democracias do que com as ditaduras. Porque não ignoro que o mundo pós-guerra fria necessita de um mínimo de regulação e ordem que organizações como a ONU não estão em condições de assegurar. Porque não sou indiferente ao cinismo dos que reclamam essa regulação sem nada fazerem para que ela seja efectiva. Porque não esqueço o que a Europa tem feito, a si própria e ao mundo, sempre que os EUA se limitam a tratar da sua casa e dos seus problemas. E porque depois do 11 de Setembro, por todas as razões trágicas, civilizacionais e simbólicas que lhe são inerentes, não posso deixar de fazer minhas, com as necessárias adaptações, mas com a mesma intenção solidária, as palavras imortalizadas do presidente Jack Kennedy: Ich bin ein american.
Foi com este distanciamento que acompanhei as eleições nos EUA. Predispus-me a assistir ao espectáculo mediático global como o terão feito biliões de espectadores. Não tive favoritos. E procurei resistir a todas as lendas e clichés que sobre os candidatos se contaram.
Porém, passadas as eleições, não posso deixar de dizer que me sinto literalmente esmagado pela extrema dignidade do candidato derrotado, pelo imenso sentido de Estado que em todos os momentos exibiu, pelo tocante patriotismo de que sempre deu mostras, pela genuína humildade com que reconheceu os méritos do adversário. Senti-me reconfortado, em suma, por poder verificar que a lenda McCain, que ideólogos e estrategos de campanha tão bem construíram e enfatizaram, corresponde à pessoa concreta que é. Não tivemos o plástico do marketing. Estivemos perante a autenticidade de um político de verdade.
Obama, claro, impressionou-me também. Por tudo isso. Mas também por outros predicados. Pedindo desculpa pelo exagero, fez-me lembrar Mandela. Não apenas por ter ganho, mas por ter ousado acreditar que podia ganhar. Não apenas pela eloquência, mas pela serenidade, bom senso, e simplicidade com que sempre se dirigiu aos americanos. Não apenas por ser quem é, mas pela forma como conseguiu mobilizar um país de abstencionistas para uma participação eleitoral a todos os títulos impressionante - a maior dos últimos cem anos.
Obama mexeu nas estruturas da política americana. Ele e McCain foram capazes de opor a força dos eleitores ao conservadorismo dos aparelhos partidários. Honra lhes seja, pois. E que may God bless America, porque se o fizer também nos abençoará certamente a todos nós.
Mas há uma nota final que não posso deixar de fazer. O simbolismo e dimensão da vitória de Obama trazem consigo um ónus de responsabilidade a que ele e a América não podem furtar-se. O tempo novo prometido é esperado por todos. Tanto na América como fora dela. Oxalá consiga a próxima administração americana corresponder ao clima de ruptura e esperança que Obama teve a arte de criar. Oxalá estejamos todos, americanos e não-americanos, à altura dos desafios que presentemente se nos colocam. E viva a Democracia do voto limpo, livre de coacções, isento de máculas.
Bernardino da Purificação
7 comentários:
Acima a democracia.
Morte a todas as ditaduras, mais ou menos encapotadas que para mal dos explorados e oprimidos, ainda conseguem subsistir neste seculo XXl.
Não tenho dúvidas que a vitória do Obama, criou grandes e fortes expectativas.
Não tenho também dúvidas, que as referidas expectativas, serão seguramente superadas, pela notória pujança deste nóvel negro americano.
Como também não tenho dúvidas, que a onda agora criada, atirará definitivamente para a sargeta, todos aqueles que ainda não perceberam a mudança imposta pelos ventos da modernidade, da solidariedade e da afirmação da dignidade humana em todas as suas vertentes.
Para os menos crentes ao menos que mantenham a esperança que o futro presente, trará a mudança que todos os homens de bem merecem.
Um grande Bem Haja ao Obama e a todos aqueles que acreditam num futuro bem presente e bem melhor deste passado que teimosamente para determinados esclerosados, persiste agarrado ao ventilador.
Se Obama, à maneira de Hollywood, é o bom e as eleições americanas foram históricas quanto à participação, é de concluir que estas eleições foram uma luta entre o bem e mal e que o mal na américa é numeroso e tem muita vontade.
Esta febre à volta do Obama só pode ser fruto da falta de esperança dos povos e teria a mesma opinião se fosse o McCain ou outro o eleito.
A política externa americana pouco mudará.
Gostaria de alertar para o facto do show off das eleições americanas esconder o facto do sistema eleitoral americano não ser democrático. Estudem a legislação eleitoral dos vários Estados americanos e perceberão que quero dizer! Num país com tanta diversidade e só dois partidos!? Assim também Cuba tem um sistema eleitoral democrático!
Este artigo foca os pontos essênciais destas eleições para presidente da América,está de parabéns.Não há dúvidas de que estas eleições veio dar uma lufada de ar fresco, não só na politica Americana,mas também a nivel internacional.Grandes esperanças estão subjacentes a estas eleições, porque muita coisa de certeza irá mudar,para bem da humanidade.
Faço minhas as palavras de José Luís. Só me resta acrescentar que faço votos para que Obama não tenha o fim trágico de John Kennedy. Nos EUA nunca se sabe...
Porque isso não seria uma tragédia. Seria uma catástrofe. Que, mais cedo do que tarde, nos virá fatalmente bater à nossa porta.
Que o nosso estimável Obama, oriundo do Quénia Africano, ensine todos os "burgessos" pretensamente nascidos na Europa da Historia civizacional, os caminhos da Paz, da Tolerancia, da Solidariedade e fundamentalmente da Educação.
Que exemplo o Afro-Americano, como certos energúmenos gostam de apelidá-lo, deu às familias de todo o Mundo, quando nas suas multiplas aparições, surge abraçado à Esposa e às duas filhas.
Os problemas são muitos e de peso. Um mundo desregulado exige bom senso e ponderação. Partilho a opinião de Fernando Vouga pois os maiores obstáculos a Obama virão, tal como vieram com J. Kennedy, do interior do seu País. Belo exemplo - sem dúvida - deixaram vencedor e vencido no momento de serem conhecidos os resiultados. A ALRAM deveria ter em exibição permanente para consumo daqueles seres que a povoam as intervenções de verdadeiros POLÍTICOS.
O problema dos casametos dos "Gays" bate exclusivamente na denominação formal do contrato.
Arranje-se nova denominação para esta tambem nova associação.
Porquê casamento ? Se casamento trata-se de um contrato mundialmente reconhecido, celebrado entre dois outorgantes de sexo diferente.
Chame-se consorcio conjugal, associação conjugal, união conjugal, etc. etc.
Nada tenho contra a união de dois seres do mesmo sexo, agora entendo que não existe qualquer necessidade de misturar conceitos, nomeadamente através de manifesta usurpação de conceitos ancestralmente aceites pela nossa comunidade.
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