Esta é decididamente uma terra de doidos. A propósito de pretensas efemérides que não querem dizer coisa nenhuma, é capaz de se gastar este mundo e o outro. Quando é relevante aquilo que se comemora, não conseguimos ir além da piroseira dos programas pífios. Concordo com o dr. Jardim. Tá tudo louco.
Não há muito tempo, o dr. Cunha e Silva entendeu que podia dar largas à megalomania que todos lhe reconhecemos. Cheio de vento por ter enfim chegado à governação, resolveu engendrar um ano de festarolas. O tempo era de vacas gorduchas. De maneira que, a propósito de coisa nenhuma, uns quantos privilegiados funchalenses puderam aliviar as suas desconhecidas inquietações melómanas com o dinheiro do erário.
Diz quem sabe que a factura foi elevada. Não admira. Um Carreras ou uma Diana Krall são nomes sonantes e, em consequência, luxos caros. Não obstante, cá os tivemos, entre outros, a peso de ouro e a propósito de uma fraude. Disseram-nos que a Europa nos tinha distinguido com um galardão inexistente. Afinal, do que se tratou foi apenas ter-nos cabido a vez de podermos fazer qualquer coisa para mostrarmos o que somos às restantes quinhentas ou seiscentas regiões europeias. Como um dia acontecerá ao Algarve ou a Trás-os-Montes. À Andaluzia ou às Astúrias. À Alsácia ou à Bretanha.
É claro que, no fim de contas, não nos mostrámos a ninguém. Preferimos andar inebriados com uma distinção que não existiu. E optámos pelo esbanjamento numa festança injustificada. O dr. Cunha gastando o nosso dinheiro na sua dispendiosa propaganda. E a cidade alinhando na coisa a reboque do provincianismo que havia acabado de assentar arraiais no poder da Região.
Consta que o Tribunal de Contas (essa tenebrosa força de bloqueio com que o centralismo nos quer controlar os gastos) chegou a escrutinar e a criticar o vice-presidencial arraial. Mas como a vergonha é reconhecidamente um bem escasso, o facto caiu depressa no esquecimento. Pelo menos, até ao próximo embuste.
Longe de mim qualquer intenção de apelar à despesa desbragada. Porém, não consigo deixar de pensar que a soma avultada que o dr. Cunha gastou nos seus classistas delírios musicais nos está agora a fazer falta.
Repare-se. O Funchal faz quinhentos anos. Quem sabe um mínimo de História sabe com certeza que a data não é exclusivamente nossa. Pertence ao país. E é parte integrante do património da Europa. É nossa. Mas é pertença igualmente do espaço cultural em que nos integramos. Não obstante, ninguém parece dar grande importância a isso. É pena. Estamos a perder uma oportunidade. Não de entrarmos em festarolas eufóricas para exclusivo consumo interno. Mas sim de revisitarmos o lugar que tivemos no processo de afirmação da Europa no mundo. E não seria difícil, estou em crer, obter de Bruxelas o envolvimento e os fundos necessários para uma comemoração a preceito. Bastaria talvez um pouco de ousadia mais um módico q.b. do relevo que se deve dar à dimensão cultural da acção política. Tudo isto a par, como é evidente, da ausência das costumeiras tricas pequeninas com que uns quantos nos pretendem fazer mais pequenos do que somos.
Mas, o que é que se há-de fazer?! É a isto que estamos sujeitos...!!!
Bernardino da Purificação
Um comentário:
o próximo presidente da cmf devia ser o genial carlos pereira do ps-m.
trata-se de uma pessoa que nem precisa do ps para viver...
e de uma pessoa muito amiga do povo...
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