segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O primeiro partido regional

Uma vez que a season está mesmo silly, não há outro remédio senão comentar aquela fantástica ideia de formação de um novo partido político com que o dr. Jardim pretendeu captar a atenção da classe política nacional.
Está claro que o dr. Jardim não quis mais do que isso. Pelo menos nesta altura do campeonato. Mas correm o risco de uma inesperada surpresa todos os que tenham precipitadamente decidido dar o assunto por encerrado. Nem tudo o que o dr. Jardim diz deve ser tido como manobra de contra-informação. Até porque é sabido que ele já vai sendo vítima do seu próprio subconsciente.
Leve-se, pois, meio a sério meio a brincar a putativa intenção do dr. Jardim. Na realidade, ele não quer propriamente um novo partido. Mas ninguém tenha dúvidas de que ele está disposto a tudo para, no mínimo dos mínimos, conquistar para o PSD-Madeira que lidera o máximo de autonomia que ainda for possível imaginar.
É verdade que, como já vai acontecendo com demasiada frequência, ninguém lhe ligou patavina. Nem no rectângulo, como gosta de dizer, nem na quinta onde dita as regras. De lá não veio qualquer eco que se ouvisse. E de cá, a única reacção pronta que registei foi a do fidelíssimo Luís Filipe Malheiro que se demarcou prontamente da coisa. Não obstante, acreditem. É prematuro encomendar um epitáfio sumário ao tal partido federalista de que falou o dr. Jardim. E parece-me francamente redutor imaginar que a única intenção de tão excêntrica proposta tenha sido a de sobressaltar o remanso bi-maternal que bucolicamente embala a dra. Ferreira Leite e o seu o primeiro neto.
Não o digo, podem crer, por simpatizar com a ideia de um partido que tenha na sua matriz identitária uma ideia federalista. É verdade que gosto da ideia - já vai sendo tempo de se olhar para a descentralização do país sem complexos nem tabus. Mas não é isso que me faz pensar que se deve dar a atenção q.b. a esta primeira manobra estival do dr. Jardim. É, acreditem, outra coisa. É, por exemplo, ter em conta que o líder regional do PSD anda a braços com um projecto de revisão constitucional visando o alargamento das competências legislativas autonómicas. E é também ter presente o que disse recentemente o conselheiro Diniz em entrevista ao Sol.
Ora, disse o senhor conselheiro que já a ninguém repugna a ideia de que possam existir partidos regionais. Por causa de outras coisas que também disse, ninguém quis olhar para a ex-ministerial sentença com olhos de ver. No entanto, ela está lá. Como prova de que o ex-senhor ministro sabe que, não tarda nada, o tema há-de subir à ribalta política. E como inapagável testemunho de que, no fim de contas, sua excelência é tão cúmplice do dr. Jardim que até se presta a abrir caminho às suas ideias.
É claro que posso estar errado. Isto de tentar encontrar um fio condutor no discurso e nas manobras por vezes erráticas do dr. Jardim não é tarefa fácil. Mas, para já, ninguém me tira da mente que o presidente dos laranjas de cá o que pretende é tão só que a direcção dos laranjas de lá aceite incluir a ideia de um país federal no conjunto dos seus princípios programáticos. Seja pela via directa de uma improvável conversão ao federalismo. Seja pela via negociada de uma ainda mais ampla autonomia do PSD-Madeira. E se porventura tudo isso falhar, restará sempre ao dr. Jardim a possibilidade constitucional de regionalizar de vez o partido de que é presidente. Não será assim, senhor conselheiro?
Bernardino da Purificação

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