Confesso que já me molesta comentar as palermices de que o dr. Cunha e Silva se alivia ao ritmo de duas vezes por mês na revista do DN. Não fosse ele quem é e as pérolas com que nos brinda não mereceriam sequer o tempo de uma leitura apressada. Mas como ele é o vice-presidente do governo, vale a pena mergulhar quinzenalmente na profundidade das suas confissões, na densidade inexistente dos seus pensamentos. Mesmo que a coisa enfade. Mesmo que a leitura às vezes exaspere.
Houve um tempo em que o dr. Cunha se limitava a citar as ideias de outrem. Só que, de repente, fosse por ter esgotado o livro de citações, fosse por ter sido tocado pelo pecado do atrevimento, fosse por ter perdido a capacidade de enxergar-se, o cavalheiro desatou a falar de si. Mandando recados mais ou menos herméticos para aqui e para ali. Contando banalidades que só por caridade cristã alguém faz o favor de publicar. Ocupando, enfim, de quinze em quinze dias, uma tribuna que de todo não justifica.
Insisto. Se o dr. Cunha não fosse um vice com pretensões a presidente, as patetices literárias que produz nem um sorriso amarelo haveriam de provocar. Só que para sua desgraça, ele é isso tudo. De maneira que, infelizmente para ele, a gente tem quase a obrigação de lê-lo. E, o que é pior, de comentá-lo.
A última croniqueta que lhe publicaram surpreendeu-me. Por um lado, revelou em todo o seu esplendor a indigência que o dito cujo passa a vida a tentar disfarçar. Mas, por outro, trouxe aos nossos olhos o adolescente atormentado que ainda lhe habita e agita o espírito. O escrito pregou-lhe uma partida, em suma. Traiu-o. Revelou-lhe o íntimo.
Num certo sentido, o arrazoado que hoje nos serviu em forma de papel de jornal constitui, em simultâneo, uma confissão e um exercício de catarse. Através dele, o dr. Cunha revelou que, apesar das responsabilidades que tem, é capaz de falar de coisas sérias com o ar brejeiro e alarve das conversas de taberna. Compreendo o fenómeno. Algum dia teria de acontecer. Afinal, ninguém é capaz de esconder a vida inteira o seu lado mais profundo, mais genuíno. Nem sequer o dr. Cunha e Silva.
Ficámos então a saber que o dr. Cunha gostaria que 1640 nunca tivesse acontecido. Ele não o diz assim, como é evidente. O político frontal que é, limita-se a insinuá-lo. Mas quem o lê percebe que há uma espécie de nostalgia ibérica a iluminar-lhe as meninges. Eu confesso que acho mal que o cavalheiro se dê ao atrevimento de escarnecer da independência alheia. Se não gosta do país a que pertence, tenha coragem e diga-o de uma vez. E, já agora, seja consequente e demita-se de um cargo que pertence ao ordenamento político-institucional do país a que, pelos vistos, não gosta de pertencer.
Devo confessar, aliás, que me merecem muito mais respeito (embora discorde deles) os independentistas assumidos da Madeira. Porque com esses não há nem tibiezas, nem ironias manhosas, nem meias tintas. São frontais. Não precisam de andar permanentemente a dizer o que pensam, mas eles sabem que a gente sabe o que eles pensam. E, o que é mais relevante para o caso, falam da independência da terra deles e não da independência do país que acham que é dos outros. Agora com vosselência é diferente. Anda por aí na sonsice e no bem-bom das mordomias que a constituição portuguesa lhe dá, até que um dia, totalmente a despropósito, desata a gemer súbitos suspiros, pelas esquinas que frequenta, pelos queridos espanhóis.
É claro que já muita gente sabe das lucrativas negociatas energéticas que vossência e alguns dos seus prósperos subordinados mantêm com o lado de lá da península Ibérica. Mas, com franqueza. Fazer disso critério de escolha de uma pátria é reduzir o sentimento de pertença que ninguém dispensa ao pulsar de uma conta bancária. Ora isso não é bonito. Ao ponto, acredite, de até o castelhano dispor de uma palavra pouco digna para traduzir a ideia de mercantilização da pertença e dos afectos.
Mas o que mais me impressionou na prosa que fez o favor de nos servir foi outra coisa. Mais pesada. Porventura, mais reveladora. Vosselência revelou que foi hóspede na casa de seus pais. Não sei se o fez com a leviandade que já lhe vai sendo habitual, ou se se limitou a exprimir a densa amargura que do fundo da sua alma brota. Juro que fiquei chocado. Por ter enfim percebido que a vida lhe tem sido madrasta. E por ter verificado que o meu ilustre amigo (permita-me que o trate assim) se cansou de disfarçar o indisfarçável. Vossência não se sentia em casa na casa de seus pais. Sentia-se um estranho. Um hóspede. Um só. Nem é preciso ser psiquiatra ou psicólogo para perceber que a palavra que usou é todo um diagnóstico da alma. Aceite por isso, dr. Cunha, os protestos da minha solidariedade. Pode crer que agora até já percebo os problemas de carácter que lhe apontam. Podia era canalizá-los e esconjurá-los de outra forma.
Bernardino da Purificação
14 comentários:
Meu caro Bernardino "Freud" da Purificação,
Não lhe conhecia o pendor para a psicanálise, mas subscrevo o diagnóstico que faz do dr. Cunha e Silva. De facto, o caso é para Rilhafoles...
C. Jung
Quem foi que a dado passo da sua conhecida caminhada, com vista à meta da loucura total, vociferou em altos berros, que a Madeira Contemporânea, tratava-se de uma realidade palpável ?
Terá sido aquele, que no alto dos seus 134 Kgs. esmurra diária e vilmente a sua esposa, Mãe dos seus filhos ?
Será o mesmo, que "Ediferremente" aposta forte no mercado imobiliário regional. Qual agiota ?
Será ainda aquele, que depois de tanta conquista, pretende gastar os seus milhões (vilmente roubados a este pobre povo inferior e ultrajado) na cidade do Cabo . Mais concretamente, pretende trocar a sua Madeira Contemporanea, por uma conhecida terra de raça maioritariamente negra.
Quem conseguirá identificar tal grandiosa personagem(só no tamanho, obviamente com o fruto do panamá, porque a daqui é bem pequeninha).
Aceitam-se respostas para este portal.
Com que então temos "Freud" ?
Será que o "Freud" explica tamanha perseguição ?
Meu Caro Bernardino, depois de ler o seu libelo acusatório, estou seguro que V.Excia necessita efectivamente de tratar-se dessa sua reconhecida animosidade pelo Dr. Cunha.
Não me reconheça como defensor da referida criatura, acredite nada me diz, pelo que não vislumbro o móbil da sua peregrina cruzada.
Se calhar estou errado...pelo que a acontecer, peço-lhe desculpa.
Se estiver certo, tenha paciencia, trate-se.
Melhoras...
O homem revela falta de inteligência nos "artigos" que escreve e ainda pretende ser Presidente do Governo Regional? Socorro!
Todos os "bloguistas" e respectivos "comentaristas", reconhecidamente eruditos, deveriam ter os "ditos" no respectivo local, para assumirem pessoalmente o resultado dos seus inegáveis éxitos.
Porém, parece que os "ditos" não funcionam e como tal fenecem-lhe as razões que sustentam as suas doutas certezas.
Que pena...tão sábios...porque não constituir uma nova comissão mundial,(segundo consta, a anterior foi extinta) com vista à solução dos novos problemas desta RAM do Povo Superior ?
Seguramente que o número de candidatos a presidente das obras da Madeira (leia-se, substituto do Bokassa Jardim)seria certa e seguramente, mais vasto e consequentemente apelativo aos potenciais eleitores.
Vamos embora, homens (?) de coragem (?)
Afinal o que se discute.
Querem o "Banana" para Presidente do Bananal ?
Estás enganado, o Pereirinha do PS, é seguramente a solução...!
Perseguição?
Por causa do dito cujo, nós estamos endividados até ao pescoço.
O dr. Miguel Albuquerque em matéria de incompetência também não fica atrás do Dr. Cunha e Silva.
Por forma a terminarmos esta guerra de "delfins", sugiro a entrega da administração do Ilhéu da Cal ao Dr. Miguel Alçbuquerque e do Ilhéu do Ferro ao Dr. Cunha, com direito a ambos utilizarem um burro, sempre que se desloquem à Vila Baleira, em representação das suas respectivas administrações.
Já agora, o Dr. Coito Pita, para Ministro da Republica do Porto Santo.
Sugiro o JCG para Secretário da Educação, o Pereirinha para Presidente da CMF após ele fazer o Albuq perder o mandato (como prometeu) e o Baltasar para Bispo...
E o este último anónimo para bobo da corte.
João Cunha Banana, obviamente que o teu pelouro correcto, será o que tutelar a agricultura, obviamente desde que o "bananal", "bananeie" como diria o Jô Soares.
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