Roberto Silva, presidente da Câmara do Porto Santo, tem um sonho. Não sei se cor-de-rosa ou apenas cor-de-laranja. Não sei se voluntarista se simplesmente disparatado.
Ele acha que o desenvolvimento da ilha só pode ser sustentado se houver uma rápida duplicação da população residente. E, em conformidade com tal entendimento, definiu como prioridade da próxima década a importação massiva de mão-de-obra.
O Porto Santo vai, pois, esforçar-se para atrair gente. E, a concretizar-se o plano, a visão mais ou menos nostálgica que todos temos deste pequeno paraíso atlântico estará a um pequeno passo de esfumar-se.
Devo dizer que também eu sou um devoto do desenvolvimento. Não há nada de que goste mais. Sobretudo se todos puderem ganhar alguma coisa com ele. Sucede, porém, que a palavra me incomoda quando não passa de um substantivo dito à toa. Quando isso acontece, o vocábulo assusta. Basta atentar nos pequenos, médios ou grandes disparates que em seu nome todos os dias se cometem. Na Madeira. No Porto Santo. No mundo.
Tenho de Roberto Silva uma impressão globalmente favorável. Não me parece que seja particularmente dado ao disparate. E, tirando um ou outro frete que lhe há-de manchar o currículo para o resto da vida, não o tenho visto incorrer mais vezes do que lhe tem sido exigido no pecado da insensatez. Perturbou-me por isso a leveza com que disse o que disse. Como se fosse a coisa mais natural e incontroversa do mundo. Ou como se não tivesse o dever de explicar tintim por tintim os contornos do seu magnífico plano.
Sendo ele um autarca experiente e sensato, há-de conseguir antecipar muito melhor do que nós os impactos tremendos na vida da ilha de uma eventual multiplicação por dois do número de residentes. Ele saberá com certeza que uma duplicação do número de moradias conduz à multiplicação dos problemas de saneamento básico. E muito melhor do que qualquer outro cidadão, ele há-de seguramente saber que a resolução dos dois citados problemas acarreta consigo uma significativa movimentação de gente, de máquinas, de terras, de materiais, coisa pouca, enfim, mas que poderá transformar a idílica paisagem porto-santense na imagem nada bucólica de um estaleiro de dimensões apreciáveis.
Mais. Porque conhece a burocracia pelo lado dos seus labirínticos e espessos corredores, Roberto Silva não há-de ignorar que os serviços técnicos e administrativos da Câmara a que preside dificilmente terão capacidade para despachar e acompanhar a preceito um tão grande volume de obras. Do mesmo modo, como ninguém como ele está em posição de imaginar a pressão que uma duplicação da população residente exercerá sobre os sistemas de produção e distribuição de energia eléctrica e de água potável, não creio que o assunto lhe possa ter igualmente escapado. Assim como estou seguro de que ele tem presente que dez mil almas colocam problemas aos sistemas de educação e de saúde a que os equipamentos actualmente existentes não serão capazes de responder.
Como certamente terão reparado, nem sequer falei das maçadas adicionais relacionadas com os transportes e com o abastecimento. Passei ao lado dos aborrecimentos decorrentes dessa coisa dispicienda que dá pelo nome de duplicação da produção de lixo. E o mesmo farei relativamente ao problema de segurança pública que há-de ser encaixar dez mil almas de proveniências, credos e culturas distintas na exiguidade de quarenta e tantos metros quadrados de superfície, dos quais só metade ou pouco mais serão úteis. E nada disso fiz pela razão crente, simples e cristalina de que imagino que Roberto Silva terá tido tudo isso na conta devida. E notem. Só falo da população residente. Nem sequer estou a considerar a duplicação sazonal dessas tais dez mil almas.
Insisto. O autarca sensato que Roberto Silva tem fama de ser sabe de tudo isto muito melhor do que eu. Há-de ter, estou certo disso, todas as respostas na ponta da língua para, com uma simples palavra, derreter as dúvidas imbecis que indigentes e simples mortais como este modestíssimo escrevinhador possam eventualmente levantar. Dirá que tudo o que atrás se disse quer dizer desenvolvimento e progresso. Há-de ter certamente a arte de provar, "por-á-mais-bê", que o ambiente (com letra maiúscula) da ilha há-de continuar, como deve, devidamente preservado. E há-de ter prontinhas para debitar todas as contas relacionadas com o aumento de despesa (subsídio de dupla insularidade devidamente multiplicado e ampliado) que os orçamentos da autarquia e da RAM terão naturalmente de suportar.
Porque tenho boa impressão a seu respeito (mesmo descontando os três ou quatro fretes de resultados mais ou menos grosseiros que possa ter feito a quem detém o poder de facto), sei que, se tivesse entendido fazê-lo, já nos teria elucidado a todos. Ainda assim, com a modéstia que gosto de pôr em cada letra que escrevo, permito-me deixar-lhe um conselho. Nunca tenha medo de dar esclarecimentos à malta cá de baixo. É bom anunciar intenções. É melhor ainda prometer desenvolvimento e riqueza. Mas olhe que os entrementes e caminhos do tal dito progresso não são coisa de que a gente aceite ficar alheados. Compreenda: trata-se do nosso futuro.
Bernardino da Purificação
8 comentários:
O Padre Malthus, para nosso bem, viveu e morreu no Sec. XVl. Não acredito que tenha deixado seguidores nos dias de hoje, pelo que e desde já coloco de lado esta possivel interpretação co presente artigo de opinião.
A evolução social a modos como os antibióticos, causam efeitos secundários e preversos, os quais urge solucionar.
O eventual crescimento demográfico do Porto Santo, trará seguramente a par das consequencias aqui referidas, diversas "benesses", as quais muito por alto, não terei dúvidas, em reconhecer num quadro contabilistico, grandemente supervitárias a esta desamparada e mal tratada economia insular de 2º grau.
Haja humildade e destreza na obtenção dos meios com vista aos fins ora pretendidos, que os resultados serão seguramente positivos.
Obviamente que não podemos permitir que as ideias do reconhecido e competente autarca, sejam selvaticamente atropeladas, pelo peso pesado do "Joe Banana Split", fazendo como entre outras pretende fazer, uma central dessalinizadora para o seu erradissimo campo de golge (quiçá o mais defiçiotário do Globo) e outrs "Elefantes Brancos", v.g. Docas, Centros de Arte e ainda o futuro e louvável telefárico para o Ilhéu da Cal.
Por Favor Roberto, tenta antes com que prendam este homem - Atenção ele é violento.
Ainda não percebi o porquê de este blogger comentar de forma anónima! A juntar a isso notasse uma persistência contra o "banana"!
Ponto 1 - aos que insistem no pretenso anonimato deste blogue recomenda-se a leitura do texto intitulado "ponto de ordem". A menos que não saibam ler.
ponto 2 - não é bonito atribuir pretensas intenções aos outros. Não sei quem é o "banana". Nem me interessa saber. Aqui só se comentam políticas e políticos. Quem achar que isso é de mais, faça o favor e passe adiante.
Bernardino da Purificação
Será por ventura errado falar de anonimato, simultaneamente com o reconhecimento da actividade persecutória do famoso "Joe Banana Split" ?
Amigo AMSF nunca tente confundir "amor" com "persistencia", sabe porquê, porque o verdadeiro "amor" é persistente por força da sua propria física.
Assim, como vê, tratam-se de conceitos totalmente inconfundiveis, não obstante complementarem-se.
ai este sequeira...
Quem é o Sequeira ? Não me digam que é aquele que melhor que ninguém, entende perfeitamente a origem e dor das equimozes diárias da Valentina, dado também já provado do produto "Banana".
Quem diria que o Heteronimo Bernardino, não é nada anónimo quanto ao conhecimento das miserabilidades desta cidadezinha.
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