sábado, 2 de agosto de 2008

O Marítimo, a SAD e os impostos

O Sol informa que hoje que o Marítimo anda a contas com a suspeita da prática de fraude fiscal. Diz também que os seus principais dirigentes terão sido constituídos arguidos. E, não tarda nada, os jornais e as fontes do costume hão-de explicar-nos que a Madeira e o clube que o governo e os nossos impostos suportam estão a ser vítimas de uma tenebrosa cabala. Entretanto, a bola há-de continuar a ser jogada. O CSM vai continuar a delapidar o dinheiro que não tem em negócios pouco claros. O cobrador-mor dos nossos impostos há-de continuar a exibir-se no palanque onde se elevam os notáveis do partido do poder, como voltou a acontecer no recente Chão da Lagoa. A direcção de Finanças vai continuar a ter gente sua destacada no Almirante Reis para tratar dos impostos verde-rubros - tanto dos que são pagos, como dos que, pelos vistos, fogem sabe-se lá para onde. Muitos jogadores, alguns treinadores e uns quantos empresários (da bola, mas também de diversas outras áreas de negócio) vão continuar a desfrutar do paraíso paisagístico, financeiro e fiscal em que a Madeira para eles se tornou. E, contra todas as regras da prudência, da seriedade e da decência, o "nosso" governo há-de continuar a fazer-nos cúmplices à força da negociata pouco clara e escondida que um dia acabará por nos envergonhar a todos.
Não sei de que lado está a razão nesta batalha jurídica que a justiça portuguesa trava com o CSM. A questão é importante, sem dúvida. Mas de momento interessa pouco. Só sei que o presidente da SAD do Marítimo admitiu saber das últimas evoluções que o caso registou. Sei também, porque isso está escrito, que um administrador da dita sociedade jurou a pés juntos que nada sabe sobre o assunto. E acho que sei igualmente que o referido administrador é um indivíduo que pertence ao quadro da Direcção de Contribuições e Impostos, mas que anda há anos requisitado pelo "nosso" governo para assentar praça onde os seus serviços possam dar mais jeito - já andou por aí a "oferecer" e a prestar bem pagos serviços a empresários com problemas fiscais; tem arraiais assentados no CSM para o que der e vier, depois da fuga do histórico Carvalhinho; e foi o gestor nomeado pelo vice-presidente do governo para fechar o agónico Jornal da Madeira, onde se mantém num curioso e nunca escrutinado processo de acumulação de funções.
Devo dizer, no entanto, que nesta fase me preocupam muito mais as aparências do que os factos demonstrados. Porque, por culpa exclusiva do governo, a Região está metida até ao pescoço na embrulhada que o Sol relata hoje. Porque na política (e é disto que se trata) o ónus da prova não pertence a quem acusa, mas impende como obrigação aos que se põem a jeito das acusações. E porque, como há mais de dois mil anos se diz, a mulher de César, mais do que ser, deve ter sempre o cuidado de parecer séria. Ora, como se sabe que o CSM é, desde há muito, uma das amantes de luxo do dr. Jardim, nos termos da sua elegante e sempre mimosa adjectivação, cabe aos dois enamorados o dever do escrúpulo e da prudência. Não apenas por eles. Mas por todos nós. Porque são nossos os recursos financeiros que movimentam. E porque, nessa medida, agem ambos como se o fizessem por nossa conta, mesmo que passem a vida a fingir o contrário.
A verdade que me importa nesta altura é só uma. Nenhum governo democrático do mundo obriga uma Região ou um país a ser sócio de um clube de futebol. Mas, se porventura o fizesse, qualquer governo democrático do mundo, ao mais pequeno sinal de coisa suspeita, haveria de patrocinar um inquérito interno que lhe permitisse apurar as linhas de conduta dos administradores que tivesse nomeado. Na Madeira, no entanto, é diferente. Como ao dr. Jardim tanto se lhe dá como se lhe deu, ninguém há-de pedir contas a ninguém. E quando, ou se, um dia houver acusações e gente pronunciada, lá veremos o nosso presidente em mais uma batalha contra as forças de ocupação e repressão colonial que não nos deixam viver como muito bem queremos e entendemos. Isto é, sem regras. Na mais completa bagunça. E nas margens, ou para lá delas, da legalidade. Até porque o primeiro mandamento da autonomia jardinista diz claramente que as culpas e os culpados, quaisquer que elas ou eles sejam, estão sempre do lado de lá da barricada.
Bernardino da Purificação

Um comentário:

José Leite disse...

E quantos «marítimos» não há por esse país fora?!

O mal é generalizado, basta investigar...