quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Negócios públicos feitos em privado

O dr. Jardim garante que nenhuma parcela da praia do Porto Santo há-de ser um dia privatizada.
Corrijo. Não se limita a garantir. Jura a pés juntos naquele jeito que tem para dizer coisas definitivas.
Acontece, porém, que todos conhecemos o valor das coisas definitivas do dr. Jardim. Há trinta anos que as ouvimos. E há trinta anos que as vemos sistematicamente alteradas ou esquecidas ao sabor das circunstâncias ou dos interesses. De maneira que sua excelência não levará a mal que relativizemos a veemência que gosta de pôr nas palavras. Em bom rigor, ela é muito mais uma questão de forma do que de substância.
A sentença do senhor presidente relaciona-se com as informações que por aí circulam segundo as quais um naco de praia do Porto Santo terá sido concessionada ao grupo Pestana. Mas, a bem dizer, essa relação é pouco menos que remota.
Explico. Quem não quer desconversar e tem respeito pelos cidadãos que o elegem, responde directamente ao conteúdo concreto das perguntas que lhe são feitas. Só que neste caso o dr. Jardim desconversou. Perguntaram-lhe que raio de negócio foi esse que levou à concessão de uns bons metros quadrados do nosso areal porto-santense ao grupo Pestana. Mas ele, escorregadio, marimbou-se para a questão. Ou por esta ser incómoda. Ou por ser isso que fazem os políticos a sério. Então, vá de arriar a citada sentença, a qual, bem vistas as coisas, não responde a coisa nenhuma.
Vamos lá a ver. É evidente que a praia do Porto Santo nunca será alienada. Nem no todo. Nem em parte. Aliás, mesmo que o quisesse fazer, o governo a que sua excelência preside não dispõe dos instrumentos legais que lhe permitissem tão criminoso devaneio. Mas há uma questão que permanece sem resposta. Há uma porção de praia que terá sido alegadamente concessionada. E todos nós sabemos disso porque o próprio grupo Pestana o diz sob a forma de placas colocadas à frente do hotel que construiu na chamada ilha dourada. Ora, acontece que a opinião pública não foi informada do negócio. Não só lhe desconhece os termos, como lhe ignora por completo os fundamentos. O que quer dizer, que a coisa terá sido negociada à socapa.
Temos assim, não um, mas três problemas: a concessão que o grupo Pestana jura que lhe foi feita; o segredo que a rodeou; e, agora mais recentemente, a desconversa do senhor presidente do governo. Convenhamos que não é coisa pouca. E não custa reconhecer que quando se juntam concessões às escondidas e conversas da treta que nada explicam a gente tem o direito, e até o dever, de desconfiar.
Como não sou fundamentalista, mesmo tratando-se do Porto Santo, até sou capaz de admitir que pode ser preciso dar qualquer coisa em troca de investimentos que dinamizem a economia e tragam novos empregos. Não concordo é que essas trocas e baldrocas se façam no segredo dos gabinetes. Porque só se faz à socapa o que se tem medo de fazer às claras. E porque o segredo só pode ser a alma dos negócios particulares. Ora, nunca é demais lembrar que este é público e bem público. Apesar de continuar propositada e anti-democraticamente privado. Por que será?
Bernardino da Purificação

5 comentários:

amsf disse...

Mas negócios desses já não foram feitos na Madeira!? Ver o caso da Marina do Lugar de Baixo e o Grupo Pestana!

Anônimo disse...

Não há hoteis e gente ligada ao PS com acesso exclusivo à praia ou ao mar?

amsf disse...

Se há é porque o Governo Regional o permite erradamente!

Anônimo disse...

Então essa gente do PS é semelhante ao psd.

Anônimo disse...

O testa de ferro do PND dise sobre o líder do PSM:

“Ele anunciou que iria lutar contra a corrupção e o regime, mas foi obrigado a parar por ordens superiores do seu próprio partido ao nível nacional”.

É verdade?