quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A mãe de todas as culpas

E pronto. Quem conhece o dr. Jardim de certeza que percebeu o sinal. O presidente anda furibundo com as notícias desagradáveis sobre o Marítimo. Aquela coisa do genro ter sido constituído arguido está-lhe atravessada. E como quer arranjar um pé para pegar com os administradores da agremiação, resolveu passar ao ataque.
Porque estamos ainda no defeso, não seria de bom tom arremeter já pelo lado das contratações e das tácticas. Assim, à falta de melhor tema, ei-lo a entrar pelo lado da designação que há-de ter o estádio que nos vai consumir alguns nada escassos milhões de euros. Nada, em suma, que não se pudesse prever.
Diz sua excelência que não gosta da palavra arena. Compreendo-o. Eu também não, e disso dei conta na altura devida. Só que, tratando-se do dr. Jardim, tenho muitas dúvidas de que ele não simpatize de facto com as ressonâncias bélicas, quase épicas, da designação anunciada já lá vão umas duas ou três semanas.
Como ele próprio tanto gosta heroicamente de dizer, não há nada que mais agrade ao dr. Jardim do que uma pitada q.b. de cheiro a pólvora. Assim, temos de convir que a palavra arena, descontando, já se vê, a parolice pseudo-guerreira de que é portadora, até parece ter sido pensada à medida do gosto de sua excelência. Aliás, o longo silêncio presidencial que se seguiu ao anúncio do provável nome do estádio, pareceu constituir um sinal inequívoco do seu presidencial assentimento. Só que, como atrás do tempo, tempo vem, o que parecia ser verdade há quinze dias atrás, passou a ser mentira duas semanas depois. De maneira que o presidente-Pereira mais os seus ilustres pares estão agora confrontados com a ingrata tarefa de terem de explicar aos seus prosélitos que nem no nome do estádio são capazes de mandar. É o que dá oferecer um clube com história ao caprichoso oportunismo de quem manda.
Mas continuemos. Temos então que o dr. Jardim acaba de anunciar em primeira página de dois jornais que não gosta do nome aventado pelo sócio-Pereira. Repare-se. Não o disse em privado. Nem sequer, note-se bem, quando pela primeira vez lho indicaram. Nada disso. Preferiu dizê-lo agora porque queria dizer qualquer coisa e não tinha nada ainda que dissesse.
Dirão os crentes que sua excelência gosta de fazer números destes só para animar o Verão e para afirmar a sua autoridade. Mas eu, que sou céptico e politicamente agnóstico, direi coisa diferente. Porque acho que conheço a peça. E porque já aprendi a antecipar-lhe os tiques.
Ora, acontece, e aqui retomo a ideia inicial da prosa de hoje, que o dr. Jardim anda pelos cabelos com os cavalheiros que o expuseram, expondo-lhe a família, a dores de cabeça escusadas com a justiça. Não é nada, é claro, que ele não consiga resolver, como aliás um dia se há-de verificar. Só que não havia necessidade de abrir a porta ao falatório. É este e não a justiça que o incomoda. Melhor ou pior, a justiça controla-se. O falatório não. Sabe-se sempre como começa. Mas nunca se sabe nem como acaba nem que danos provoca pelo caminho. O que quer dizer que o presidente-Pereira é culpado. Não dessas coisas miúdas que dão pelo nome de evasão fiscal e branqueamento de capitais. Mas sim dessa falta sem nome que consiste em ter permitido que o nome do genro do dr. Jardim ande por aí em desagradáveis notícias de jornal. De modos que vai agora ter de pagar por isso.
Preparemo-nos, pois, para um folhetim político-futebolístico estival com sede no porto-santense bar do Henrique. A operação de desgaste da administração da SAD do Marítimo está já em curso. E ainda que o pretexto do fogacho inicial dessa operação seja menos que pífio, vale a pena ficarmos à espera das cenas dos próximos capítulos. Porque a coisa promete, acreditem. Ainda que só valha o que possam valer os seus protagonistas.
Bernardino da Purificação

2 comentários:

Anônimo disse...

Triste terra esta em que o presidente do governo regional além de ter o monopólio das inaugurações também tem o dos baptizados!!!

amsf

Anônimo disse...

O Sr. Jardim apenas colhe o que semeia.
O pior é que a criatura permitiu uma verdadeira arena onde se degladiam os comensais e boçais do costume. Todos à pála do erário desbaratado, apenas para gaúdio das suas peneiras pessoais.
Parece que já chegou a chamusca às vaquinhas sagradas.