terça-feira, 5 de agosto de 2008

A indignação do dr. Brazão

O dr. Brazão de Castro está indignado. Compreendo-o. Acusam-no de andar a mentir aos madeirenses sobre o desemprego. Que injustiça! Logo a ele, que nada pode fazer para criar um posto de trabalho sequer.
Eu, no seu lugar, não estaria indignado. Estaria literalmente furioso. Em primeiro lugar, porque quem o critica parece não perceber a verdadeira natureza das suas funções. Depois, porque é manifestamente injusto pedir contas a quem não tem contas para dar. Só injusto? Não. É bem pior. É pura maldade.
Repare-se. Quem não conheça a terra e olhe para os cartazes que inundam a cidade fica com certeza com a ideia de que é por culpa do dr. Brazão que o desemprego aumenta. Como se fosse ele o responsável pela economia que soluça. Como se fosse ele o culpado de haver parques industriais às moscas. Como se fosse sua a responsabilidade de ninguém conhecer uma política estruturada de apoio e estímulo à internacionalização das empresas madeirenses. Como se se devesse a uma qualquer omissão da sua parte a total ausência de uma política fiscal capaz de levar os empresários a pensar que, afinal, vale a pena investir na Madeira e criar empregos madeirenses. Como, se o fiasco da zona franca industrial fosse responsabilidade sua. Como se fosse, enfim, da sua lavra a estratégia de consumir recursos e mais recursos em obras públicas de utilidade duvidosa.
Ora, o Bloco de Esquerda há-de saber que nada disto pode ser creditado ou debitado na conta do dr. Brazão de Castro. Porém, mesmo assim não hesitou um segundo. Ofereceu à fúria da urbe a cara de nariz acrescentado do secretário regional dos Recursos Humanos. Esquecendo deliberadamente os verdadeiros culpados da definição de uma política que se apresenta como regional ou quase estadual, mas que não vai além dos contornos paroquiais e autárquicos que tem. Daí a indignação do dr. Brazão de Castro. Justificada, insisto. Porque se há quem não tenha a mais leve culpa do que quer que seja é, podem crer, o dr. Brazão de Castro. Aliás, como é que pode ter culpa quem nem sabe sequer o que é que faz ou em que é que manda...?!
Mas, há mais. Como é bom de ver, um responsável pela propaganda faz propaganda. Informar é uma coisa. Fazer propaganda é outra. Assim, como é que se há-de responsabilizar quem se limita a fazer o que lhe é pedido? Não é isto maldoso, injusto, indecente? Não custa reconhecer que sim. De maneira que, dr. Brazão, estou consigo. Processe-os. Leve-os a tribunal. Não é justo que se ande a chamar mentiroso a quem nunca disse, afinal, que estava a falar a verdade. Ainda por cima, acumulando a acusação ao poster de um acrescentado nariz de pinóquio. O nariz chegava, senhores do Bloco de Esquerda. Por isso agora vão ter de pagá-las. Viva a justiça.
Bernardino da Purificação

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