quarta-feira, 23 de julho de 2008

A política, os políticos e os boatos

Desolado. Não encontro outra palavra que melhor exprima o que sinto neste momento. Mais uma vez fui obrigado a remover comentários de quem não consegue discutir os assuntos sérios com a necessária elevação, com a devida seriedade. Lamento muito que assim seja. E lamento ainda mais que um texto meu tenha sido o pretexto para o oportunismo rasteiro do ataque pessoal soez.
Reitero aquilo que há dias escrevi. Não pretendo nem vou dar boleia à maledicência. A despeito de pensar que não há temas-tabu, muito menos na blogoesfera. E sem prejuízo de entender que não há figura pública que possa presumir-se imune ao comentário ou à crítica.
Mas devo também uma explicação. Quando ilustrei o sentido do último texto com o exemplo de um dos nossos mais proeminentes políticos pretendi simplesmente explicar que até as figuras públicas têm o direito à salvaguarda do seu bom nome. É claro que a exposição pública a que essas figuras estão sujeitas colide muitas vezes com alguns dos mais elementares direitos de personalidade que as leis a todos garantem. Não obstante, considero do domínio da mais rasteira falta de ética que se confunda o carácter público da intervenção dessas figuras com o nosso putativo direito à despudorada devassa da sua vida privada. Eu sei que os políticos são figuras públicas porque querem. E eles sabem que nada nem ninguém os obriga a ser o que são. Ainda assim têm direitos. Mesmo que não gostemos do que digam ou façam. E mesmo que as decisões políticas que tomam possam ser merecedoras do mais veemente reparo.
É claro que todos os que decidem enveredar pela vida pública, seja política ou não, têm que estar preparado para os julgamentos de carácter que necessariamente lhes serão feitos. Pode parecer assustador ou perverso, mas é compreensível - em democracia, o carácter dos decisores conta. Porque actuam em nosso nome. Porque utilizam um poder que lhes é delegado. E porque se servem de instrumentos (patrimoniais, financeiros e institucionais) que nos pertencem a todos. Ainda assim, insisto, têm direitos. Nomeadamente, o de verem o seu carácter julgado (nesse democrático julgamento a que nunca poderão furtar-se) com lealdade, sem o recurso ao boato, e sem sombra de preconceito.
O que pretendi dizer, em suma, é que as figuras públicas têm duas maneiras de lidar com os boatos que a seu respeito possam circular. Ou conseguem ignorá-los, ou defendem-se deles. A primeira opção comporta o risco de terem de aturá-los, pelo menos enquanto durar a exposição da sua vida pública. A segunda tem o mérito de cortar o mal pela raiz. Ora, o que a talhe de foice escrevi no meu último texto foi que me parece pouco prudente que um político vítima da ordinarice de um boato nada faça para lhe impedir a progressão. Porque um dia tê-lo-á colado a si como uma espécie de segunda pele.
De maneira que insisto. Eu, se fosse político, nunca permitiria, com o meu silêncio, que um boato qualquer pudesse ganhar terreno. Muito menos, e por maioria de razão, se esse boato dissesse respeito à alegada prática de um crime público, como é o caso da violência conjugal. Tomaria, pois, a iniciativa de pedir a intervenção da Justiça. Ou seja, submeter-me-ia, de motu proprio, ao escrutínio de quem tem o poder de investigar e julgar. E assim acabaria com um estigma que nenhum inocente deveria ter de suportar. Mas isso, é claro, exige a coexistência de duas condições de partida: a certeza de uma justiça justa e o conforto de uma consciência tranquila. Acreditem que nem o mais absurdo boato é capaz de resistir ao cúmulo desta dupla condição.
Bernardino da Purificação

2 comentários:

Anônimo disse...

Discordo e concordo com o conteúdo do seu artigo.

Discordo quando enfatiza a necessidade da privacidade dos politicos. Ora, não são precisamente os politicos que provocam ostensivamente a sociedade a devassar-lhe a sua privacidade, quando do resultado de tal devassa, verifica-se que a sua esposa é muito bonitinha e arrumadinha, os seus filhos um exemplo à juventude, os seus bens terrenos, adequados às suas comodidades e integrados dentro dos valores que os eus ordenados comportam, tais como habitar numa casinha geminada, com vista para a rua, carrinho de segunda mão, muito embora o anterior proprietário, somente o tenha conduzido dentro do stand, ou apartamentosinho nas conservas e casinha no campo, com arruamentos proprios construidos pela autarquia, (para ficar tudo mais barato e economico)
Porém, quando a devassa esbarra com violencia domestica e outras coisas mais que não vêm nos jornais, aí é que a burra dá o coice...!
Concordo, quando entende e bem que o permanente anátema que grude a um politico, deverá por este ser de imediato esclarecido e como tal removido, obviamente para o caso do dito não corresponder à realidade. Porque se corresponder, somente uma decisão resta, a demissão do dito cujo, até porque demitido e desonerado do encargo do trabalho, fica este com mais tempo para a porrada.

Unknown disse...

Concordo consigo.Os politicos enquanto no exercicio das suas funções,têm por obrigação serem impolutos,porque as pessoas através do seu voto expressam a sua confiança nos mesmos.Neste aspecto os mesmos deverão demonstrar a sua integridade nos seus actos e nestes casos (a suspeição de agressão à esposa), deverão ser postos a "pratos limpos",para que não andemos com o estigma da suspeição.Cumprimentos