quinta-feira, 17 de julho de 2008

A Lili Caneças das Finanças

Havia antigamente uma máxima da política que rezava mais ou menos assim: num governo, os ministros da Economia dão boas notícias e distribuem dinheiro; quanto às más notícias e aos apertos, esses, devem ficar sempre por conta dos ministros das Finanças. Como resultado da aplicação desta máxima, temos que, habitualmente, os ministros das Finanças são os mais impopulares membros de um governo. Não devido a qualquer problema de personalidade ou da sua idiossincrasia pessoal. Mas por força da essência da função. Compreende-se. Cortar no despesismo alheio nunca há-de de ser visto como actividade granjeadora de simpatias. Do mesmo modo que apertar o cinto aos cidadãos, e às vezes até o frágil pescoço dos ditos, será com certeza tudo menos coisa susceptível de algum dia poder ser considerada popular. De maneira que, em regra, qualquer governo normal define a sua estratégia de comunicação e imagem tendo em conta esta realidade. E a coisa funciona de tal modo que o nome dos responsáveis das Finanças é dos poucos que perduram na memória de todos. Descontando algumas aselhas excepções, o dos outros vai-se perdendo do registo da nossa apressada memória.
É verdade, reconheça-se, que há uma grande injustiça e um certo cinismo na coisa. Mesmo um ministro das Finanças merece ser julgado pelos seus méritos concretos, e não em virtude da imagem vampiresca que anda sempre associada à função que desempenha. E até um ministro das Finanças, mau grado todas as malfeitorias que nos possa fazer, merece ser considerado apenas como mais um membro de um colectivo que tem no topo um primeiro responsável. Não é isso, porém, que acontece. Sobretudo em tempo de vacas magras. Nestes, com efeito, o homem que faz subir os impostos (ou que pelo menos não os baixa) acaba por polarizar na sua desgraçada pessoa todas as maçadas resultantes da política definida pelo chefe do governo a que pertence. E quando o lastro de opiniões negativas atinge o insuportável ponto de saturação, o primeiro-ministro, sempre por patrióticas razões, há-de deixá-lo prudentemente cair do arame sem rede onde penosamente passa os dias. E com isso ganha habitualmente novo fôlego para si próprio bem como para o governo que nunca deixou de chefiar.
É claro que isto só funciona assim nas chamadas democracias mediáticas. O peso da opinião pública e da opinião publicada é tal que os governos são obrigados a encontrar estratégias sobrevivência face aos julgamentos com que são diariamente confrontados. Já nas ditaduras, a coisa funciona de forma diferente: ninguém dá a mais pequena importância à dita opinião pública. A qual, de resto, por causa das chatices, faz o possível por permanecer o mais privada possível.
Sinceramente, ao olhar para o que se passa entre nós, fico com dúvidas quanto aos conceitos e à grelha de análise que devo utilizar para caracterizar, a este nível, a política regional. Há opinião publicada, mas ninguém liga rigorosamente nada à opinião pública. Na Madeira, aliás, esse é um escrutínio que ou não conta ou, pura e simplesmente, não existe. O que se traduz até no facto de ninguém sentir a mais leve a necessidade de se dar à subtil maçada de separar a economia das finanças.
Claro que sei que o dr. Cunha e Silva tem a seu cargo a economia e o dr. Garcês as finanças. Mas aqui todos falam mais ou menos do mesmo. O dr. Cunha anuncia obras em catadupa no mais absoluto descaso das verdadeiras circunstâncias orçamentais. E o dr. Garcês fala da nossa economia como se soubesse do que está a falar.
A sua última pérola é a seguinte: na Madeira não há crise porque a nossa economia cresce. Ninguém duvidará que a asserção do dr. Garcês está para o discurso político como a surpreendente afirmação de Lili Caneças, de que estar vivo é o contrário de estar morto, está para a cultura portuguesa. Ainda assim, o dito cujo acaba de proferi-la. Até, imagine-se com um sorriso situado algures entre o alarve e o tolo. O que prova que a Madeira é um exemplo e um caso. Sócrates e, sobretudo, Teixeira dos Santos deviam pôr os olhos e os ouvidos no dr. Garcês. Para verem com que impunidade seriam capazes de dizer, como ele e a Lili dizem, que no país não há crise porque a economia cresce. Menos do que estava previsto, é verdade. Mas cresce. Logo...
A coisa era capaz de dar para o torto? Acredito que sim. De todo o modo, gostava que experimentassem. Quanto mais não fosse para que a gente fosse capaz de perceber por que razão os disparates ditos na Madeira produzem um efeito diferente dos que são ditos em Lisboa.
Será isso por causa da opinião pública? Ou será da publicada?
Bernardino da Purificação

7 comentários:

Anônimo disse...

Já se falou aqui da competencia e incompetencia dos nossos governantes. Penso que se trata de uma velha questão, sem solução à vista, a qual não deixando de ser importante é seguramente menos importante que a problemática da responsabilidade civil e criminal, emergente das decisões dos nossos referidos governantes.
Julgo que hoje não temos dúvidas quanto à branda permissividade do nosso sistema criminal, agravada pela conhecida socialização da moldura penal das penas, dado ser do conhecimento geral que a apropriação por parte de um indigente de uma pequena e quase irrelevante quantia, é juridicamente epitetada de "roubo", quando contrariamente, chama-se de "desvio" igual atitude assumida por honoravel e rico cidadão, que se apodera ilegitimamente de uma quantia milhões de vezes superior à do seu semelhante pobre. Tudo isto, para fazer uma chamada de atenção ao facto dos aludidos governantes, embevecidos no meio das suas vernaculistas e obviamente públicas intervenções, afirmarem as mais díspares e mentirosas barbaridades, sem que mal algum os incomode. Mais concretamente, hoje todos temos mais ou menos a ideia, que o politico, trata-se daquela criaturinha "vestida para mentir, aldrabar, difamar, etc. etc."
Para agravar esta situação e já que estamos a falar de finanças, quando é que se admite numa região dita de civilizada e até de superior,que o seu "independente e laico" director de finanças, visivelmente sequioso da seiva do verdadeiro poder, intervenha de forma pública e ostensiva, num comicio politico do partido que o nomeou profissionalmente para essa honoravel direcção ?
É a tal coisa, há crimes e crimes, tudo dependerá sempre da qualidade do seu autor. Ainda haveremos de regredir ao sistema que somente atribuia o exercicio do direito de cidadania através do plesbecisto, a abastados proprietários.Pelo menos aí, o "reles povo", terá a desculpa que não foi ouvido nem achado !

amsf disse...

Segundo o "nosso" líder AJJ os políticos não têm que responder criminalmente pelas suas acções ou omissões. O povo é soberano e a eleição de um político é um cheque em branco que é ou não renovado de 4 em 4 anos de acordo com a vontade do povo.
Quanto ao sr. Machado, além de participar activamente em comícios políticos do partido do poder tem o hábito de ameaçar deputados que antes de o serem trabalharam sob a sua alçada. Aparentemente não só ameaça mas concretiza a partir do momento em que eles se tornam ex-deputados e voltam ao seu lugar de origem! Sem falar na sua opinião de que baixa do IVA é uma medida eleitoralista no Continente...aqui não!

Anônimo disse...

Pois é, todos sabem que assim é, mas intervir, está mas é calado ...!

Será que algum familiar do Sr. Dr. Machado (com óbvia excepção para o seu Tio, Arqº Fernando Machado, que lhe cedeu com bom desconto um faustoso apartamento) já foi objecto de alguma inspecção fiscal, depois da nomeação deste para tão sinistra direcção ?

Quem fala em familiares, fala também em amigos, os tais deputados, os caciques do PSD (que são mais que a mosca verde na m..da) os "quinhentos" (este pelo menos encontra-se imune à inflacção) e outros quejandos ?

Anônimo disse...

Pois é, todos sabem que assim é, mas intervir, está mas é calado ...!

Será que algum familiar do Sr. Dr. Machado (com óbvia excepção para o seu Tio, Arqº Fernando Machado, que lhe cedeu com bom desconto um faustoso apartamento) já foi objecto de alguma inspecção fiscal, depois da nomeação deste para tão sinistra direcção ?

Quem fala em familiares, fala também em amigos, os tais deputados, os caciques do PSD (que são mais que a mosca verde na m..da) os "quinhentos" (este pelo menos encontra-se imune à inflacção) e outros quejandos ?

Anônimo disse...

e que tal ver como ganham a vida os trindades, do ps...
claro que não fogem ao fisco.

Anônimo disse...

Nem esses, e como também mas não menos o Caldeira, o qual não obstante a sua "pequena" ajuda, apoia o Cavaco na sua prévia campanha, isto depois e antes da execução dos seus "pequenos" negócios na área do laranjal, até o seu "pequeno" filho, estudou ou disse que foi estudar com apoios de...?

Anônimo disse...

Julgo que o termo "vergonha" assim como muitos outros mais, hão-de "semanticamente" serem convenientemente analisados sob a análise fria, cruel e objectiva da nossa "pequena" história!

Agora...quando?

Não se esqueçam que o ditador Salazar, actualmente segunda a nossa independente critica, já passou de um triste celibatário a um reconecido pu..nheiro! E segundo parece a Soraia Chaves, vai esclarecer muito mais...!

Será que a nossa "pequena" e não menos peregrina história, irá daqui a trinta anos, desvendar-nos segredos, que actualmente poderiamos considerá-los "do outro mundo" ?

Será mesmo ?