terça-feira, 8 de julho de 2008

A inconsequência da extravagância

Continuo a achar que os representantes políticos das regiões autónomas deveriam integrar as viagens de estado dos titulares dos órgãos de soberania. Pela imagem de coesão nacional que assim se transmitiria. Pela possibilidade de, em cada uma delas, se dar nota da unidade politicamente diferenciada do país que somos. E pelos canais de diálogo que dessa forma se poderiam abrir no sentido do desenvolvimento e exploração de oportunidades de intercâmbio económico entre a Madeira e os países com os quais Portugal mantém relações privilegiadas.
Acho que o país no seu conjunto beneficiaria com a institucionalização dessa prática. E a nossa condição de território insular e ultraperiférico encontraria nela um meio e um factor adicional aos que já existem de superação dos contrangimentos geográficos que nos penalizam. Ou seja, todos sairíamos a ganhar. Com uma única excepção, como é evidente: a que diz respeito aos políticos que teimam em confundir a saudável e democrática conflitualidade política e partidária com uma nada saudável acrimónia pessoal que conduz a uma quase ausência de relações institucionais com um mínimo de normalidade.
Como já se percebeu, o que motiva este escrito é a recente deslocação do dr. Jardim à Venezuela. Não com o intuito de sublinhar mais uma vez o rotundo fracasso em que se saldou. Mas para apontar a total inutilidade de que se revestiu.
Ninguém sabe, com efeito, que magnas questões levaram o dr. Jardim à Venezuela. O presidente do Governo ainda não as explicou, como julgo que devia. E, em boa verdade, a oposição ainda não foi capaz de agendar um único debate no parlamento para tratar da questão.
É claro que se sabe que o dr. Jardim foi à Venezuela contactar a comunidade madeirense. Mas para quê, com que finalidades, com que resultados concretos? Dirão os crédulos e pios portadores de uma ideia mais ou menos ingénua da política que é importante que a Madeira saiba reforçar os laços com os madeirenses da diáspora. E entendem que com esse profundo asserto arrumam de vez a questão. Enganam-se, claro está. O estreitamento dos laços entre todos os madeirenses já não pode ser feito unicamente pela simbólica via dos afectos delegados na figura do senhor presidente do governo. É preciso muito mais do que isso. É preciso, por exemplo, que esses afectos possam ser o fio condutor de uma ligação cultural, política e empresarial com vantagens recíprocas e duradouras no tempo. Quem tem das relações externas uma visão mais ou menos romântica, um tudo-nada beata, ainda que disfarçadamente hedonista, que se traduz no entendimento de que elas se resumem a umas quantas viagens de lazer disfarçadas de romagens de saudade anda enganado. Ou então, o que é pior, anda a ver se nos engana. A nós que vivemos cá deste lado. E aos nossos conterrâneos do exterior, que têm muito mais que fazer do que ouvir as balelas destituídas de substância de políticos em animadas excursões de quase férias.
Sejamos sérios. O primeiro-ministro de Portugal foi a Caracas há cerca de dois meses atrás. Foi encontrar-se com os portugueses. E foi fazer diplomacia política, cultural e económica. Numa democracia adulta, os representantes políticos da RAM deveriam ter estado lá nessa altura. E o mesmo se diga das nossas representações culturais e empresariais. Mas não. A Madeira política que o dr. Jardim considera que simboliza como expoente único e máximo quis ir lá dois meses depois. E o resultado está à vista: uns bailaricos para ali, uns discursozecos para acolá, e um sabor final a coisa nenhuma. E assim há-de continuar a acontecer. Pelo menos enquanto não aparecer por aí uma ideia séria sobre a inserção da Autonomia que prezamos e queremos aprofundar no seio do país a que pertencemos. No entretanto, continuemos a dar vivas ao folclore político e ao circo mediático que diverte muito e resolve cada vez menos.
Bernardino da Purificação

4 comentários:

amsf disse...

Essa sugestão de "diplomacia" conjunto seria um fracasso para o AJJ pois não lhe permitiria dizer mal de Lisboa e do poder central que governasse pois ele só consegue ser "grosseiro" e corajoso na ausência dos visados! Suponho que a viagem terá tido como objectivo convencer os madeirenses de sucesso a investirem na Madeira e a desaconselhar os "pés rapados" a regressarem!

Unknown disse...

Concordo plemanente com o seu artigo,pois sempre que houvesse visitas oficiais ao estrangeiro,as regiões autónomas deveriam também estar representadas tanto no campo politico como empresarial.Só que, enquanto persistir este ambiente de crispação entre o poder regional e nacional não se vê "toca de onde saia coelho".Cumprimentos

Anônimo disse...

Encontro-me plenamente de acordo com o artigo em questão. Só que o dito peca obviamente por pouco. Senão vejamos, quem com coragem e isenção, contou quantos dias o Dr. Jardim passa por ano na madeira ? Há quantoa anos anda ele a se despedir pelo mundo fora das Comunidades madeirenses. Amigos, não passamos de um rebanho de mansos, essa é que é a pura e dura verdade.
Já me tinha esquecido, desde que tomou posse para o recente mandato, Há um e alguns meses, este governo baixou o IVA da cerveja ! Lembram-se de o dito ter feito algo mais ? Claro que não, o Dr. Jardim, desavergonhadamente passa a vida a viajar à nossa custa. E depois tem a distinta lata de dizer que os impostos estão altos. Claro, têm que suportar as viagenszitas e outros desgovernos deste Senhor Presidente que nos goza valentemente a todos. Que grandes imbecis...nós claro !

amsf disse...

E só não viaja mais por causa das varises! LOL!