segunda-feira, 7 de julho de 2008

Jogos de poder

Jaime Ramos quer luta na sucessão de Jardim. Acha que a liderança do PSD deve ser conquistada e não outorgada. E não teve qualquer problema em dizê-lo, em entrevista ao DN, para que se saiba que não está disponível para nomes impostos ou soluções de consenso.
Como é bom de ver, o secretário-geral da Rua dos Netos falou para o interior do seu partido. Mas dada a substância do que disse, parece-me bem que as suas palavras tiveram com certeza um destinatário particular: nada mais, nada menos do que o próprio Jardim.
Vamos lá a ver. Ramos não ignora que o presidente do PSD há-de fazer tudo para que a sucessão (quando e se um dia chegar) se faça sem drama. Têm sido vários os seus apelos para que os eventuais candidatos se entendam entre si. O que, por outras palavras, significa que Jardim está apostado em esvaziar qualquer aparência de disputa interna.
Não ignorando isso, Ramos sabe com certeza que uma sucessão sem drama há-de ser aquela que Jardim seja capaz de controlar. Ou, dizendo de outro modo, uma sucessão sem drama há-de ser, para Jardim, aquela que ele seja capaz de condicionar. Ora, como se calcula, isso não é coisa que interesse a Jaime Ramos.
Se olharmos com alguma atenção para a vida interna do PSD, resulta claro que Ramos teve sempre o cuidado de se colocar estrategicamente em oposição ao favorito de Jardim. Foi assim com Miguel de Sousa, quando Jardim o indicou como uma espécie de sucessor oficial. É assim agora quando Cunha e Silva aparece publicamente como o eleito do líder. E o mesmo há-de voltar a acontecer quando Jardim puxar um dia o tapete ao Cunha e, em sua substituição, resolver lançar para a ribalta um outro nome qualquer.
Jaime Ramos não brinca em serviço. Ele sabe que detém uma fatia importante do poder interno do partido. Não ignora que um partido sem Jardim há-de ser diferente de um partido com Jardim. Será outro tempo, e serão outras pessoas. E, infelizmente para ele, sabe também que não tem condições, nem objectivas nem subjectivas, para pensar que pode um dia ser líder. De maneira que só tem uma forma de preservar o poder que tem: é colocar-se sistematicamente em oposição ao candidato oficial do momento, acenando ao mesmo tempo o seu interessado apoio a um eventual challenger que ele próprio ajude a criar. Foi isso que fez no passado quando incentivou Virgílio Pereira a aceitar ser uma alternativa a Miguel de Sousa. E é isso também que faz agora quando apoia Albuquerque contra uma eventual candidatura de Cunha.
A esperteza estratégica de Jaime Ramos vai, no entanto, mais longe. Com a intuição e o calo que tem, Ramos não descura a possibilidade de jogar em todos os tabuleiros. É isso que faz, aliás, quem quer andar continuamente na crista da onda. De maneira que precisa de ir dizendo, e cada vez com maior insistência, que não está para aturar qualquer sucessão tutelada pelo chefe. Não para simplesmente bater o pé a Jardim. Mas sim para obrigá-lo, já que não quer disputas nem dramas, a vir cá abaixo negociar com ele os termos da sucessão e o nome do sucessor. Esse é o mínimo dos mínimos que está disposto a aceitar. E assim serão todos felizes para sempre. Menos, é claro, quem vier a ser excluído do testamento ou da partilha.
Bernardino da Purificação
Post scriptum
Fiz hoje pela primeira vez o que pensei nunca ter necessidade de fazer: excluí três comentários ao último texto que escrevi. Acontece que não estou disposto a dar abrigo à ofensa gratuita e ao ataque pessoal. Este blogue pretende discutir ideias e analisar situações e comportamentos políticos. Tudo o que saia deste âmbito não poderá contar nunca com a minha boleia.

3 comentários:

Anônimo disse...

O Sr. Bernardino não passa de mais um analista limitado geograficamente pelos apertados contornos da ilha.
Fala-se em "violencia doméstica" e o Sr. treme logo que "nem varas verdes".
Ó Homem, tenha coragem e assuma a realidade e consequencias deste tragico e peocupante problema existente no meio deste famoso POVO.
É ou não verdade que a denominada VIOLENCIA DOMESTICA, grassa de forma cada vez mais preocupantes no interior dos nossos lares ?
Sem receios ou medos, desafio-o a analisar publicamente este assunto, por forma a que preventivamente possa ser uma ajuda e repressivamente um vergonha para os responsaveis.

Anônimo disse...

Gouveia quebra silêncio
Líder do PS-M destaca "trabalho extraordinário" dos autarcas de santa cruz
Data: 14-12-2007

"Há males que vêm por bem". Foi com esta frase que o presidente do PS-Madeira, João Carlos Gouveia, abordou, ontem, pela primeira vez a crise aberta com a demissão em bloco da Comissão Política Concelhia de Santa Cruz, em resultado da dispensa do assessor Óscar Teixeira pelo grupo parlamentar.

O líder partidário não revelou o que pretende fazer face à posição de força tomada pela estrutura santacruzense nem esclareceu se mantém a confiança política nos demissionários que ocupam cargos em órgãos autárquicos. Aparentemente, João Carlos Gouveia está ainda a avaliar o problema e deverá assumir uma posição mais concreta nos próximos dias.

Ganhar a Câmara em 2009
Ainda assim, já ontem fez um elogio às qualidades de autarca do líder demissionário da Concelhia, Filipe Sousa, e garantiu que, nas eleições de 2009, o PS vai apresentar-se em Santa Cruz "com o objectivo de ganhar a Câmara Municipal com um militante socialista".

"Os autarcas de Santa Cruz e, particularmente, o Filipe Sousa têm feito um trabalho extraordinário, que é reconhecido por todos os madeirenses", afirmou o dirigente máximo do partido da Rua do Surdo, que valoriza o espírito combativo e o esforço do vereador socialista na defesa da legalidade e dos interesses das populações.

Anônimo disse...

Mas afinal o que é que o Dr. Gouveia tem a ver com este assunto ?
Não me digam que o Senhor em questão, também tem tendencias para a falada "violencia".
Não acredito...!