O JM vai voltar a ser pago. Corrijo. O Jornal da Madeira vai voltar a ter preço de capa. Como acontecia há menos de meia dúzia de meses atrás. E como, aliás, nunca deveria ter deixado de acontecer.
Poderia, como é evidente, aproveitar a deixa para sublinhar que, a bem dizer, o JM nunca deixou de ser pago. A generosidade do orçamento regional converteu-o desde há vários anos porventura no jornal mais caro do mundo. Que os leitores têm de pagar duas vezes. E que todos os contribuintes, mesmo os que o não lêem, pagam pelo menos uma vez.
Não vou, no entanto, entrar por aí. Mesmo que venha a propósito e pudesse ser apetecível. E mesmo não ignorando que a manutenção dessa forma de financiamento não é mais do que o perverso instrumento de que se serve o governo da RAM para ilegitimamente controlar a sua orientação editorial. Limito-me, assim, a sublinhar que o episódio resume, no fim de contas, a total ausência de uma estratégia minimamente pensada no sentido da viabilização de um título que deveria merecer um pouco mais de respeito. Sem prejuízo, claro está, de um dia destes poder voltar ao tema com algumas histórias escaldantes que recentemente me contaram.
Que dizer então do anúncio de que o JM vai voltar a ser pago?
Em primeiro lugar, convém sublinhar o óbvio. Como foi o governo, e não a gerência da empresa, a entidade anunciante, isso só pode significar que os comandos efectivos do JM residem algures num eixo que nasce na Quinta Vigia e desagua actualmente na Quinta Vila Passos. A administração da empresa não conta. Existe apenas para ocupar e remunerar dois ou três fiéis servidores. E nada de relevante faz do ponto de vista da gestão criteriosa e cuidada que uma empresa com a dimensão e especificidades do JM seguramente exige.
Em boa verdade, ninguém por um momento terá duvidado que as coisas se passavam assim. Porém, convenhamos: há-de haver um qualquer limite para a ausência de decoro. Não que os gestores públicos que nada gerem possam ou devam sentir-se credores de um respeito que em bom rigor não merecem. Não é isso. Mas como há um limiar a partir do qual a ausência de respeito se transforma em desconsideração e insulto, receio bem que o episódio contribua para afundar ainda mais a já de si depauperada imagem que o JM, malgré lui, nos vem dia a dia reflectindo.
Mas, há mais. Toda a gente sabe que a política do governo relativamente ao JM (exceptuando talvez o período em que o jornal foi tutelado por Pereira de Gouveia) tem sido errática, carente de sentido ou de rumo, ausente de um fio condutor com um mínimo de coerência ou de lógica. E poucos serão os que ignoram que o jornal foi sendo gerido a partir do exterior como se não houvesse amanhã, ou como se não fosse importante, ou sequer possível, autonomizar-lhe a vontade e as contas. Foi assim desde 2000 com João Cunha e Silva. Tinha sido mais ou menos assim antes disso. E voltou a ser assim, desde 2004, com Brazão de Castro. Não obstante, tem-se andado a prometer mundos e fundos. Nuns dias agitando-se a ideia de que há um plano de viabilização em marcha. Noutros dias garantindo-se a existência de um projecto qualquer capaz de resolver os problemas da empresa. Semana sim, semana não, o anuncio de uma ideia nova. Mês sim, mês não, a promessa de um novo e engenhoso plano qualquer. E, como a Madeira é o reino por excelência da irresponsabilidade política, ninguém pede nem presta contas.
Lembro-me há uns anos de ouvir o vice-presidente do governo assegurar perante o parlamento que o JM teria as suas contas saneadas em 2004. Pois bem, o resultado do vice-presidencial plano foi um passivo acumulado de mais de cinco milhões de contos(!!!), e a posterior entrega do presente envenenado em forma de jornal ao secretário Brazão de Castro. E ninguém quis saber - repito, ninguém quis saber - por que raio uma empresa à beira da recuperação e da viabilização, no dizer convicto de João Cunha e Silva, foi capaz de cair no pântano comatoso em que se encontra.
O que veio depois, toda a gente viu. Para chatear alguém, o senhor governo decretou que o jornal passasse a gratuito. E ele passou. Durante um mês, e certamente para acenar alguma coisa aos vizinhos da frente, suspendeu-se a publicidade. E agora, seis meses passados, o jornal volta a ser pago, em obediência a um impulso e não em resultado de qualquer estratégia articulada.
O que parece, em suma, é que ninguém sabe o que é que se há-de fazer com a coisa. De modos que o gratuito que volta agora a ser pago lá vai, pobre dele, definhando nas mãos da corja de irresponsáveis incompetentes que se dão ao luxo de andar a brincar com os milhões de todos.
Bernardino da Purificação
5 comentários:
"[...]há-de haver um qualquer limite para a ausência de decoro."
Esse limite é definido pela complacência da opinião pública madeirense. E como toda a gente sabe não há limites para a falta de decoro do GR desde que este tenha o apadrinhamento do sr. AJJ!
Se o JM volta a ser pago é porque o sr. AJJ já arranjou um testa de ferro para o adquirir!
O emplastro amsf é uma sumidade! Não é que sabe de tudo? Será que ele também parasita outros blogues? Ou é só este?
O GP do PS não apresentou documentação demonstrativa de que as transferências para si realizadas ao abrigo do art.º 46.º da orgânica da ALM, no montante total de € 1.298.943,77 (dos quais € 454.947,74 foram processados a partir de 3 de Setembro de 2006), foram utilizadas nos fins legalmente previstos e utilizou as transferências previstas no art.º 47.º em despesas no montante de € 40.705,79 (dos quais € 40.564,00 concretizados após 3 de Setembro de 2006) que se afiguram contrárias à consignação legal das subvenções atribuídas pela ALM, visto não se destinarem a financiar encargos relacionados com a actividade parlamentar (cfr. pontos 3.2.1.2 e 3.3.-A e B1);
Por falar em parasitar blogues o caro anónimo não se terá esquecido de citar a fonte e copiar o resto.
"O GP do PPD/PSD não apresentou documentação comprovativa de que as transferências recebidas, no montante total de € 3.605.668,36 (dos quais € 1.279.834,29 foram processados a partir de 3 de Setembro de 2006), foram utilizadas nos fins legalmente previstos (cfr. pontos 3.2.1.1 e 3.3.-A);[...]"
in ultraperiferias.blogspot.com
Parece que por agora o DN ganhou a guerra comercial com o JM ao remete-lo para uma impressão máxima de 6500 diários! Falta saber o que concedeu o DN ao GR...uma linha editorial mais suave!?
Postar um comentário