sexta-feira, 4 de julho de 2008

Aquela coisa castanha

Com o devido respeito, o JM faz lembrar aquela coisa castanha que quanto mais se mexe pior cheira. A crueza da comparação não pretende ofender quem quer que seja. Respeito as pessoas. Faço por respeitar as instituições. E procuro não confundir considerações de natureza pessoal com observações de natureza política. Não obstante, a verdade é que o dossier Jornal da Madeira vem assumindo contornos a todos os títulos lamentáveis. Agora ficou a saber-se que esta nova mudança de planos, traduzida na elevação dos preços da publicidade e na devolução do JM ao reino dos jornais pagos, resultou de uma negociação com o DN local. É de bradar aos céus! E ainda por cima anuncia-se a coisa como se de uma coisa séria se tratasse. Haja misericórdia!
Vamos lá a ver. A prática de dumping não só é condenável à luz dos mais elementares princípios reguladores da actividade económica como entra no domínio da batota pura e simples. O que quer dizer que um eventual abandono dessa prática em resultado de uma negociação qualquer com uma empresa concorrente não lhe altera por um segundo sequer a ilegalidade de que está ou esteve ferida. Ora, é preciso acentuar que foi por ordem de um governo, e não por força de uma outra entidade qualquer, que o JM enveredou pelo caminho ínvio da batota. E importa também enfatizar que todas as decisões governamentais não devem, em circunstância alguma, perder de vista o denominado princípio da legalidade que imperativamente as obriga. De maneira que de nada lhe deveria servir esta espécie de estatuto de arrependido que o executivo regional acaba de tentar negociar com o DN. Pelo menos, ao nível da veemente censura política que não pode deixar de ser feita.
O DN opta agora por deixar cair o assunto depois de um arranjo qualquer que a opinião pública conhece mal? É lá com ele. Mas, pelo menos até ver, não é o Diário quem determina a legalidade ou ilegalidade das acções do governo, ainda que travestidas de disparatadas ou mal pensadas deliberações das empresas cuja titularidade detém. Pelo que se espera que alguém faça o favor de brindar-nos com a informação completa sobre todos os contornos da negociata anteontem anunciada em Caracas. Quem é que nos deve as explicações? Claro como a água. Elas devem partir de quem age como se tivesse o direito de intervir no mercado no mais completo descaso das regras mais elementares e ao arrepio de todas as leis. Querem mesmo que vos diga quem? Ok, aí vai. É o governo regional, posto que os nóbregas e os almeidas que andam lá pelo jornal não riscam coisíssima nenhuma, exceptuando, já se vê, as dedadas mais ou menos pegajentas que ocasionalmente colocam nas edições diárias.
Este facto, aliás, tem também muito que se lhe diga. Repare-se. Nos termos da lei, o JM tem um estatuto de empresa pública. Os seus administradores são considerados gestores públicos. E basta consultarmos as leis que regulam a actividade deste tipo de empresas para percebermos que elas têm o dever de realizar o interesse público. Seja no domínio das finalidades decorrentes da natureza do seu objecto social. Seja no domínio da exigência de transparência e rigor que se coloca à sua gestão. Ora, o que acontece no que diz respeito a estes dois aspectos é que toda a gente, a começar pelo governo, se está positivamente borrifando para as múltiplas obrigações legais do JM. Basta ver que quem gere de facto é o governo. Quem define a estratégia é a tutela política. Quem define as regras do jogo é o patrão ausente que se move por caprichos de momento ou por interesses que nada têm que ver nem com a saúde do jornal nem com as finalidades públicas que a lei lhe determina que persiga.
Temos assim, no meu entendimento de céptico, que a negociata agora estabelecida com o DN pensou em tudo menos no que deveria ter pensado. Salvaguardou os interesses do Diário. Teve seguramente em conta os interesses políticos do governo regional. Só não se preocupou um instante sequer com os interesses da empresa pública Jornal da Madeira, que os contribuintes pagam, e cujo passivo de quase trinta milhões de euros todos nós suportamos.
Quem achar que exagero vá perguntar ao dono e director do Tribuna da Madeira quantas vezes, e por que preço editorial, o poder político tentou aliciá-lo com a impressão do JM na gráfica de que é proprietário. E por esta analogia me fico, que as histórias que um dia destes me contaram sobre a utilidade real do JM tresandam a coisa nada sã. O que não belisca, como é evidente, nenhum dos profissionais que têm no jornal o seu ganha-pão.
Mas insisto. Alguém está a dever-nos explicações sobre um negócio de contornos pouco claros. Pelo que a pergunta só pode ser esta: há por aí alguma alma caridosa capaz de pedi-las? E de dá-las?
Bernardino da Purificação

3 comentários:

Anônimo disse...

Presidente da República requereu ao Tribunal Constitucional fiscalização preventiva do diploma de revisão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores

Anônimo disse...

Realisticamente falando, castanho encontra-se todo este ambiente politico que nos consome e nos domina.
Com que então o "balsamo" DN, vai apadrinhar o JM (Jardinismo da Madeira) através do seu inegável "Pravda" (leia-se Jornal da Madeira) ?
Os ilimites da falta de vergonha são verdadeiramente repugnantes.

Anônimo disse...

«Saio hoje (de uma reunião da direcção do PND) mandatado para fazer, até ao final de Outubro, um conjunto de contactos e encontros com pessoas descontentes do CDS-PP e do PSD no sentido de as captar ou convidar a constituir uma força política de direita ampla», disse hoje o líder partidário à Agência Lusa.

De acordo com Manuel Monteiro, o objectivo deste mandato «não é ir fazer um périplo a convidar pessoas a integrar a Nova Democracia, mas convidar pessoas de direita descontentes e saber se estão disponíveis a criar um novo partido».

Escusando-se a adiantar nomes, o líder partidário disse apenas que tem em suas mãos uma lista de 35 pessoas de Norte a Sul do país.

O presidente do PND disse ainda que se esta iniciativa «tiver eco positivo», vai voltar a «propor a extinção da Nova Democracia» e convidar os seus membros a «integrarem a nova força».

«Se não tiver êxito, então o PND terá em Novembro de reflectir se tem condições para ir a votos no próximo ano eleitoral sozinho ou se desiste de ir a votos em 2009», afirmou.

Questionado pela Lusa, Manuel Monteiro disse que parte para a missão de estabelecer os contactos «com uma grande expectativa».

O líder partidário justificou a iniciativa de tentar criar um novo partido com a necessidade de haver uma «direita mais dinâmica e mais fresca», que tenha «um discurso diferente» e «soluções novas» em vez de «remédios antigos».

«O país precisa de uma política de direita alargada que possa ter a coragem de sair deste círculo vicioso do discurso das obras públicas e do assistencionalismo do Estado», sublinhou Manuel Monteiro, acrescentando que «é necessário assumir a falta de uma força política à direita liberta desse discurso».