Ou é impressão minha ou temos um debate urgente a fazer na Madeira. Não acho que esteja a descobrir a pólvora. Longe disso. Reconheço, aliás, que praticamente não temos discutido outra coisa nos últimos anos. Mas como os últimos dias nos trouxeram factos novos, à pertinência do tema veio juntar-se agora o aviso da necessidade de um outro tipo de ponderação.
Como se calcula, estou a referir-me ao problema da extrema dependência da região em relação ao exterior. O assunto, não o ignoro, é recorrente. Porque se relaciona com a nossa condição insular. E porque, nessa medida, é parte integrante do núcleo de fundamentos da autonomia política que temos. E ainda que os temas permanentemente em cima da mesa incorram no risco da banalização, julgo que ninguém conseguiu evitar um sobressalto pela recente exibição pública do nosso isolamento.
Atalhemos directamente a questão. Para recordarmos que o país esteve durante dois ou três dias literalmente nas mãos de duas ou três dezenas de camionistas. E para concluirmos que, pela mesmíssima ordem de razões, a Madeira se encontra literalmente à mercê dos humores de um determinado grupo económico.
O que se passa, de facto, é que os Sousas e os sindicalistas seus associados estão para a RAM como os camionistas estão para o país. Uns e outros têm nas mãos os nossos abastecimentos. E, nessa medida, tanto uns como outros acabam por ser detentores de um poder que ultrapassa os limites do razoável.
O Estado tem instrumentos capazes de conter ou de acomodar esse poder às suas necessidades vitais? Consta que sim. A maçada é que em situações extremas, como as que se viveram há dias no continente, o Estado hesita, embrulha-se, engasga-se. E o resultado foi o que se viu: bombas de gasolina secas; o país à beira do racionamento de certos produtos essenciais; a agro-pecuária lusa à beira de um ataque de nervos; a população em geral insegura e sob a ameaça da carência; e a classe política de repente rendida à necessidade de nos dotarmos de reservas estratégicas.
Como não sou entendido nestes assuntos, ignoro se é exequível ou até mesmo prático equacionar também para a Madeira a possibilidade de constituição desse tipo de reservas. O senso comum e os meus interesses de consumidor que vive numa terra que nada produz dizem-me que sim, que essas reservas não só são úteis como se afiguram mesmo indispensáveis. Porque é sabido que temos pela frente a ameaça de uma crise energética e alimentar à escala global. E porque, como os factos demonstram, basta um simples estremeção para que essa crise larvar e estrutural em que vivemos já assuma picos de carência e dramatismo local.
Suponho, portanto, que alguma coisa tem de ser feita neste domínio por parte de quem tem a responsabilidade pelo planeamento da nossa vida colectiva. Pelo menos, ao nível da informação que é devida ao povo que vota. E ainda que a nossa extrema e total dependência em relação ao exterior, aliada à nossa pequena dimensão territorial, possa traduzir-se na impossibilidade prática de constituição de stocks de dimensão suficientemente tranquilizadora, julgo não ser demais exigir a quem nos governa que vá começando a acertar com o governo central todo o tipo de medidas susceptíveis de colocar as nossas necessidades de abastecimento a coberto de indesejáveis rupturas. Até porque, como diz o povo na sua inquestionável sabedoria, quem vai para o mar avia-se em terra. E eu nem quero pensar no que pode acontecer se um dia dá a louca aos Sousas e aos amigalhaços dos sindicatos da estiva.
Bernardino da Purificação
4 comentários:
Algumas das nossas reservas estratégicas alimentares precisam "apenas" de serem incentivadas. Os agricultores sérios e verdadeiros agradecem! Os outros certamente que também agradeceriam mas esses devem ser fiscalizados de forma mais rigorosa!
"De forma mais rigorosa", somente para os ditos "outros" ? E para os demais, os tais que arrebanhados até acham bem, ir e vir à capital do IMPÉRIO, por preços que em Lisboa, lhes darião direito a uma volta à Europa ? Haja vergonhe, e depois não digam que este GOVERNO defende os Madeirenses. Até que defende os "Madeirenses" dos Trindades e dos Caldeiras, esses bravos "socialistas"
Esses camionistas do progresso, tais como o burgesso do CUNHA (Ediferre) e o analfabruto do TORQUÊS o tal que só fala em inglês do "almirante reis", já apresentaram ao povo pagador(que só é superior de acordo com a mente avinhada e bem aguardentada do Grande Chefe) que jamais pensaram em RESERVAS, atendendo à geostretegica posição da nossa desamparada Ilha Atlantica? Será que essas "cabecinhas" pensadoras, limitaram-se a criticar a greve "metropolitana" dos camionistas, quando aqui, neste maravilhosos universo, dependemos de tudo o que "mexe" ?
Não posso fazer de conta que não percebo que há quem se aproveite ds blogosfera e do anonimato que ela permite para a ofensa gratuita e indiscriminada. Sou contra a censura e a favor da livre circulação de ideias. Mas isso não me impede de solicitar a quem quiser postar comentários o favor ou da contenção verbal, ou da cabal explicação de tudo o que se pretenda dizer. É possível dizer tudo sem o recurso à ofensa. E não há nada pior do que as meias palavras. Gostaria que este pedido fosse levado em conta. Até para se manter o nível.
Bernardino da Purificação
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