terça-feira, 13 de maio de 2008

A trincheira da ilha

Sem surpresa, o dr. Jardim lá voltou a dizer que tenciona ficar prudentemente distante do processo eleitoral interno do PSD. Nunca tive dúvidas de que seria essa a sua posição. E não o digo para reivindicar qualidades analíticas que manifestamente não tenho. Aliás, devo salientar que nem há grande mérito no facto de ter percebido que Jardim ameaça muito mas ousa pouco. É que, desgraçadamente para ele, o tempo e as incoerências transformaram-no num político estrategicamente previsível, apesar da agitação táctica com que gosta de confundir os seus adversários e de que se serve para andar permanentemente instalado no espaço mediático.
O dr. Jardim conformou-se, em suma, com a sua condição de político de dimensão regional. É compreensível. Não só é a única que lhe pode garantir, com suficiente durabilidade, o espaço de intervenção de que necessita. Como nenhuma outra lhe poderia assegurar um trajecto político aparentemente acima das tricas locais. A quem porventura ainda tivesse dúvidas, os factos vieram demonstrar que Jardim nunca trocaria o conforto de um exercício quase expurgado das maçadas da comparação e do contraditório por uma incursão no mundo demasiado exigente da política nacional. É que ele há políticos e políticos. E o dr. Jardim encaixa-se algures na zona paroquial de uma qualquer dessas categorias.
É verdade que, a dada altura, o líder social-democrata madeirense pareceu estar à espera de que pudesse levantar-se uma vaga de fundo. Mas isso, acreditem, foi só aparência. Porque a única vaga de fundo que poderia interessar-lhe é, afinal, aquela de que ele faz questão de parecer arredado. Jardim, estou seguro, está farto dessa entidade difusa que se chama povo. As bases, para ele, têm um valor meramente instrumental e constituem o seu único refúgio de legitimação. Mas o que ele gostava mesmo é que as elites se levantassem em seu nome. E aí sim, ponderaria uma incursão de peito aberto pela política nacional. Mas isso, é claro, não passa de um sonho que a ambição de Jardim há-de continuar a acalentar só para atormentar o próprio Jardim.
Dito isto, resta a questão: afinal por que razão insiste ele em apoiar o candidato Santana mesmo depois de lhe ter assassinado o carácter? A resposta é simples e inscreve-se na linha de raciocínio que venho desenvolvendo. Apoia porque tem que apoiar. Não pode estar com Manuela Ferreira Leite porque assim não passaria de mais um. E não lhe convém a hipótese Pedro Passos Coelho porque esta candidatura aponta ao futuro e Jardim nada mais quer do que andar por aí. Resta-lhe assim Santana. Que tem a particularidade de fazer gala de um discurso basista e anti-sistema. E que, por isso mesmo, casa na perfeição com a estratégia de Jardim. É que estando confinado à condição de político de dimensão exclusivamente regional, o líder madeirense só tem uma forma de fazer-se ouvir na política nacional: é situar-se continuamente no contra. Ora, como dispõe da trincheira que a Quinta Vigia lhe vai continuando a garantir, não precisa em bom rigor de absolutamente mais nada. O seu único problema é o seguinte: são cada vez em menor número os incautos que ainda vão na sua conversa. Como se verifica, aliás, pelo pindérico número de eventuais subscritores de uma sua nunca admitida candidatura à liderança nacional do PSD.
Bernardino da Purificação

Nenhum comentário: