Apetece-me falar da recente visita de José Sócrates à Venezuela. Não para, também eu, alinhar no coro de observações críticas relativas à aventura aero-tabágica do senhor primeiro-ministro. Nem muito menos para comentar as incidências protocolares (adoro eufemismos) de uma visita guiada por um presidente que faz questão de enroupar a política e a diplomacia de algum exotismo - coisa da latitude e dos ares, provavelmente. Mas não. O que me move é outra coisa. É algo muito mais de acordo com a natureza e finalidades deste espaço, e que tem a ver com a natureza das relações institucionais que devem existir entre os órgãos de soberania e os órgãos de governo próprio da região.
Não vi ninguém suscitar a questão. Não obstante, não posso deixar de considerá-la gritante. A comitiva do primeiro-ministro de Portugal não incluiu nenhum membro do governo regional. Dir-se-á: não tinha que o fazer. O governo do país, em princípio, representa todas as parcelas do território nacional. Pelo menos, na vertente externa dessa representação. Só que Portugal é um país com duas regiões autónomas, isto é, dotadas de instituições de auto-governo resultantes de sufrágio directo e com competências num cada vez maior número de domínios. E acontece também que na Venezuela vive uma comunidade portuguesa de cerca de seiscentas mil almas, as quais, na esmagadora maioria, são oriundas da Madeira. De maneira que, mesmo não sendo obrigatório (em meu entender, deveria, mas esse é um outro problema), parece-me claro que o país só teria a ganhar com a inclusão de um representante dos órgãos de governo próprio da Região na comitiva do primeiro-ministro. E o raciocínio é simples: mercê da nossa diáspora, o conceito de país que somos já não é confinável ao rectângulo peninsular ou aos arquipélagos outrora adjacentes. Pelo que só temos a ganhar com a multiplicação dos momentos em que nos podemos encontrar. Não obstante, por uma qualquer razão que me escapa (se calhar, nem tanto), nem sequer tivemos ao menos um Brazão de Castro na comitiva do primeiro-ministro. E isso pareceu-me mal.
É claro que a razão dessa ausência deve ser procurada na relação crispada que se sabe existir entre o governo nacional de Sócrates e o executivo regional de Jardim. Mas é precisamente por isso que ela deve ser mais enfatizada. Porque uma coisa são as relações pessoais. E outra são as institucionais. Ora, toda a gente sai a perder quando as duas dimensões se misturam.
Poderia, como é evidente, entrar aqui em considerações sobre culpas. Não quero alongar-me muito sobre isso. Digo apenas que sei que são sempre precisos dois para dançar o tango. Mas de igual modo não ignoro que a postura permanentemente belicosa do presidente do governo regional favorece e estimula uma crispação que o país não precisa e que nada de positivo traz à Madeira e aos madeirenses. Mas isso, claro, tem a ver com a estratégia pessoal de confronto de que Jardim não abdica por ser a única que lhe vai dando votos, notoriedade, e espaço de intervenção política.
Uma nota final a propósito da inclusão de empresas madeirenses na comitiva do primeiro-ministro. Desconheço o critério de selecção, mas não pude deixar de ver por lá dois ou três apaniguados do partido socialista. Sentir-me-ia mais confortável se as associações empresariais da Região tivessem tido (sei que não tiveram) uma intervenção activa. Tanto no esclarecimento do tecido empresarial da Região sobre as oportunidades que poderão estar a abrir-se na Venezuela para as empresas madeirenses. Como ao nível de uma cooperação efectiva com o gabinete do primeiro-ministro. Mas reconheço que tal nunca poderá acontecer enquanto persistir o actual quadro político de guerrilha institucional e pessoal permanente entre a Madeira e Lisboa. Do mesmo modo que também não me parece que constitua qualquer ajuda a partidarização, que se sabe existir, das direcções das associações empresariais da Região. Houve empresários que romperam essa espécie de bloqueio partidocrático? Honra lhes seja. Espero que consigam fazer bons negócios. Até para que possam servir de exemplo.
Bernardino da Purificação
Um comentário:
Parece que está programada uma visita do "nosso" presidente do GR para Junho pelo que nessa altura os nossos conterrâneos poderão usufruir duma visita específica...certamente que alguns empresários o acompanharão e mesmo alguns dos presidentes de câmara que lá foram recentemente!
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