terça-feira, 6 de maio de 2008

A política do ressentimento

Manifestamente, o PND revela não estar à altura do mandato que o povo da região lhe confiou. Não percebeu o que representou a eleição de um seu deputado. E agora, onde antes existia criatividade e irreverência vai-se arrastando penosamente a boçalidade e a indigência. É pena. Os eleitores que não se revêem nos partidos do sistema perderam o espaço que ajudaram a criar.
Refiro-me, é claro, ao incidente que ontem paralisou o parlamento madeirense. Mas, porque não gosto de chover no molhado, o que quero mesmo dizer é que, contrariamente ao que cheguei a supor, o PND revela ter da política e dos partidos a mesmíssima visão redutora, pessoalizada e pequenina que exibem os restantes agentes políticos regionais.
Passo a explicar. É minha convicção que os partidos se criam e existem para que a sociedade organizada tenha neles um meio de formação e expressão de vontades e ideias. Nessa medida, entendo que os partidos devem estar ao serviço das comunidades e dos cidadãos e não ao serviço de quem simplesmente lhes segura a trela. Penso igualmente que não é preciso estar à espera da chegada de uma qualquer política pós-moderna para defender este modo de ver as coisas. Pelo contrário, estou em crer que os instrumentos filosóficos e conceptuais que a civilização ocidental tem vindo a acumular chegam e sobram para vermos a política com esse nível de exigência. E foi se calhar com essa ingénua esperança que assisti à chegada de um partido novo de gente que me pareceu nova. Pois bem, e mesmo não tendo votado nele, o senhor deputado do PND fez o favor de me fazer acordar para a vida: esta coisa que é a nossa política doméstica não tem qualquer espécie de conserto. Por maior criatividade que alguns ponham na forma, no fundo equivalem-se todos uns aos outros. Cada um vai gerindo o lugarzito que consegue em exclusivo proveito próprio. E, dada a dimensão pouco mais que paroquial do território, ninguém consegue elevar-se um bocadinho acima da querela pessoal, familiar ou de grupo. Ou seja, temos a desavença e o ressentimento no lugar onde era suposto que estivessem a política e as ideologias. E isso não augura nada de bom para a nossa vida democrática.
Voltemos ao PND. Os seus responsáveis não perceberam que chegaram ao parlamento como resultado do estado de saturação que este tipo de política e de políticos vai continuamente provocando. Porque o seu relativo êxito se deveu em grande medida à irreverência com que se apresentaram, devem ter cometido o erro de pensar que o voto que lhes foi dado foi assim uma espécie de cheque em branco que pode ser utilizado como muito bem quiserem e entenderem. Nada, afinal, que os outros também não pensem. Mas o que mais me impressiona em todo este processo de deliberado achincalhamento parlamentar é o nojo pretensamente fidalgo do burguesote dr. Aguiar pelo trabalhinho sujo. Como não quis sujar as mãos, fez-se substituir pelo pobre proletário. E nem sequer percebeu a imensa obscenidade desse gesto.
Bernardino da Purificação

2 comentários:

amsf disse...

A minha opinião só tem em conta o acto em si e não a pessoa do deputado Coelho ou eventuais razões laterais. Se existem discutam-nas em privado e evitem dar tiros nos pés.

Pelo pouco que li sobre este assunto fiquei com a ideia de que a oposição repudiou este protesto. Pois bem, este protesto fez mais pela denúncia da censura de que a oposição é vítima na ALRM do que os eventuais discursos feitos por toda a oposição. Nos tempos que correm a comunicação é tudo e nestas circunstâncias só com iniciativas destas é que a oposição consegue fazer passar a mensagem para o exterior. Parece que alguns deputados da oposição pensam ser pessoas respeitáveis e que este suposto "desrespeito" pela ALRM os fará perderem o estatuto conferido por essa mesma Assembleia. Aqueles que pactuem com o PSD/M na manutenção das aparências não terão o respeito que pensam ter...

Anônimo disse...

eu sinceramente fico é triste. A palavra é mesmo essa. Triste. Por ver como as coisas estão na Madeira. É que o povo não liga. A Assembleia é cada vez mais um circo. Os deputados são figuras ilusórias. E o que fazem lá, ninguém se interessa. Por isso, para aí 5% da população deve dar importância à cena do relógio. De qualquer maneira sempre chama a atenção para quela casa, caso contrário...