O dr. Jardim teve uma boa e uma má notícia neste sábado. A boa foi o resultado a roçar o miserável obtido por Manuela Ferreira Leite na Madeira. A má foi a confirmação de que a ex-ministra das Finanças é a próxima líder nacional do PSD. Entre uma e outra há um deve e um haver que, caso a política fosse uma balança, tenderia para o equilíbrio. Mas, como não é, o mais certo é que a esta hora o dr. Jardim esteja recolhido a fazer contas de cabeça para ver se consegue ganhar alguma coisa mesmo onde acabou por perder em toda a linha. E ainda que seja prematuro fazer grandes considerações sobre os resultados eleitorais do PSD numa perspectiva puramente regional, parece-me possível, no entanto, deixar já alinhavadas a duas ou três ideias, correspondentes a outras tantas pistas de reflexão.
Parece-me, em primeiro lugar, que o dr. Jardim enfrenta a partir de agora a pior conjuntura política nacional de que tenho memória. Cavaco Silva está em Belém. O seu clone mais novo lidera o partido socialista e o Governo. E agora acaba de ser eleita presidente do PSD uma espécie de Cavaco de saias, alguém que nada quer com o populismo, e que, ao contrário, não é capaz de dar um passo sem a certeza das contas certas. Não sei, com franqueza, a quem poderá recorrer o dr. Jardim nas suas costumeiras lamúrias contra o rectângulo. É que se até agora essas lamúrias sempre conseguiram obter alguma guarida junto da direcção nacional do seu partido (mesmo ao tempo de Marques Mendes), a partir de hoje não creio que a roda livre das suas eternas reivindicações venha a conseguir um eco efectivo junto de alguém com o perfil de Manuela Ferreira Leite. O dr. Jardim vai precisar de muito talento e de todo o seu tempo para tornear as dificuldades que se prefiguram. Tenho dúvidas é que ainda lhe sobre algum módico de pachorra para o necessário jogo de cintura que as novas circunstâncias lhe exigem que ensaie.
Nem tudo foi mau, no entanto. Manuela Ferreira Leite não chegou aos trinta e oito por cento dos votos. E na Madeira nem chegou aos cento e cinquenta votos. Uma vez que não pode deixar de tentar unir o partido em torno da sua liderança, pode acontecer que a líder eleita se sinta na necessidade de estender algumas pontes susceptíveis de facilitar a sua relação com Jardim. Não creio, no entanto, que o seu perfil pessoal e político a faça trocar convicções por eventuais conveniências. Até porque num ponto qualquer do futuro próximo, o dr. Jardim há-de encarregar-se de demonstrar, por força de um tropismo a que não consegue furtar-se, que os negócios consigo são não só complicados, como chegam por vezes a ser politicamente inconvenientes. De resto, há-de ter algum significado qualquer o facto de Manuela Ferreira Leite ter sido a única candidata a resistir à tentação de vir à Madeira prometer a Jardim o que ele tanto gosta de ouvir: isto é, uma Autonomia crescente sem contas nem preço, assim como quem promete "bacalhau a pataco". Foi isso que vieram cá fazer todos os restantes candidatos. Foi isso que se recusou fazer a líder agora eleita. O que, obviamente, não é destituído de significado político.
Bernardino da Purificação
3 comentários:
Uma ponte que a nova líder poderá lançar a AJJ será "nomear" Guilherme Silva como líder parlamentar e assim evitar que o "nosso" líder conspire para a derrubar e ocupar o seu lugar antes das legislativas de 2009! Suspeito que AJJ ainda não tenha desistido da ideia de ser levado em ombros à presidência do PSD e isso só poderia ser alcançado enfraquecendo ainda mais o partido. Por outro lado, Guilherme Silva como líder parlamentar poderia cair na tentação de ser a voz do seu chefe regional o que não cairia bem no eleitorado continental aumentando assim a hipótese de Sócrates conseguir uma maioria absoluta.
Na Madeira, a nova líder só conseguiu 144 votos ou seja 7,6% !
Enfim... tromentos?! O Jardim consegue dormir bem e esse não ser nenhum tormento!
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