Vi tardiamente o periódico e mais ou menos ignorado diálogo que travam na nossa TV os drs. Guilherme Silva e Maximiano Martins. Sob a moderação da senhora dona Lília Bernardes, os dois deputados à Assembleia da República cruzam argumentos e trocam ocasionais galhardetes, tudo com o propósito indisfarçável, embora inconfessado, de ficarem bem um com o outro sem ficarem mal com os respectivos chefes. É um xarope dos antigos, mas às vezes até chega a ter graça: salamaleques para aqui, cumprimentos para acolá, e, no meio, a dona Lília embevecida com tão cordata manifestação de bloco central. Deve ser um regalo moderar uma converseta já de si moderada. A indigência chega ao ponto de nenhum deles achar que se deve preparar devidamente. Nem o dr. Guilherme. Nem o dr. Maximiano. Nem mesmo, imagine-se, a senhora dona Lília. Como mais uma vez ficou demonstrado.
No último programa, falou-se a dada altura do preço dos combustíveis. E, para meu espanto, dei comigo a ouvir o dr. Guilherme Silva dizer, sem sorrir nem pestanejar, que, apesar das diferentes taxas de IVA praticadas, os preços na Madeira são iguais aos do continente por causa do custo dos transportes. Remexi-me no sofá e aguardei: de certeza que o dr. Maximiano haveria de explicar ao seu cordial companheiro de programa que as coisas não são bem assim. Debalde. O dr. Martins deixou passar a sentença como se da mais pura das verdades se tratasse. As minhas esperanças voltaram-se então para a dona Bernardes (até pelas nossas afinidades de nome). Bom, a coisa foi ainda pior. Nem um mas, nem um argumento contra, nem um sinal de que possa ter havido um mínimo de trabalho na preparação do programa em causa. Lamentável.
Reafirmo então o que já tive ocasião de escrever aqui no Terreiro da Luta. Os preços na Madeira são iguais aos do continente porque o governo quer que assim seja. Mas não deveria querer. Porque é significativa a diferença entre o IVA praticado na Madeira e a taxa em vigor no rectângulo. E porque o sobrecusto do transporte não consome nem metade desse diferencial. De maneira que, insisto, alguém anda a ganhar balúrdios à nossa custa. E o governo sabe e deixa. Como aliás muito recentemente reconheceram na Assembleia Legislativa o líder parlamentar do PSD, Jaime Ramos, e o secretário regional das Finanças, Ventura Garcês. Aliás, bastaria que alguém se lembrasse desse simples facto para que nem o dr. Guilherme tivesse a lata de dizer o que disse, para que nem o dr. Maximiano cometesse o erro de permitir que uma informação errada passasse como verdadeira, e para que nem a dona Lília fosse capaz de ficar tranquilamente sentada no cadeirão sem o sobressalto da jornalista que se orgulha de ser.
O que vale é que praticamente ninguém vê o fraterno e inócuo encontro de amigos que a TV nos serve lá de vez em quando. Porque assim podem todos (participantes e apresentadora) continuar a fazer o papel que fazem sem as maçadas do escrutíneo ou até mesmo da crítica.
Bernardino da Purificação
8 comentários:
É a minha vez de me remexer no sofá pela segunda vez com a afirmação de que os preços dos combustíveis na Madeira são iguais aos do Continente. Pelo que percebi o blogger deste espaço só não concorda com a justificação não pondo é causa a falsidade da afirmação. Vejo que não são apenas os deputados a não olharem para o preço quando abastecem a sua viatura. Felizmente que na Madeira os preços são inferiores aos do Continente e não iguais! Claro que os dos Açores são muito mais inferiores por via de um ISP e IVA inferiores!
Bem, pelos vistos, o meu amigo Bernardino da Purificação arranjou um emplastro. Será que o sr(a): amsf não preferiria escrever no seu próprio blog em vez de melgar o Terreiro da Luta? Apre!
Suponho que o seu "amigo" não gosta de falar sozinho e se gosta só tem que fechar o blog aos comentários! Antes emplastro que voyeur! Chamo-o voyeur porque é primeira vez que se manifesta e porque a minha presença parece só o incomodar não pelo conteúdo argumentativo que não percebi que tenha posto em causa mas apenas porque lhe tapo a vista!!!
Vá lá, portem-se bem, com elevação. Como não passei procuração a ninguém, espero que ninguém ouse vir em minha aparente defesa. Não preciso de presentes envenenados. Quanto à questão dos combustíveis, quero dizer ao "amsf" que se o seu rigor assim o exige, então reconheço: os preços na Madeira são virtualmente iguais aos do continente. Podem diferir em meia dúzia de cêntimos, mas isso não tem nada a ver com qualquer questão de natureza fiscal específica da Região. O facto deve-se em exclusivo à política de preços dos operadores que actuam no nosso mercado. Os preços devem ser comparados entre os que esses praticam e não com os que operam no continente e não operam na Madeira. Do mesmo modo acho errado que, na comparação, se atendam a preços médios, uma vez que se sabe que há muito mais operadores no rectângulo do que entre nós.
Recapitulando: se não gosta da expressão "preços iguais aos do continente", então fique-se com esta: "preços virtual e tendencialmente iguais aos do continente".
Se nem assim ficar satisfeito, então faça o favor de nos explicar a que é que ficam a dever-se as migalhas de diferença que ocasionalmente podem existir entre cá e lá. Já agora, sugiro que leia o DN local de hoje.
Bernardino da Purificação
Ainda não li o DN de hoje mas diria que a diferença pode dever-se a uma taxa que na República é aplicada em favor das Estradas de Portugal e de uma outra a favor da reflorestação (?). Na Madeira a taxa que serve para alimentar a nova empresa Estradas da Madeira já está incorporada no ISP!
Quanto à diferença serem migalhas, isso depende dos rendimento de cada um. Uns quando comparam preços dão atenção aos cêntimos, outros penas ao Euro, e haverá quem só note diferenças na casa de dezenas de euro. Como vê serem migalhas ou não depende da situação de cada um.
Como é evidente a diferença de IVA também contribui para essas "migalhas"!
Creio que deve estar a faze uma confusão qualquer. Na República, como diz, não há quaisquer taxas adicionais ao ISP e ao IVA. O que se passa é que, em sede de orçamento de estado, uma parte da receita do ISP é canalizada para as Estradas de Portugal.
Quanto ao IVA, posso assegurar-lhe que em nada contribui para a ocasional diferença de migalhas que possam verificar-se entre os preços médios praticados na Madeira e os praticados no rectângulo.
Oportunamente, trarei a este blogue os números com base nos quais se definem os preços ao consumidor na Madeira. Do mesmo modo, contarei mais uma história sobre essa questão no mínimo suculenta.
A verdade é que independentemente dos impostos o preço estabelecido é aquele que pode dar mais lucro sem por em perigo as vendas! Uma descida dos impostos faria numa primeira fase os preços descerem proporcionalmente no entanto rapidamente retomariam a subida. Independentemente da subida ou não dos factores de produção as "gasolineiras" procurariam no seu histórico recente qual o preço máximo a que conseguiram vender sem com isso reduzir a procura. Porquê baixar os preços se com isso não provocam aumentos significativos no consumo de cada cliente, não "roubam" uma fatia significativa da clientela da concorrência, nem atraem consumidores que antes não consumiam combustíveis!? Objectivamente, baixar os impostos seria aumentar os lucros das "gasolineiras"! Só faz sentido baixar os impostos se for possível "obrigar" as "gasolineiras" a respeitarem determinados valores que tenham que ver por exemplo com a evolução futura dos preços do crude. Seria interessante verificar se os preços nos Açores reflectem integralmente a redução dos impostos.
Dito isto, deixemos os políticos usarem a subida dos preços dos combustíveis como arma de arremesso cá e lá! Se a oposição cá fizer o "exercício" intelectual que acabei de realizar não espere que a oposição lá tenha a honestidade intelectual de o fazer. Infelizmente a política é assim porque raramente a honestidade compensa!
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