domingo, 1 de junho de 2008

O dever de informar

A notícia é, como se verá, mais uma vez o silêncio de Jardim. Ninguém sabe dele. Como sempre acontece nas suas cada vez mais frequentes ausências, há-de ter chegado uma breve nota à comunicação social com a informação de que sua excelência se ausentou a fim de participar numa reunião qualquer de um daqueles organismos europeus que reflectem sobre a política regional da UE. E como invariavelmente sucede, a comunicação dita social absorve a informação, divulga-a numa pequeníssima nota de dois parágrafos, assim como quem cumpre uma espécie de ritual de desobriga, e considera com isso o assunto encerrado. Alguns dias depois, sua excelência volta (ele ainda consegue a proeza de voltar!). Não obstante, ninguém lhe arranca uma sílaba sequer sobre o objecto virtuoso da sua inadiável deslocação. E nós, claro, vamos ficando sem saber o que é que afinal anda o nosso presidente a fazer em Bruxelas, em Estrasburgo, ou sabe-se lá onde mais.
Dir-se-á: a culpa não é dele. A tal comunicação supostamente social é que, pelos vistos, não quer saber que candentes problemas anda a tratar o dr. Jardim lá nas lonjuras das capitais europeias. E eu, crédulo, até sou capaz de acreditar: se calhar, com efeito, a culpa é da redutora confusão há muito estabelecida entre notícia e sound byte. Ou seja, pelos vistos só é jornalisticamente relevante o que pode dar um título mais ou menos apelativo, ou uma frase mesmo a calhar para abrir os noticiários da rádio ou da TV. O resto conta pouco ou nem chega sequer a contar. E como aqueles senhores mais ou menos reformados com quem o dr. Jardim diz que periodicamente se reúne não dizem nem fazem nada de verdadeiramente interessante, a rapaziada dos jornais e dos outros meios nem sequer se lembra de incomodar as meninges de sua excelência com perguntas que não levariam com certeza a lado nenhum.
Pode ser. Até posso compreender o fenómeno, mas não deixo de achar mal. Até porque não creio que a eventual ausência de perguntas possa isentar o dr. Jardim da responsabilidade de esclarecer o seu povo quanto ao que em seu nome possa andar a tratar. Aliás, desde quando é que sua excelência alguma vez necessitou de perguntas para se fazer ouvir sempre que tal lhe apeteceu? Nunca, como todos sabemos. De maneira que não lhe ficava mal que periodicamente nos informasse sobre os superiores desígnios das suas cansativas deslocações. Quanto mais não seja, para lhe podermos agradecer o esforço quinzenal, ou perto disso, a que despojadamente se entrega.
É verdade que mergulhei nesta reflexão ao dar conta que o dr. Jardim é o único dirigente de peso (salvo seja) que ainda nada disse a propósito da esperada vitória de Manuela Ferreira Leite nas eleições internas do PSD. Até parece que, inconscientemente, eu próprio estarei à espera de um sound byte qualquer. Mas é verdade também que esta reflexão já me levou a verificar que o dr. Jardim é igualmente o único político e governante cá da terra que ainda nada disse sobre a liberalização das rotas entre a Madeira e o continente, ou sobre a escalada dos preços dos produtos petrolíferos. Ora, convenhamos, já começam a ser omissões a mais.
O essencial, no entanto, não é isso. O essencial é que todos temos o democrático direito de saber o que é que o presidente do governo anda afinal a fazer nas suas andanças quinzenais. Não em virtude de qualquer curiosidade mais ou menos voyeurista. Mas porque ao nosso democrático direito de saber que passos dão em nosso nome aqueles que nos governam, corresponde o dever igualmente democrático desses governantes nos prestarem contas. Seja por sua vontade expressa, seja por intervenção e iniciativa dos media. De maneira que, não havendo explicações, teremos de concluir que sua excelência andará certamente a passear, posto que nada de relevante tem para nos dizer depois das suas cada vez mais frequentes saídas. A menos que prefira que pensemos que se está positivamente nas tintas para nós. Entre uma e outra hipótese venha o diabo (cruzes, canhoto, t'arrenego) e escolha.
Bernardino da Purificação

2 comentários:

amsf disse...

O dr. Jardim já é um "senador" entre os políticos e burocratas da União Europeia pelo presumivelmente deve andar a discutir o futuro da Europa. Não é de esperar que por cada saida do dito senhor venha para a Madeira uns milhões de euro.

Anônimo disse...

É chato comentar depois do emplastro, mas é o que se arranja. Voyerista? Mas, que haverá de excitante numa reunião de tipos fora de prazo? Podia esclarecer?