quarta-feira, 28 de maio de 2008

A mãe de todas as culpas

Já deu para perceber que a tão propalada liberalização do espaço aéreo entre a Madeira e o Continente se limitou a uma liberalização dos preços. Pelo menos, por enquanto. Isto é, a pretexto de uma salvífica entrada em cena de novos operadores, motivados pela necessidade de acabar com um oneroso monopólio da companhia de bandeira portuguesa, e em obediência ao princípio liberal de que só a concorrência pode garantir mais voos a preços mais baixos, os responsáveis políticos a quem vamos entregando a responsabilidade de nos governar a vida conseguiram uma enorme proeza: para a generalidade dos madeirenses, sejam residentes, sejam estudantes, os preços dispararam de forma indecorosa, o número de voos mantém-se inalterado, e, em matéria de novos operadores, vamo-nos contentando com notícias ocasionais sobre o alegado, mas nunca concretizado, interesse de algumas low cost. E, como em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, lá vamos assistindo a esse espectáculo, a todos os títulos degradante, que consiste numa nada ingénua distribuição de responsabilidades e culpas.
É evidente que é preciso identificar os responsáveis desta catastrófica situação. Porém, acho que, nesta fase, o mais importante mesmo é encontrar soluções. Isto, claro, se as doutas e histéricas cabeças que aí andam a terçar argumentos mais ou menos estridentes tiverem a capacidade e o interesse em fazê-lo.
Já toda a gente percebeu que a liberalização das rotas aéreas entre a Madeira e o Continente resultou de um pedido feito pelo Funchal a Lisboa. Já toda a gente sabe igualmente que a formulação de tal pedido foi antecedida do trabalho de um grupo de experts regionais da coisa. E, do mesmo modo, já toda a gente percebeu que o Governo regional considera que a sua conduta foi imaculada em todo este processo. Basta ler e ouvir com a devida atenção o que o executivo de Jardim tem dito pela voz autorizada da secretária regional com o pelouro dos Transportes para dissiparmos eventuais dúvidas quanto à competência negocial que o governo da Madeira se atribui e presume.
O problema é que os resultados dessa negociação são os que infelizmente se conhecem. E a maçada é que, entretanto, alguns quadros intermédios da estrutura social-democrata desataram a verbalizar o desconforto que toda a gente sente. De maneira que vamos sendo obrigados a aturar um duplo problema: de um lado, temos os efeitos profundamente nefastos de uma liberalização mal negociada; num outro, vamos assistindo, incrédulos, à esquizofrenia de um governo que se gaba de ter negociado o melhor, mas que, ao mesmo tempo, dá carta branca a alguns arvorados porta-vozes para que digam mal do resultado dessa negociação. Convenhamos que é dose...! Bom seria, como diz o outro, que se organizassem.
Insisto. A mim, e a todos os madeirenses, o que dava mesmo jeito é que as passagens aéreas que me (nos) podem levar ocasionalmente daqui para fora voltassem a preços decentes. Não só por isso ser justo. Mas também por ser economicamente vantajoso para a região, sem embargo de admitir que o actual estado de coisas pode fomentar a entrada sazonal de operadores aéreos diversos dos actuais. Mas é com alguma incomodidade (quase a roçar o nojo) que vejo as jogadas subreptícias, que por aí já se desenham nos meios social-democratas, no sentido de fazer rolar a cabeça da secretária do Turismo e Transportes. Não tarda nada, ainda vamos vê-la acusada de defender uma liberalização que só teve em conta os interesses do Turismo madeirense. Mas não foi isso que os seus pares do governo (e os interesses que à sua volta gravitam) lhe pediram? Ou, dizendo de outro modo, não se estava mesmo a ver que esta ideia abstrusa de dar o Turismo e Transportes a um e a Economia a outro ainda iria acabar mal? O resultado está à vista. Para alegria escondida do dr. Cunha e dos seus dedicados prosélitos. E para irritação tardia de quem se deixou ir no engano. Entretanto, o dr. Jardim lá vai andando alegremente, sabe-se lá para onde, com a certeza de que há sempre um incauto prontinho a enfiar a carapuça das culpas da notória ausência de uma política regional estruturada e capaz de articular devidamente todos os seus sectores. Falta-nos um desígnio, é o que é. Daí o permanente experimentalismo de aprendiz de feiticeiro em que tristemente andamos. É essa a mãe de todas as culpas.
Bernardino da Purificação

Um comentário:

amsf disse...

A verdade é que esta bolha petrolífera, que contribui em muito para o aumento dos preços das viagens, não veio na melhor altura. A liberalização em qualquer ramo da economia só é vantajosa para o consumidor desde que haja outros concorrentes dispostos a disputar o negócio. Apesar dos "altos" preços não se tem conhecimento público de empresas de aviação em partilhar o mercado! Volta TAP "monopolísta" estás perdoada!