Porque vai continuar na ordem do dia da política regional (muito mais desta do que da nacional), volto ao tema da putativa candidatura de Alberto João Jardim à liderança do PSD.
Quem se tiver dado à maçada de acompanhar as reflexões que tenho feito aqui no terreiro da luta, percebeu com certeza que não acredito, nunca acreditei, que o dr. Jardim admita, ou tenha admitido, ser candidato à direcção nacional do partido a que pertence. Pelo menos, desta vez.
Aceito que, nesta fase da sua vida política, Jardim possa não pensar noutra coisa. Não obstante, creio firmemente que, no seu exame de cenários e circunstâncias, o líder madeirense percebeu de imediato que não é este ainda o seu momento.
O que tem feito então o dr. Jardim: andado a brincar aos avanços e aos recuos, só para ir entretendo o fastio e o ócio que na sua conduta cada vez se percebe mais? Não, claro que não. Mesmo a despeito da sedução que nunca escondeu pelos aspectos lúdicos e puramente cénicos do jogo político. Mas então como explicar o aparente paradoxo da frenética acção dos últimos dias? Sem a presunção das teses acabadas, o que me parece é o seguinte: Jardim quer, de facto, ser líder do PSD; não só quer, como acha que um dia pode vir a sê-lo; não desconhecendo as linhas de fractura que minam a coesão do partido, sabe que é estratégica e tacticamente mais avisado aguardar que se vão progressivamente anulando, até pouco ou nada restar delas; percebe, por outro lado, que depois de uma experiência populista mal sucedida, o partido tem de passar necessariamente por uma solução política e mediaticamente mais susceptível de ser levada a sério (ainda por cima, com Cavaco, vigilante, a espreitar do seu gabinete de Belém); e não ignora também que uma sua saída precipitada e prematura deixaria atrás de si, na Madeira, um rasto de caos, de que se conhecem já, aliás, alguns afloramentos tão indigentes quanto patéticos. Isto é, Jardim sabe, em suma, que o PSD não está ainda suficientemente maduro para que possa tentar apanhá-lo sem riscos escusados. De maneira que, na minha modestíssima opinião, o líder insular não estará a fazer mais do que (espero que ninguém se incomode com o sabor agrícola da analogia) tentar colocar o seu alvo (a presidência do PSD) na estufa de um amadurecimento suficientemente rápido para poder apanhá-lo daqui a pouco mais de um ano.
É isso que penso: Jardim aposta tudo no rápido desgaste da solução que vier a sair destas próximas directas. Mas, para que possa ser ele a capitalizar esse desgaste, tem de deixar aos militantes do PSD (e até aos da restante direita) a ideia de que ele, e só ele, os advertiu dos tempos de desgraça que hão-de agora seguir-se aos tempos da tragédia menesista-santanista; e de que ele, e só ele, pode fazer a unidade mobilizadora capaz de recuperar o partido (e a restante direita) da previsível derrota eleitoral marcada para o próximo ano. Até porque nessa altura já não sobrarão nem Meneses, nem Santana, nem Ferreira Leite, nem outro qualquer representante da tralha cavaquista-barrosista. E ainda que, eventualmente, haja depois que contar com Rui Rio, Pedro Passos Coelho, ou mesmo Rebelo de Sousa, Jardim achará que essas são contas para fazer na altura devida. O que é preciso é que não esqueça o maior de todos os seus adversários: ele próprio. Porque há muito ainda a fazer (se é que alguma coisa pode ser feita) para destruir a imagem grotesca de um Jardim em cuecas, de dedo do meio elegantemente em riste, proferindo, com toda as letras, as indecorosas palavras: eu quero é que a Assembleia da República se f... É verdade que esta é uma imagem de Carnaval. Mas quem disse que o Carnaval não é quando o homem quiser...?
Bernardino da Purificação
Um comentário:
"Só" reafirma o que já escrevi abaixo:
"Não me parece que se possa ter a certeza de que Jardim não se venha a candidatar...neste momento ele está a fazer tudo o que pode para que o PSD se afunde e ele apareça como um unificador das várias facções que nos próximos dias vão-se degladiar na comunicação social..."
26 de Abril de 2008 00:19
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