domingo, 27 de abril de 2008

Falta de comparência

A oposição política da Madeira é especialista em faltas de comparência. Está lá, mas é como se não estivesse. Anda por aí, parafraseando o inefável Santana, mas é como se não andasse em lado nenhum.
Eu sei que ela existe. Posso até jurar que já a vi umas três ou quatro vezes. Só que, por mais que me esforce, não lhe consigo recordar um golpe de asa, uma ideia.
Sejamos justos: a oposição na Madeira é com certeza um lugar perigoso. Sobretudo para quem não tem a mais pequena pachorra para o enxovalho constante, para me ficar apenas pela mais benigna das medidas de retaliação a que estão sujeitos os que resolvem dar uma expressão pública e política à sua discordância. Só que não me parece que esse facto desonere quem por lá anda da responsabilidade do trabalho e da competência.
Repare-se. O dr. Jardim anda há mais de uma semana a dar pública nota de que as suas preocupações se resumem a ele próprio, à sua carreira política, à reforma que considera ter direito, e ao prémio carreira que, por achar que merece acima de todas as coisas, é capaz de colocar à frente de outros interesses mais relevantes. E a oposição que faz? Nada. Limita-se a observar em silêncio, os crentes pondo velinhas aos céus para que o homem vá mesmo embora, os menos crentes acariciando a ideia de uma eventual partida como uma espécie de benção do destino, e os descrentes de todo limitando-se a procurar nas cartilhas o ensinamento dos clássicos para contingências semelhantes. Só que, entretanto, o dr. Jardim vai ocupando sozinho o espaço mediático regional. E, em consequência, pelo menos a manter-se o actual estado de coisas, só ele beneficiará com a manobra de comunicação que tem montada sobre o terreno. De que forma? Simples: deixando a ideia de que está claramente para além, e acima, da nossa política mais ou menos paroquial; ou então (que me seja permitido o futebolês), fazendo circular a impressão de que joga para um campeonato duma divisão superior. Ora, é preciso que alguém recorde à oposição uma realidade tão singela quanto esta: embora primacialmente apontada para o espaço mais vasto da política nacional, a manobra político-mediática do dr. Jardim tem de ter necessariamente uma leitura regional, que ultrapasse o mero e restrito universo social-democrata. Não apenas por nela estarem envolvidos meios do Governo. Mas sobretudo por conter zonas de sombra que importa esclarecer.
Alguém sabe, por exemplo, se o dr. Jardim pensou nas consequências regionais de uma sua eventual candidatura à liderança nacional do PSD? Por exemplo, caso ganhasse, quem ficaria no seu lugar no Governo? Haveria eleições antecipadas? Se sim, quando e com que candidato a presidente por parte do PSD? Já agora, com que programa? E a estabilidade política de que o PSD-Madeira assegura ser o único agente e garante? E a Autonomia? Como poderia ser ela perspectivada nesse novo quadro político? Passariam, o dr. Jardim e o PSD, a defender o estado unitário? Avançariam, ao invés, para a ruptura constitucional? Se sim, de que maneira e com que parceiros políticos?
Como se calcula, o elenco de questões com as quais Jardim deveria ser confrontado não se esgota neste singelo e apressado enunciado. O problema é que nem estas nem outras quaisquer foi a oposição ainda capaz de formular. E assim sai sempre a perder. Porque se o tivesse feito, não só embaraçaria o dr. Jardim, como repartiria com ele o espaço mediático. Mas mais do que isso: se o tivesse feito não permitiria que os eleitores pudessem pensar que temos uma oposição gazeteira ou uma oposição demissionária.
Bernardino da Purificação

Um comentário:

amsf disse...

A questão é complicada. Por um lado poderá haver falta de visão da oposição no entanto é verdade que esta não tem o espaço mediático que o AJJ possui para difundir a sua mensagem. Não basta que a oposição conquiste tempo nos meios de comunicação social é necessário que ela possua pessoas que junto da opinião pública tenham alguma credibilidade. Não basta saber falar e ter algo de excepcional para dizer, é necessário também que o nosso ouvinte não tenha anti-corpos ao emissor e à mensagem. Ao AJJ qualquer acto ou coisa que diga são-lhe logo creditadas intenções superiores...Uma asneira transforma-se num acto de suprema inteligência simplesmente porque o seu auditório é amigável...um membro da oposição por mais coerente e inteligente que seja é ou ignorado ou analizado de forma doentiamente suspeita...
Um receptor típico não é racional mas emocional! A opinião pública conquista-se pelas emoções e não pela inteligência!