sexta-feira, 11 de abril de 2008

A estátua de Jardim

Como se pode verificar pela sua mais recente proposta política (a da erecção de uma estátua de cinquenta metros de altura, de homenagem ao dr. Jardim), o PND do dr. Baltasar Aguiar considera que o humor, em versão mais ou menos hiperbólica, mais ou menos disparatada, é a melhor forma de combater o denominado "regime jardinista". Lá terá as suas razões para pensar como pensa. E o facto de agir em conformidade não é mais do que uma das expressões da liberdade que a democracia a todos garante e que ninguém (?) quer ver mitigada. Ainda assim, e apesar de não pretender condenar-lhe os gostos ou censurar-lhe as ideias, não resisto a dois ou três reparos que a minha consciência democrática me dita. Os seguintes.
O dr. Baltasar Aguiar não é um cidadão qualquer - é um deputado à Assembleia Legislativa da Madeira. Por resultar da expressão da vontade dos madeirenses, a Assembleia Legislativa é o mais importante órgão da nossa Autonomia política. E se a sua condição de deputado lhe confere uma capacidade de intervenção que os cidadãos não eleitos não têm, impõe-lhe também, e de forma correlativa, um acréscimo de deveres. Pugnar pela dignificação das instituições parece-me constituir um desses deveres.
Mais. O dr. Baltasar Aguiar candidatou-se à Assembleia Legislativa da Madeira porque bem quis e entendeu. Ninguém seguramente o forçou. Nem sequer, estou certo, o Manuel Bexiga que animou a sua criativa, bem humorada e bem sucedida campanha. Acontece, porém, que não me recordo de ter ouvido dizer que o achincalhamento das instituições autonómicas fazia parte do seu programa político.
Ora, é justamente neste conjunto de motivos que se situa o meu reparo: o dr. Baltasar Aguiar, com intenção ou sem ela, de forma planeada ou irreflectida, alinhou com todos aqueles que quase diariamente mais não fazem do que diminuir constantemente a imagem do parlamento. E isso, como compreenderá, não pode passar sem uma nota de reparo.
Entenda-se que esta observação não tem nada a ver com o facto de o dr. Baltasar ter escarnecido ou pretendido escarnecer do dr. Jardim. Nada disso. Ninguém, aliás, pode negar ao Dr. Baltasar o democrático direito de o fazer. Assim como ninguém deve recusar-lhe a prerrogativa de escolher o registo que mais jeito lhe der. Não obstante, parece-me evidente que transformar a casa dos representantes de todos os madeirenses em palco de rábula ou paródia política é de pouco aviso. Porque apouca o parlamento. E porque ajuda nessa reprovável tarefa todos os que, por perversa intenção, reduzem a sua conduta política a um mero e sistemático exercício de diminuição da importância do confronto parlamentar, em nome, claro está, da preeminência de órgãos que preferem dispensar a dialéctica e o contraditório.
Bernardino da Purificação

Um comentário:

amsf disse...

Pugnar pela dignificação da ALRM seria ser cúmplice de uma instituição que desde sempre se submeteu ao poder executivo quando o espírito do nosso sistema político é exactamente o inverso. Se a ALRM pretende ser digna terá que se portar como tal.
Quando a seriedade não é reconhecida e recompensada só resta o humor cínico ou a violência. Terá que reconhecer que podia ser pior...