Um texto que há dias escrevi a propósito da mais recente paródia do PND contra o dr. Jardim (sob a forma de proposta de elevação de uma estátua de cinquenta metros em homenagem ao líder madeirense) suscitou um comentário de um visitante deste blog que se identifica como amsf.
No texto em questão, que pode abaixo ser lido na íntegra, defendi a idéia de que obrigar a casa dos representantes do povo da Madeira a discutir propostas assumidamente ridículas acaba por ter o efeito perverso de ridicularizar a própria Assembleia. E deixei expresso o entendimento, que aproveito para reiterar, de que o legítimo direito de combater o jardinismo não ganha nada em passar pelo achincalhamento, que considero ilegítimo, das instituições autonómicas.
Em contraponto com esta posição, o comentário de amsf, do qual se deduz um apoio inequívoco à paródia do PND, lança para reflexão as seguintes três ideias:
1) Quem pugna pela dignificação da Assembleia Legislativa da Madeira é cúmplice de uma instituição que aceitou submeter-se ao poder executivo regional, em total desconformidade com a matriz eminentemente parlamentar do regime autonómico;
2) Se a ALR pretende ver reconhecida a sua dignidade institucional, então deve fazer por merecê-la;
3) o humor cínico é a arma legítima dos que, sendo sérios, não vêem a seriedade reconhecida e recompensada.
Com o devido respeito pela opinião alheia, devo retorquir que me parece que estes argumentos são portadores de alguns equívocos, no que toca à observação da realidade, e encerram alguma confusão de conceitos.
Vejamos. Não creio sinceramente que os que defendem a dignificação da Assembleia Legislativa da Madeira sejam cúmplices de quem ou do que quer que seja. Nem objectiva, nem subjectivamente. Se, por razões de classificação, eles tiverem de ser alguma coisa, direi que serão simplesmente autonomistas. É esse o meu caso. Não confundo autonomia com jardinismo, nem sistema de autogoverno com conflitualidade partidária.
É claro que tenho consciência de que o PSD é visto muitas vezes, por ele próprio e pelos seus adversários, assim como uma espécie de partido institucional da autonomia. Só que essa é, a meu ver, uma percepção simplista e/ou oportunista potencialmente perigosa, uma vez que acaba por conduzir as restantes forças partidárias à exclusão do arco autonómico. E, no limite, pode levar à aparência de que combate a autonomia quem combate o PSD. Só um observador apressado ou desatento não conseguiu perceber ainda que o PSD se tem alimentado dessa confusão de perspectiva. Donde, e sem qualquer ofensa, quem me parece ser objectivamente cúmplice da perversão do regime é quem não consegue separar as águas, ou seja, quem ainda não percebeu que só é possível combater o jardinismo e o PSD no quadro do regime autonómico e das suas instituições políticas.
A Assembleia está governamentalizada? Pois está. Essa é uma situação anómala e, no limite, anti-democrática e anti-autonómica? Pois com certeza. Mas isso resolve-se achincalhando-a ou transformando-a em palco de comédia? Com franqueza, não me parece. Essa, aliás, insisto, tem sido a estratégia do partido do poder. Ou será que não é também por essa via que se explicam algumas das boçalidades que por lá vamos observando?!
Dito isto, seria pouco sério da minha parte não reconhecer que deve ser extremamente difícil andar no confronto político nestas circunstâncias. É claro que o reconheço. Porém, faz-me confusão que não se perceba que qualquer nivelamento por baixo da qualidade das instituições se reflecte negativamente de forma igual por todos seus agentes. Ou será que alguém pensa que o clima de circo, mais ou menos apalhaçado, que ocasionalmente se instala nos plenários parlamentares, só diminui, aos olhos da opinião pública, os representantes do partido do poder?
Perceba-se de uma vez: do alto dos sessenta e tal por cento de votos que ainda é capaz de valer, só a Jardim dá jeito que o parlamento não tenha crédito, independentemente de poder contar com gente de qualidade em todos os quadrantes políticos; e só a Jardim interessa que a classe política seja desconsiderada de um modo geral pela opinião pública. Porque pairando acima dessa pelo menos aparente mediocridade reinante, ele lá vai continuando a sobressair e a ditar as suas regras. De maneira que só ele fica a ganhar com o circo.
Bernardino da Purificação
3 comentários:
Vejo que é uma pessoa racional e educada e soube "traduzir" exactamente os meus argumento. A sua argumentação é válida mas como bem disse "tenho consciência de que o PSD é visto muitas vezes, por ele próprio e pelos seus adversários, assim como uma espécie de partido institucional da autonomia" é esta percepção que o AJJ conseguiu construir através da acção psicológica e da propaganda que o tornam invulnerável. Para a opinião pública o único poder legítimo é o próprio AJJ, tudo o resto não tem razão de existir. Qualquer poder, formal ou informal, interno ou externo só tem legitimidade se obtiver a aprovação do AJJ. Não vivemos numa democracia mas numa autocracia. Qualquer combate político não pode visar o AJJ mas as instituições que existem politicamente não por serem necessárias ao "sistema" mas porque simplesmente o sistema político português assim o exige. Haveria muito a dizer mas o tempo é escasso.
Diria que se conseguir manter a qualidade dos seus post acabará por ter o melhor blog de temática política regional...
Suponho que uns cartazes à PND com as frases mais "interessantes" ditas pelo sr. AJJ sobre o sr. Silva nos últimos anos (sr. Silva PM e Sr. Silva candidato a PR) também o repugnava! Agora que já se sabe a agenda do Sr. Silva era só colocá-los nesse percurso! Políticamente talvez fosse contraproducente no entanto sei que seria agradávelmente embaraçoso!
Aliás nem é preciso fazê-lo, basta que se propague o boato de que será feito!
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