O senhor presidente do Governo Regional defende a reedição de uma aliança dos partidos da direita, PSD e PP, tendo em vista um mais eficaz combate ao partido socialista. Como vivemos num país livre, o dr. Jardim tem todo o direito de pensar o que muito bem quiser e entender. E porque a liberdade de expressão é apanágio da democracia, tem obviamente também o direito de verbalizar aquilo que pensa. Aliás, bem vistas as coisas, o chefe do executivo madeirense tem todos os direitos e mais alguns. Até, como ontem aconteceu, o de aproveitar as cerimónias públicas para expressar as suas opiniões de dirigente partidário!
É capaz de ser embirração minha, mas confesso que o facto me impressionou. Então um presidente de governo vai inaugurar uma escola e, assim sem mais nem menos, desata a intervir nas querelas internas do partido a que pertence, adiantando receitas, propondo mezinhas, apontando soluções mais ou menos salvíficas? Não teria sido institucionalmente mais correcto dar uma conferência de imprensa na qualidade de presidente do PSD-Madeira para poder exprimir à vontade os seus pontos de vista partidários?
Como se calcula, as perguntas são meramente retóricas. Aliás, o próprio dr. Jardim não só lhes conhece as óbvias respostas, como de certeza que as antecipou no momento em que decidiu aproveitar a boleia da sua condição de presidente para intervir na qualidade de dirigente de um partido. Quem pensa que Jardim não tem um apurado sentido das conveniências, engana-se redondamente. E a prova provada de que o tem é o simétrico e não menos apurado sentido da provocação e da inconveniência de que tanto gosta de fazer alarde. Acreditem: o que ontem se passou numa escola da Ribeira Brava foi absolutamente intencional. Medido até ao milímetro. Planeado até ao pormenor.
O que o senhor presidente quis deixar bem vincado é que o Governo que lidera está empenhado em combater o partido socialista e o Governo por este suportado. E assim em jeito de união nacional da RAM, ou de sinédoque política (porque se toma o todo pela parte), procurou, com essa declaração, envolver-nos a todos na sua por certo patriótica tarefa.
Confesso que pensava que os governos governavam e os partidos combatiam. Um erro, já se vê. E tenho de admitir também que achava que a circunstância de pelo menos metade dos madeirenses não ter votado no partido do poder deveria constuir um obstáculo ético a esta censurável tentativa de generalização e apropriação da vontade alheia. Outro erro, como é evidente. Porque, afinal, se a política tudo permite a quem exerce o poder, é porque não há a mais pequena margem para limitações de ordem ética. Tão cristalino como a água. E esse é que é o verdadeiro problema.
Bernardino da Purificação
Um comentário:
Então quando ele fala do PS enquanto presidente do Governo Regional, está a misturar as coisas, pois poderia dar a entender ser membro do PS?
Quer queira quer não, o PSD faz parte do país e é importante para o futuro do país, o futuro do PSD!
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