É oficial: o dr. Jardim virou (politicamente falando, entenda-se). O social-democrata que afirma ser acaba de renegar a social-democracia. O estrénuo defensor do asfixiante Estado máximo (em pensamentos, palavras e obras) anda rendido agora ao magnífico esplendor do Estado mínimo. O político de ideias próprias e costumes liberais resolveu emprestar o nome, a vozearia e as mãos aos próceres anacrónicos do beatismo conservador. O intrépido porta-bandeira da Autonomia em que se arvora aceita sem um pio o descaso a que a dita é votada pela direcção nacional do seu partido. E, para cúmulo dos cúmulos, o denunciante que sempre foi de projectos políticos pessoais (dos outros, já se vê, que tudo tem o seu limite) acaba de converter-se ao depurativo plano de salvação da pátria que o cavaquismo urde a partir dos esconsos gabinetes de Belém.
Em suma, o cavalheiro mudou de campo. Seduzido eventualmente pela saborosa promessa de um prato de lentilhas qualquer. Ou, se calhar, derrotado pelo beco sem saída a que nos conduziu a sua política. Seja lá o que for, a cambalhota é vistosa. Ao ponto, imagine-se, de o vermos agora de mãos dadas com o liberalíssimo Pacheco Pereira, entretanto promovido a guru do garboso tandem que Cavaco e Manuela airosamente montam...!
É claro que sei que o dr. Jardim é um artista da pirueta. Do mesmo modo que não ignoro que, para sua excelência, as ideologias não passam de uma espécie de pronto-a-vestir a que cinicamente vai ao ritmo das conveniências do momento ou à medida das imposições sazonais. Ainda assim, confesso: arrepia-me o descaro. Assinar por baixo, ainda por cima sem rir, um programa político situado nas antípodas da prática governativa de que se orgulha e defende só pode ser obra da falta de pudor. E mandar às urtigas todos os textos pretensamente doutrinários que usa dar à estampa não pode ser senão decorrência em linha directa da falta de vergonha na cara. Ou do desespero, vá lá a gente saber. Ou do maquiavelismo à moda da ilha, vá lá a gente adivinhar...
Ok. Sabe-se que, em geral, os políticos têm uma relação atribulada com a rectidão das linhas direitas da coerência e dos princípios. Ainda assim, impressiona ver o dr. Jardim rendido à pacóvia sonsice cavaquista que sempre execrou; custa admitir que o súbito apoiante do endividamento tendencialmente zero e do orçamentalismo puro e duro que agora pretende ser é o despesista sem critério nem medida que sempre foi; faz duvidar que o nacionalista impenitente que faz de conta que é seja o mesmo indivíduo que tem como principal arma de combate a ameaça separatista; e faz lamentar que o autonomista estridente que sempre quis ser tenha publicamente aceite (sem uma nota de distanciamento ou reserva) partilhar o colo central-cavaquista com quem sempre viu na Autonomia uma excentricidade ou um luxo (já repararam que, ao contrário do que diz o dr. Jardim, a dra. Manuela não proferiu uma única palavra de compromisso com o aprofundamento autonómico na próxima revisão constitucional?).
Rejubilemos, no entanto. A partir de agora, é-nos ainda mais legítimo exigir ao novo dr. Jardim que deixe de asfixiar a nossa cada vez mais engasgada democracia. E que aceite diminuir o peso tentacular do estado, em cujas alturas se senta, em benefício das empresas, dos indivíduos, dos cidadãos. Isto, claro, se a coerência do dito cujo não passar de uma batata.
Bernardino da Purificação
6 comentários:
Bernardino!!!
Fosga-se. Regressaste, estás perdoado!
Oh Homem de Deus, todos aqueles que identificam esse alegado Bernardino, o tal que ignaramente ameaça com purificações, como se de purificado se tratasse, aconselham-no a esquecer o Jacobino, Maximiliano Robespierre, essa criatura que tal como o das Purificações, capitulou de forma incondicional e primitivamente, perante o Soberano e Legitimo poder da nobre GUILHOTINA.
Como velho amigo, aconselho-o a constituir a sua alegada força e então depois, salte para o democratico e transparente (sem anonimatos) TERREIRO DA LUTA.
Convém previamente, por evidentes questões de saúde, solicitar prévio parecer ao Sr. Dr.Saturnino, aquele dos maluquinhos...!
O PND já apresentou queixa crime na PJ por causa dos carros pretos?
Vejam no meu blog um exemplo, em forma de testemunho, de asfixia democrática!
O trauliteiro do costume voltou a botar faladura. Ora, como no seu caso faladura rima com cavalgadura, lá o tivemos a assestar mais uns quantos tremelicantes coices, cujos, para não variar, acertaram no vento.
Robespierre, eu? Só para ter um pretexto para a ameaça da guilhotina? Coisa desgraçada!
Então vosselência não sabe que nem eu sou semelhante alma decapitada nem o seu dono é Somoza ou Carrero Blanco?
Sugere que me terá identificado. Grande proeza! Desde a primeira hora que digo que sou o Bernardino da Purificação. Se não acredita, paciência...
Já agora, aquela coisa dos "maluquinhos". É sabido que só um louco reconhece os padecentes seus colegas. No seu caso não me espanta. Com os antecedentes familiares que se sabe ter...!
De qualquer modo, continue a aparecer. É sempre um gosto.
Bernardino da Purificação
Meu caro Bernardino, não foram os "Jacobinos" e muito menos os "Girondinos", que executaram a "carnificina de Setembro". Os puritanos historiadores, também desconhecem se o irmão mais novo do Maria Isidoro (este, Agostinho de sua graça)quebrou acidentalmente uma perna, ou se lhe partiram as pernas. No "Hotel de Ville", local onde o dito foi "guilhotinado", verificou-se que existiam nas respectivas hortas, muitos grelos à solta. Enfim particularidades do destino, o qual, segundo estudiosos da matéria, só a Deus pertence.
Oh criatura, não se julgue mais do aquilo que medianamente a sociedade lhe conferiu, o seguramente purificado "Robespierre", julgou que assumiria o destino...quando fatalmente o destino assumi-o, a ele, ao irmão, à familia e aos grelos da horta...passe bem.
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