domingo, 29 de março de 2009

O novo evangelho segundo Jardim

Salve, dr. Jardim. Vosselência acaba de inscrever o seu ilustre nome no restrito rol de políticos com pretensões moralizadoras. Há trinta e não sei quantos anos que lhe andavam a sentir a falta. Dizendo, imagine-se o peso da injuria, que se tresmalhara em definitivo. E jurando, vejam só a injustiça dos homens, que são políticos da sua estirpe que dão mau nome à política. Eu sempre soube que não era assim. Algo me dizia que, na hora da verdade, o guardião da virtude que habita em si se libertaria das grilhetas que o aprisionaram durante mais de três décadas. É com um misto de alegria e orgulho que verifico que não me enganei.
Para quem não sabe, aqui fica a grata novidade: o dr. Jardim acaba de defender que políticos suspeitos de corrupção deveriam ser pura e simplesmente postos a andar. Mesmo que não tenham sido acusados de nada por quem de direito. Ou que nunca venham a ser formalmente acusados de coisa nenhuma. Bem haja, pois, dr. Jardim. O moralismo pátrio está-lhe grato. E a seriedade acaba de contrair uma dívida que não há-de pagar tão cedo. A política, estou certo, não voltará jamais a ser como dantes.
Presumo que sabem do que falo. A voz justiceira do novo campeão da ética governativa acaba de pedir a cabeça do engenheiro Sócrates. Numa democracia a sério, sentenciou o nóvel paladino dos bons costumes - honni soit... -, primeiro-ministro suspeito é primeiro-ministro despedido. E como as democracias a sério devem ser o farol das que não passam de um reles faz-de-conta, está-se mesmo ver onde vai desaguar esta nova e inesperada tese ético-política do nosso dr. Jardim: ao justicialismo da praça pública; ao veredicto sem contraditório da vox populi; à mimosa inversão do ónus da prova. Essa dispensável coisa esdrúxula que dá pelo nome de sistema formal de justiça deixa de contar para o que quer que seja. E as provas a ter em conta passarão a ser os justiceiros decibéis que o berreiro popular em cada momento produza.
Gosto da ideia, dr. Jardim. Ainda bem que alguém teve a coragem de verbalizar tão expedita tese. É verdade que vosselência não a enunciou em toda a espessa essência que tem. Mas não foi preciso. O simples facto de ter pedido a cabeça do primeiro-ministro a pretexto do caso freeport diz tudo sobre a sua adesão ao tele-evangelismo político nacional. E, como estou seguro de que a sua nova teoria não há-de aplicar-se em exclusivo ao caso concreto do engenheiro Sócrates, percebi com júbilo que, não tarda nada, vamos ficar todos a conhecer as contas e os financiadores da Fundação Social-Democrata; não tive dúvidas de que nunca mais assistiremos ao espectáculo indecoroso das suas manifestações públicas de solidariedade política a presidentes de câmara formalmente acusados de actos ilícitos; tive a certeza de que vosselência vai mandar investigar e punir os súbitos enriquecimentos que toda a gente conhece; fiquei certo de que as derrapagens de milhões em praticamente todas as obras públicas vão, enfim, ter consequências; foi-me dado entender que passarão a ser punidos com o olho da rua, em processo sumário de qualquer denúncia pública, todos os titulares de cargos políticos que omitam deliberadamente dados sobre a evolução do seu património quando preenchem as declarações que o Tribunal Constitucional exige; ganhei a convicção de que as "negociatas" em tempos denunciadas hão-de ter, todas, o desfecho devido; e sorri perante a visualização do cabisbaixo desfile de deputados-empresários em direcção à porta da rua.
Vosselência, dr. Jardim, devolveu-nos a esperança. Era mesmo do que andávamos a precisar. De maneira que nem vou cometer a deselegância de lhe falar da quinta do Brasil que um dia se disse que o meu ilustre amigo possuía. Até porque sei que o processo que instaurou a quem teve a ousadia da acusação foi mais tarde benevolamente retirado. Olhe, isso são águas passadas. Tal como as coisas obscuras do porto do Funchal. Tal como os negócios sinistros da Empresa de Electricidade da Madeira. Tal como aquela "estória" das actas do seu governo que, ao que se ouve dizer, ficam assinadas e abertas durante o largo período de um ano.
Compreenda-se. Ninguém há-de querer saber de miudezas perante a conversão de vosselência à bondade objectiva da justiça popular. Até porque, como é sabido, o céu regozija-se mais com a conversão de um pecador do que com as esperadas boa acções dos justos. Ora, se é assim no céu...!
Bernardino da Purificação

21 comentários:

Anônimo disse...

Caro Amigo Bernardino, coloco-me incondicionalmente ao lado da sua por certo brilhante tese, constante do seu notável (mais um entre muitos...) artigo de opinião.

Realmente Você não disse uma palavra a mais nem a menos, daquilo que qualquer outro analista sériamente diria da intervenção do Nosso Presidente. E estou mais que seguro, que o disse na convicção de que o Presidente honrará a sua promessa de luta feroz e ilimitada à corrupção, na pessoa dos suspeitos responsaveis pelo diz que disse.

Finalmente, os Pitas da Calheta, os Machados da Quinta Vigia, os Candelárias de Santana, os Luises de Santa Cruz, os Lobos da Ponta do Sol, os Duartes do Governo e depois da Camara do Funchal, os Castros do Porto Santo, os Jaimes do Mundo, os Santos Costas, os Garcezes, os Bananas, os Antonios Manueles, os Machados das Finanças e toda essa manada de mamões...ao que se diz, terão finalmente os seus dias contados.

Estou manfesta e verdadaeiramente ansioso, por poder finalmente testemunhar tamanho acto de justiça.

Agora venham criticar o Nosso Presidente...venha daí essa Dona Bruder, bolsar os seus horrorosos comentários...ficio aguardando

Jorge Figueira disse...

Há um erro no racíocinio do nosso Bernardino da Purificação. As afirmações de S. Exa. o Sr. Pres. do GR apenas são válidas da Ponta de S. Lourenço para Leste (tudo o que vem de Leste não presta a começar pelo vento)logo nada é comparável com aquilo que se passa na RAM ao contrário do que pretende o autor do texto.
Valha-o Deus Bernardino, desta vez esteve mal! Decorreram já uns anos, e verdade seja dita que S. Exa. nunca mais voltou a pronuciar nada de parecido, sobre a afirmação: a terra é pequena e todos nos conhecemos a administração regional e local são sérias,quem souber de algo ilegal tem o dever de denunciar à Justiça. Cito de memória vale a ideia não as palavras.
Como de costume, hoje, AJJ dirá: como eu disse há anos nós somos gente séria ladrões são os de lá.
Vão trinta anos de pescarias em águas turvas outros se seguirão desde que o estado Português, na sua pusilanimidade, continue a deixar andar.
Ele (Estado) até parece que teme estas farroncas que fazem escorregar a espetada, o milho frito, e o vinho nas festas da aclamção à Nino Vieira ou Robert Mugabe.

Anônimo disse...

Consta que hà dias, para os lados de machico, um reconhecido carpinteiro encontrou uma mina de notas de € 500,00, quando recuperava parte de um móvel antigo, instalado na residencia de uma proeminente autoridade regional.

Parece que o dito operário só começou a se acalmar, quando a esposa do dito proeminente, lhe afiançou que o descoberto "graveto" destinava-se a seguir para o Senhor Governo, com a finalidade de pagar os salarios dos funcionarios.

Aí o operário acalmou-se totalmente e aproveitou para de viva voz, elogiar o papel de tão Santo(s) marido e egregio politico.

Anônimo disse...

É verdade que o "Dono das Finanças", retém ordens de serviço contra gente graúda, por forma a que as suas não menos graúdas dividas, atinjam a almejada prescrição ?

Sendo verdade, o que pensará o Nosso Ilustre Presidente do GR e a sua fiel Dona Bruder...coitada, há tempos ausente...será por doença ou foi atacada de "bananice" ?

Anônimo disse...

Consta que um presporrante vice de qualquer coisa, subscreveu a totalidade do capital social de - Edifer - Madeira SA, através da entrada (ateñção, não confundam com entrudo) no referido capital de um seu bossa testa de ferro ?

E esta hein ?

amsf disse...

Mas não foi o "nosso" Presidente que até bem pouco tempo defendeu a ideia de que os políticos eleitos só devem prestar contas ao seu eleitorado? Nunca pensei ser promovido temporáriamente a juiz de quatro em quatro anos! Suponho que esta tese se confina à Madeira. Azar do Sócrates!

Anônimo disse...

Quem saberá contar-me em pormenor, o milionário negócio da meia serra.

Então o GR, até o Arqº Conceição e a outra sócia venderem as respectivas quotas, não reconheciam a brutal divida de trinta milhões de euros, que tinham para com esta empresa.

Depois destes venderem aos seus novos sócios, Jaimes, Farinhas etc, etc, a empresa por cinco milhões de euros, o GR, resolveu pagar de imediato os trinta milhões que afinal acabou por reconhecer dever.

Isto será mesmo verdade, ou não passa de anedota ?

Anônimo disse...

É verdade que o Dr. Aventura Garcês, o tal do inglês, terminou no passado ano, a construção de dois palacio habitacionais, encontrando-se um em S. Martinho e outro no Porto Santo ?

Mais concretamente, mal entrou para o Sr. Governo, despede o apartamento da Cooperativa do Quinhentos, em qye habitava e transfere-se directamente para os ditos palacios.

O dito Aventura é mesmo "poupadinho", ou também terá um sobrinho taxista na Suiça, como o incontornavel Isaltino,seu colega de partido ?

Anônimo disse...

E o negócio da "Quinta Escuna" em Santa Cruz, cuja Fundação Social Democrata, vendeu-a a um individuo altamente conotado com narco traficantes sediados em Londres, o qual deu guarida no dito negócio a um tal de pequeno Machado, que anexou um conhecido Aventura, os quais com o Presidente de uma notavel edilidade, acenaram com uma comissão a um tal de Crasto, representante do Ministério do Governo Central, que acabou com o valente barrete enfiado até às Costas do Costa.

Isto é que é fazer o trabalho de casa, para contornar a crise e não aquele que ufanamente apregoa o Vice, que afinal reconhece que a crise demorou, mas já chegou em pleno.

Anônimo disse...

Caros esclarecidos comentaristas, esclareçam-me se confere que o Dr. Alberto João Bokassa Jardim, é sócio do conhecido empresário, José Maria Bronca Camacho, tendo já colhido grandes lucros da mesma, os quais são invariavelmente divididos numa cama de quatro em São Vicente ?

Anônimo disse...

E o Santes e Cuosta é mesmo o dono do Viveiro de Machique?

Anônimo disse...

"Viveiro" ou "Viveiros" ?

Anônimo disse...

Ilustres Comentaristas, pretendem agora colocar em crise a idoneidade do Sr Visse ?

Acho pouco correcto, nomeadamente tendo em atenção que se trata de uma criatura de espertesa prematura.

Não acreditam ?

Então não foi o dito que afirmou que a crise passava ao lado da Madeira, dado que tinha feito e bem o seu trabalho de casa ?

Resta saber qual o trabalho de casa efectuado. Sim porque segundo recentes sondagens, são cada vez mais evidentes os casos de "porrada na mulher" eufenisticamente conhecidos, como de violencia domestica.

Anônimo disse...

O Padre e Beato, Ricardo Vieira, elemento activo da Confraria dos Vigaristas, faz as suas conhecidas negociatas, mediante a cobertura do seu dilecto sócio, Sr. Dr. Miguel Tropa, por sinal, genro do Sr. Dr. Alberto João Cardosos Gonçalves Jardim ?

Podem informamr-me onde é que isto vai parar, já que pelos vistos, de pouco valerá chamar a policia.

Vilhão Burro disse...

Irra!!!
Não é que estou mesmo espantado?!!!
Ao ler tudo o que estes senhores escreveram,fico de cara à banda!
Então não é que, fiando-me na conversa do Sr. Padre da minha Freguesia, tenho andado a votar - há um ror de anos - numa cambada de ladrões?!!!
Ai a minha vida!!!

Jorge Figueira disse...

Voltei, pois julgo necessário fazer-se um ponto de situação. Discutiu-se, já lá vai algum tempo, entre os comentaristas deste bolg se deveríamos ou não conhecer a identidade do cidadaão que assina Bernardino da Purificação. Sou dos que entendo que podem existir razões várias para a opção pelo autor. Respeito-a.
Causa-me, porém, estranheza que entre os comentaristas se continue no anonimato quase a 100%.
O (a) Bruder desapareceu. Gostaria, talvez, de escrever uns impropérios pois argumentos para combater logicamente o que diz Bernardino não pareceu ter. Alguns comentários sob anonimato, como diria o Sr. Pres. do GR, enveiem as provas para os sítios próprios.
Aqui reside a diferença entre o "dono" do Blog e alguns comentaristas também anónimos.

Anônimo disse...

Caro Comentarista, Jorge Figueira, estou plenamente de acordo consigo. Simplesmente não se esqueça que não vive numa região minimamente civilizada, vive tão só nesta Madeira.

O anonimato, no meu caso, mais não representa do que o cuidado que tenho por alguns pobres residentes que de mim dependem, e cujo futuro seria muito mais complicado se eu não me tivesse socorrido sob a capa do anonimato.

Há dias garantiram-me e eu acredito, que nesta Região, deveriamos explorar uns cursos de pós graduação para a carbonara, camorra e mafia italiana, dado que os ditos muito iriam aprender.

Anônimo disse...

Será que se todos deliberassemos asumir pessoalmente os nossos comentários, a nossa bela Bruder, voltaria e também assumiria pessoalmente a sua intervenção ?

Ai...seria tão bom...!

Fernando Vouga disse...

É de facto sintomática esta democracia madeirense. Apesar das amplas liberdades (onde é que já ouvi isto?), as pessoas têm medo de falar.
Porém, penso que vai sendo altura de se enfrentarem os abusos do poder de forma frontal, dando a cara. Não se pode mostrar medo e temos de provar que o papão não passa de um tigre de papel.
Se alguma coisa de bom fez este Governo socretino, foi demosntrar aos portugueses que se pode viver sem medo do jardinismo.
Não será por acaso que este curioso regime madeirense, uma autêntica ditadura do partido mais votado, perdura há mais de trinta anos.

António José Trancoso disse...

Caro Monteiro Vouga

Infelizmente a Liberdade de Expressão,constitucionalmente consagrada,é,cada vez mais,um privilégio de muito poucos.
Nesta Região o garrote é de tal ordem que a própria Oposição, no suposto "Fórum da Autonomia",está,praticamente, silenciada.
Compreende-se assim os cuidados assumidos pelos comentadores,sabendo-se,como se sabe,que a sanha persecutória acabará,directa ou indirectamente, por marcar presença.
Enquanto a maioria dos eleitores não despertar do pesadelo em que anda adormecida,ter-se-á de entender a desgraça que sobre esta Terra se abateu.
Um dia,os Anónimos serão tantos,que não haverá mais razão para continuarem a sê-lo.
Não há memória histórica de ditaduras eternas...
Um abraço.

Joreg Figueira disse...

Caro Anónimo
Provavelmente não imaginará quanto eu o compreendo.Aquilo que escrevi não está feito a pensar em cada um em particular. Fi-lo a pensar na generalidade dos comentaristas.
Está chegndo o tempo, de com a cautela de que fala, TODOS demonstrarmos a TODOS os partidos que não são donos dos nossos direitos de cidadania. Somos seres humanos, andamos na vertical sobre dois pés, distinguimos muito bem entre lealdade e fidelidade. A lealdade relaciona seres humanos e fidelidade animais de estimação com os seus donos. Não queiramos ter donos...