Na falta de melhor tema, apetece-me falar hoje desse curiosíssimo fenómeno que dá pelo quase misterioso nome de enriquecimento sem causa. Não sei quem foi o autor de tão inspirada designação. Mas como as palavras valem sobretudo por aquilo que dizem, cheguei a considerar a hipótese de estarmos perante um místico devoto das coisas que se explicam a si próprias. Julgar que alguém pode adormecer pobre e acordar rico sem precisar de explicar o feito equivale a acreditar, pia e militantemente, na força prodigiosa dos milagres. E presumir que um efeito pode dispensar a carambola de uma causa só pode remeter-nos para um estado de gnose que, convenhamos, não é deste mundo. A menos que no lugar de uma crença tenhamos somente a ironia suave de um gozão. Ou que em vez de um exercício de elevação gnóstica tenhamos simplesmente as palavras económicas de um legislador poupado.
Como é evidente, inclino-me mais para esta última hipótese. Não por duvidar da força imponderável da intervenção do acaso. Nem por recusar a eventualidade de a roda da fortuna poder ser movida também pelo intangível. Apesar do racionalismo céptico que me instruiu, não tenho nesse domínio grandes dores ou preconceitos de natureza filosófica. Porém, por mais que me esforce, tenho de confessar a imensa dificuldade em elevar-me acima do terreno prosaico das causas. Sobretudo quando o assunto é dinheiro.
Não tenho qualquer problema com a riqueza dos ricos. Ela não me perturba nem um bocadinho, a despeito de ter lido o que devia ter lido sobre a chamada acumulação primitiva do capital. Sou, é claro, sensível à desigualdade e hipersensível à ganância. Incomoda-me a primeira. Desprezo a segunda. Não creio, no entanto, na bondade ideológica ou na legitimidade política do igualitarismo aplicado a martelo. Nem tenho pachorra para o peditório desgraçado dessa espécie de doença social que olha o sucesso material dos mais empreendedores ou afortunados com permanente hostilidade e sistemática desconfiança. Confesso, porém, que tenho um problema com a riqueza repentina gerada pela obra do poder e pela graça de quem manda. Faz-me urticaria. Tira-me do sério.
Sei que não se deve acusar sem provas. Mas há indícios que interpelam. Do mesmo modo que há sinais exteriores que nenhum sistema sério de Justiça deveria poder ignorar. De modos que, mesmo não querendo agitar suspeitas, recuso fazer de conta que não sei que há no poder quem tenha chegado à política muito antes da carreira profissional que nunca teve ou da fortuna que agora aparentemente tem. Admito, mas só em tese geral, que a singularidade do facto pode não andar de mãos dadas com a palavra desonestidade. Convenhamos, no entanto, que uma situação assim, mais do que escancarar as portas à dúvida e abrir caminho à suspeição, dá de mão beijada ao abuso o caldo que o pode fazer crescer.
Já vejo os vigilantes do costume arregimentados para a arenga da praxe. Se não há provas não há culpas. Se não há culpas não pode haver culpados. Depois, como a esperteza saloia lhes dá vontade de rir, hão-de brindar, divertidos, à falácia do axioma. Mas como estas coisas são sérias, vou retaliar com uma sugestão. Concedamos à classe política a possibilidade de justificar a qualquer momento a proveniência dos seus rendimentos. Crie-se para tanto uma entidade fiscalizadora na dependência directa do Tribunal Constitucional. E proceda-se como faz o fisco aos contribuintes. Bastava isso. Todos os nomes para dentro de um sistema informático. Um computador sem partido nem alma a sortear os felizes contemplados. E as sanções devidas a quem fosse culpado de enriquecimento literalmente sem causa. Tenho para mim que um tal dispositivo resolveria muita coisa. E a nossa relação com a política ficaria com certeza mais sã.
Bernardino da Purificação
12 comentários:
Não é má a sugestão, não senhor! Tem só um inconveniente: ficávamos sem políticos em pouco tempo ou com os medíocres, aspirantes a ricos sem justificação, atarantados sem saber o que fazer para se governarem, aparentando que governam.
Isto digo eu, está claro!
Leunam Agarf
Suspeito que mais do que alquimistas ou Reis Midas temos é especialistas em marketing social. Nem tudo o que brilha é ouro e à medida que a crise económica se vai aprofundado vai-se descobrindo que nem tudo o que parece é. Suspeito que os verdadeiros milionários de última geração têm o cuidado de ocultar socialmente os seus cabedais...quem sabe se por prudência!
Pois é...
Quando se lhe começa a descobrir a careca gritam desalmadamente que estão a ser alvo de uma "campanha negra"...
Mas, largar o gamelão...iso é que era bom!
E a gente deixa.
Ou se calhar de uma "cabala".
Somente por curiosidade, proponho-lhes que executem um pequeno exercicio...nada significativo. Comparem a foto dos nossos politicos, quando da sua tomada de posse...com a da presente data !
Identificam algum, que se encontre mais magro...ou pelo menos igual ?
Claro que não meus Anjinhos !
Porque será que se engorda naqueles cargos...Obviamente por excesso de trabalho e preocupações . Né ?
Será que a Madame Bruder, terá outra teoria ?
Por falar em Bruder...
Bateram tanto na senhora que ela deixou de aparecer. Foi pena!
Há quem diga que o bigode é o picante do sexo; eu diria que a D. Bruder era o bigode deste "Terreiro da Luta".
Tenho dito.
Caros amigos e amigas. Por favor não macem a D. Bruder (parto do princípio de que o ilustre leitor que me antecede sabe do que fala quando lhe atribui uma identidade feminina e loura). Compreendam. Senhora honrada não tem ouvidos. E a prudência aconselha por vezes a contenção do recato. Ora, como a senhora dona lady em causa há-de andar demasiado próxima do assunto aqui tratado, o mais sensato é fazer de conta que não é nada com ela. Respeitemos, pois, o seu silêncio. Calculo que a faça ferver. E, já agora, não a caustiquemos demasiado. Ela alinda de facto este terreiro.
Cordiais saudações
B. da Purificação
Desculpem-me mas não entendo nada...! Realmento ou sou muito burro, hipotese mais viável, ou ainda não percebi porque artes, alguns colegas, permitam-me o termo, concluiram com segurança pelo sexo feminino do tal de Bruder.
Por mim, depois de ler os seus lindos nacos de prosa, fiquei até convicto, que o Bruder, trata-se de uma criatura, alto e largo que nem uma banana do equador e com grande propensão para largar porrada em casa.
Será que me enganei ?
Uma banana do Equador ?
A figura em causa, para mim, mais se configura a um plátano da Guatemala, cumprido, obeso, curvado e com uma tipicidade propria de um objecto bostouro
Ao anónimo de 5 de Março
É capaz de ter razão. Talvez não seja uma mulher. Mas é um travesti literário de certeza. O facto de dar "porrada em casa", como diz, é sintomático.
Ele gostava de ser mulher. Porém, como não consegue totalmente, fica cheio de inveja e chega a roupa ao pelo à consorte, para se vingar. Por fim, para alimentar a sua fantasia, escreve como se fosse uma loira espaventosa.
Será?
Acho que, por já ter problemas que cheguem, a devemos acarinhar e fazer de conta de que não é o tal homem "alto e largo que nem uma banana do equador" de que fala. Deixemos que ela viva em plenitude (mesmo que por efémeros momentos) o seu lado feminino e dê luta neste terreiro. Pode ser até que, desta forma, deixe da fazer nódoas negras à consorte (ou sem ela...).
Caro Fernando Vouga, tiro-lhe o chapéu por tão cientificas e doutas concusões.
Um Bem Haja à sua perspicácia e inteligencia !
É óbvio que o Bernardino levanta, uma vez mais,questões de grande importância para a vida colectiva madeirense.
Penso, porém, que a nossa "loira de estimação" tem estado calada por andar procurando argumentação lógica que desmonte uma vez por todas a, até hoje,(para ela loira) inexpugnável argumentação do Bernardino. Confesso que estou curioso para ler os resultados das suas brilhante congeminações. Demorará mas, certamente, não faltará.
Como dizem os Brasileiros, Deus tarda mas não falta.
Até lá, temos que arrostar com os dislastes do Banana, que agora, pasmem óh Deuses do Olimpo, quer ver as mulheres a governar,...obviamente depois de soturadas das mazelas dos seus queridos maridos, assim como o Vieira, que a todo o transe, desesperadamente tenta sem éxito, branquear a sua podre imagem, através de iniciativas que hà muito...desde hà muito, se encontram protegidas legalmente...a legalização das actuais construções ilegais...a mim cheira-me que hà capitalista atrás da ideia.
Enfim...estes são os politicos que temos...será que o nosso Perdão Divino, é justificador de tanto sofrimento...?
Por fim, não se esqueçam de ler o Venerável artigo de hoje no DN, da autoria do nosso loura Banana...!
Um verdadeiro mimo...!
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