João Carlos Gouveia esperneia e estrebucha. Louve-se-lhe o alento. Outro, no seu lugar e com capacidade diferente de ler o futuro, já teria provavelmente batido com a porta. Mas não. Gouveia, o intrépido, não parece ser dado ao acomodamento da desistência ou da espera. Com ele o amanhã há-de vir sempre depois. Com ele o que está para vir há-de ser tratado quando um dia chegar. De modos que, se calhar em obediência ao fraternal princípio de que a gestão política da vida interna do PS costuma ser balizada pelos azedumes do passado os pelas armadilhas do presente, o líder em que praticamente ninguém acredita resolveu aplicar já o seu golpe. Engendrou uma depuração à antiga. Resistiu à maçada de explicar à opinião pública as razões ou a utilidade da coisa. E a curiosa convulsão que lhe fica a marcar o consulado vai passando nos media com a leveza das coisas mais ou menos irrelevantes. Veja-se bem ao ponto a que chegou este incrível PS. A demissão de um secretário-geral tem o impacto dos acontecimentos corriqueiros. E desautorização política de um líder parlamentar não merece muito mais do que a atenção que se usa dar às trivialidades. Notável!
Vamos lá a ver se consigo enquadrar a acontecência. Tenho por certo que não há um único cidadão desta terra que não saiba que João Carlos Gouveia é um líder com prazo de validade à beira da prescrição. Ninguém lhe credita mais do que um estatuto de capataz provisório. E ele próprio pareceu, a dada altura, andar contentinho da vida com o brilho da situação. Foi assim que se interpretou o anuncio da sua candidatura à Câmara Municipal de São Vicente. Foi por isso que ninguém ligou grande coisa à forma como passou ao lado de todos os debates parlamentares importantes. É por isso que se olha com naturalidade e acentuada indiferença para a extrema afabilidade com que a direcção nacional do PS cordialmente o destrata.
Não sei se é verdade o que se diz. Mas, como a generalidade das pessoas sabe, a ideia de que todos os líderes do PS não passam, salvo seja, de carne para canhão até à chegada de Bernardo Trindade já fez o seu caminho. A mais do que improvável ascensão de Carlos Gouveia à liderança é tida como herdeira legítima dessa espécie de fatalidade socialista. E a sua já adivinhável queda é também nela que provavelmente se filia. De modos que parece claro, apesar de tão sedutora tese não ter passado ainda pela necessária prova dos factos, que os líderes socialistas só estão autorizados ao expediente geral. Têm o poder de decretar demissões, mas só quando é grande a vulnerabilidade dos demitidos. E julgam-se no direito de decidir promoções, coisa que fazem se a resistência for escassa ou preferencialmente nula. Quanto ao mais, limitam-se a olhar, sem estados de alma escusados, para a inércia que segura as rédeas do partido. Sem o aborrecimento do planeamento estratégico. E sem o enfado da produção de ideias.
Só que agora a coisa parece diferente. Carlos Gouveia decapitou a máquina do partido. Fê-lo, ainda por cima a uma curta dúzia de semanas de um ciclo eleitoral que se antevê complicado. E, pasmemo-nos, ninguém consegue descortinar uma reacção digna desse nome. Como se fosse um líder com poder efectivo. Ou como se estivesse, mercê de um qualquer prodigioso milagre, a interpretar simplesmente a vontade colectiva do partido e dos seus eventuais eleitores.
Seja lá o que for, até por isso o episódio tem o estatuto de caso. Mesmo que traduza um mais ou menos ingénuo encher de peito de um líder de passagem. Ou que possa ser verdadeira a tese que por aí já circula dando conta da putativa existência de uma tramóia imobiliária tão ao gosto de uma certa escola política da RAM. Mas o que anda a faltar mesmo é aquela coisa aborrecida dos porquês. Que tal a graça de uma explicação? Podem crer que a malta agradecia.
Bernardino da Purificação
8 comentários:
E o laranjal continua a ter a oposição que merece. Com oponentes destes nem precisa de patidários.
O sr Gouveia já passou a fase de "Q. quixote".
Continuando a ser usado como carne para canhão sem perceber como (a tola não lhe dá para mais), agora já não se atira contra os moinhos de vento da sua delirante e esquizofrénica imaginação. Basta-lhe andar à pancadaria com os ratos do seu albergue. e são muitos ., ao que parece...mas "não aparecem" -disse ele.
É, no mínimo, divertido!
Rocinante
Como pode constatar o sr.Bernadino das purificações várias, aqui não há Oposição.Nem sequer chega a ser um acontecimento político , isso dos Gouveias da Região.
É uma maçada " fazer política " assim, creia-me.Estas personagens não alimentam a imaginação, não provocam o frenesim próprio dos debates, não estimulam as ideias, e muito menos as alternativas e aportes, que deveriam sugerir todos aqueles que pretendessem governar, seja o que for.A começar pela própria casa, evidentemente.O Desgoverno naquela parcela da chamada Oposição de compostura, necessária formalmente neste Estado que nos cobre e nos amamenta, é tão desastroso que seria injusto,e até impiedoso,bater em corpo moribundo.Cada um naquela barraca esburacada, aporta um círio para a câmara ardente, e todos, uns mais que outros , vamos fingindo, para salvaguardar as aparências, que temos na Região uma Oposição.Se é um requisito obrigatório, neste caso muito pouco credível, numa Democracia Pluralista,então assobiamos pró lado, e fazemos de conta que assim é.Só em imaginar que esta gente pretende vir a governar este grupo de Ilhas perdidas no Atlântico, prefiro ainda continuar a sufragar os Bananas todos da zona.Mal, por mal, mal conhecido.Lembra-se o Sr.das purificações, quando há tempos um linguareiro qualquer na ALM,deixou cair aquela sugestão de que o dito Gouveia, deveria ser assistido pelos serviços de um psiquiatra ? Sim? Naquele então, a onda purificadora de dentro, e os repuxos de fora, bradaram aos céus, fazendo tremer as paredes, nos infernos da intolerância.Com razão, aliás.Se o homem tivesse sido acolhido e tratado por um especialista, não tinha o senhor Bernardino agora, o quem, o como,e o porquê, que o motivasse a escrevinhar sobre a " racionalidade" do irracional,a quadratura do círculo .Assim, este cantinho das gratuitidades presentáveis ,aproveita e se enriquece com uma balada mais, para gáudio e sustento das mentes tipo-vampirino-bisbilhoteiro, que tanto necessitam de serem alimentadas." Nada se perde, tudo se transforma", e os "lavoisiers" do burgo, lá se vão multiplicando ao ritmo dos " faits divers", longe do Debate Politico, credível, e aceitável.Séria e objectivamente,tudo isto não interessa absolutamente a ninguém, e muito menos ao Regime instalado.Mas serve aos senhores das purificações várias , aqui, ou numa esquina qualquer,para entreter a malta com os seus posts, supostamente intelectualizáveis.O que está em franca sintonia com o tema escolhido, com a personagem debatida, e com as possíveis, mas improváveis,conclusões .Tudo ao mesmo ritmo, e em conformidade.Passemos ao seguinte.
O sr.professor João Carlos tomou esta atitude em consequência das pressões internas do seu partido. Mais uma vez, os homens com algum currículo dentro do partido falaram mais alto. É preciso saber, a troco de quê?
Mais hilariante foi sem dúvida a miserável exposição escrita do nosso vice-presidente ao Diário de Notícias local. Não é que o "senhor" elogia a mulher nas vertentes profissional e humana. Coitado! Nem respeita a sua, quanto mais enaltecer as outras.
O Bruder descansou a consciência: a degraça exposta da oposição é o alibi que lhe ocorre para justificar o facto de não passar de um mero serviçal do João Banana. Que tacho lhe terá dado o JB em troca? A presidência de uma casa do "povo"? Um lugarzinho na redacção de um pasquim (há vários) do regime? Um ósculo na face e uma promessa? Ou será que é canina a devoção do Bruder?
Mais uma vez venho aqui para defender a minha dama: a D. Bruder.
Não tenho dúvidas de que se trata de uma senhora. Apesar de um certo atabalhoado na escrita, quiçá fruto da excitação que ela lhe causa, é de apreciar a prosa: um autêntico rendilhado, qual mantilha sevilhana, tantas são as metáforas e demais figuras de estilo. De certa forma, faz lembrar o discurso dos nossos Presidentes da República da "nouvelle vague", que se especializaram em falar muito e dizer nada... Parabéns!
Porém, a mensagem da nossa senhora Bruder acaba por se entender facilmente. Grita muito contra as "purificações", mas nada esclarece sobra a eventual falsidade das denúncias que Bernardino da Purificação aqui deixa cruelmente expostas.
Silêncio embaraçoso, que legitima essas denúncias.
Porque quem cala consente.
Então, velha guarda do PS-M, autorizem o homem a falar. Já é tempo de acabar com esse impedimento e proibição.
Temos saudades de uma boa gargalhada.
Mas, afinal, o homem foi mesmo proibido de falar pelos seus pares?
Não acredito.
Aque isto chegou!
João Catilina
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