Com a resignação patibular dos tristes, o PS continua a pôr-se a jeito de uma abada copiosa nas eleições que temos pela frente. Não sei se é karma ou padecência genética. Não sei se é fado ou pura aselhice. Mas que a coisa se percebe à distância, santa paciência, lá isso percebe-se.
Uma vez que não lhe frequento os corredores, ignoro se os ditos têm consciência do facto. E como só vejo o quase nada que há para ver, é-me impossível perceber se a rotina da derrota terá já ganho, ou não, estatuto de modo de vida. Dá, no entanto, para perceber que a direcção regional socialista não consegue travar o passo à estratégia plebiscitaria anti-Sócrates meticulosamente lançada por Jardim. E isso, a meu ver, parece remeter-nos para um paradoxo essencial que o PS-Madeira não há maneira de conseguir resolver. O seguinte.
Creio que toda a gente já reparou que PS é um caso estranho. Se não de incapacidade política, pelo menos de falta de sorte. Se não de confusão estratégica, pelo menos de atenção escassa, quase nula, ao terreno onde grande parte da acção política se desenrola - o espaço comunicacional.
Considerando apenas o valor facial do que os seus dirigentes dizem, não custa racionalmente dar-lhes razão. O problema é que, desgraçadamente para eles, as pessoas pura e simplesmente não os ouvem. Ou porque se estão nas tintas para o que dizem, em consequência de um eventual descompasso entre a mensagem veiculada e as preocupações mais imediatas dos cidadãos. Ou porque, no fundo, ninguém aposta um chavo nos eventuais créditos políticos que possam ter. Perceba-se. A política é muitas vezes um jogo perverso de regras próprias em que conta mais a personalidade de quem diz do que a acuidade ou o mérito do que possa ser dito. E enquanto isso não for devida e humildemente interiorizado pelos responsáveis socialistas, o PS-M arrisca-se a continuar a vegetar no espaço limitado em que se consome. Independentemente da qualidade objectiva de alguns dos seus rostos mais visíveis. E sem beliscar o esforço dedicado e sério que todos afinal possam andar a fazer.
É claro que percebo que o ambiente político regional tende a alienar a qualidade da participação política activa. E sou até capaz de compreender que o PS-M tem de pagar um preço qualquer por ser muitas vezes obrigado a andar politicamente entalado na dialéctica de confronto que opõe o poder central ao poder político regional (ou vice-versa, a ordem é obviamente arbitrária, já que é sempre necessário um par para que possa haver um tango). Acho, porém, que o cúmulo destas duas circunstâncias está longe de explicar tudo. Pelo que regresso ao paradoxo essencial que, em meu entender, continua a toldar as vistas dos dirigentes regionais socialistas.
Ora, acontece que o PS continua sem saber se, nesta fase, deve ser um partido de protesto ou se deve apresentar-se como um potencial partido de poder. Pior. No mais das vezes, deixa-se cair numa espécie de quadratura do círculo em que pretende ser as duas coisas ao mesmo tempo. Sem perceber que o protesto puro e simples é capaz de dar espectáculo mas não leva ninguém à governação. E sem ter em conta que o estatuto de partido de poder exige bastante mais do que uma simples e bem intencionada proclamação.
Veja-se o que aconteceu nos últimos anos. Com o objectivo de endurecer o seu modo de fazer oposição, o PS armou-se na primeira linha com uns respeitáveis cavalheiros de perfil, digamos, mais veemente e combativo (adoro os eufemismos...). O problema é que logo a seguir entrou em cena o PND. E o resultado foi o que se viu. De um pé para a mão, os socialistas viram-se de súbito numa espécie de vazio estratégico. Sem gente qualificada (descontando as duas ou três honrosas excepções que se conhecem) para merecerem ser vistos como alternativa de poder. Mas igualmente sem pessoas interessadas em acompanhar o teatro dos "novos democratas".
Isto é, o PS quase deixou de existir. Pelo menos, no habitat natural da política que é o espaço público da comunicação. Porque tem pela frente o poder político regional com a sua gigantesca máquina de intimidação e propaganda. E porque tem à ilharga o PND com quem não consegue rivalizar na produção de sound bytes. Encontra-se mediaticamente encurralado, em suma. Foi a isso que levou a estranha mania de não ser nem carne nem peixe. De maneira que arrisca-se a voltar a bater no fundo antes de conseguir ensaiar nova tentativa para se erguer. Mesmo havendo motivos de sobra para uma punição exemplar ao PSD.
Bernardino da Purificação
2 comentários:
Bem observado!
E,já agora,não é de estranhar que, ao longo de 33 anos, se persista num inglório modelo isolacionista de combate ao Jardinismo?!
Não será que, eivado de habilidosas toupeiras(construtoras de inúmeras capelas)está condenado a ser a Oposição Consentida,"democraticamente" legitimadora da oligarquia dominante?
Ainda hoje assitiu-se a um debate na ALR, cuja fundamentada critica do Dr. Carlos Pereira, merece o nosso aplauso.
Dito isto, não pensem que o nosso Anfitrião não se encontra, lamentavelmente pleno de razão.
O grande e reconhecido problema da RAM, é que muitos alegados oposicioniotas, "jogam nas onze" como diriam os Brasileiros, e jogar nas onze, significa virar consecutivamente de guarda-redes até ponta de lança, durante as oito horas úteis do dia, isto sem contar, obviamente, com as horas extra.
Esta é que é a verdade, porque não me digam que de "Izidoros", aqui só reconhecemos o tal de salsicha !
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