A coisa merece, como certamente compreenderão, algumas notas prévias.
Em primeiro lugar, aquilo não foi uma entrevista. Assumiu antes a forma de um pindérico monólogo ocasionalmente entrecortado por alguns sons vagamente perceptíveis vindos do outro lado da mesa. Em segundo lugar, não teve entrevistador. O que era para ser não passou de um hóspede confuso e agradecido perante um anfitrião histriónico e sem maneiras. Em terceiro lugar, não teve novidades. Limitou-se a ser mais do mesmo, ou seja, um chorrilho repetido que nada de verdadeiramente importante trouxe às notícias ou ao debate político nacional. Em conformidade, e esta é a quarta deste conjunto de notas prévias, os espectadores que ficaram militantemente à espera do espaço de informação anunciado acabaram por ver-se perversamente defraudados - um número de comédia sentada remete-nos muito mais para a área do entretenimento do que para o nobre sector das actualidades. Donde estou em crer que aquilo não passou de uma bem urdida manobra de contra-programação apontada às novelas dos restantes canais, com o envolvimento presencial e passivo de um peso-pesado do jornalismo televisivo, e a colaboração exuberante, prestável e activa de uma das vedetas mais firmes e vendáveis da política cénica à portuguesa. Apesar disso, prometo que não me vou queixar à ERC. Mas juro que me passou pela cabeça colocar a questão à DECO.
Em suma, aquilo foi uma tristezinha. Na forma, como já se viu. Mas muito em particular na substância. Porque Mário Crespo não foi o entrevistador preparado que se espera sempre que seja. E porque o político Jardim não conseguiu resistir ao peso insuportável da sua egolatria.
Palavra que estava à espera de outra coisa. Uma hora de entrevista em horário nobre não é coisa que um político responsável se permita desperdiçar. No entanto, foi isso que Jardim fez. Em vez de adoptar um registo sereno, ainda que firme, o presidente do governo voltou a fazer gala da sua conhecida falta de chá. E ao invés de ensaiar um discurso devidamente sustentado dirigido ao país, o líder madeirense não conseguiu manter sossegado o político autárquico estranhamente apaixonado pelos seus cada vez mais escassos méritos.
Sabe-se que o dr. Jardim não admite conselhos. Não ouve ninguém. E pensa sozinho. Não admira. Ele sabe quem escolheu para trabalhar junto dele. De maneira que prepara as entrevistas tal como vive o dia-a-dia no escritório. Será sempre o único a falar. Há-de debitar, a propósito ou a despropósito, a mensagem que quer transmitir. Não responderá a perguntas porque os jornalistas não mandam nele (quem pensam esses intrometidos que são?). E porque no seu democrático mundo só existem ele e o povo, dará um tom rasteiro ao discurso para olear a comunicação entre ambos.
Como vai acontecendo cada vez mais, o homem engana-se. Como nem perde tempo a pensar nas figuras que faz, não consegue perceber que é preciso mais do que duas ou três desconsiderações ao primeiro-ministro e à classe política nacional para conseguir ser credível e dar-se ao respeito. E como já anda descolado da realidade é incapaz de entender que já não há pachorra para os ódios de estimação que nutre pelos chamados interesses instalados, pelos grupos, grupinhos e grupelhos que alegadamente conspiram contra si, pela classe política em geral, e pela de Lisboa em particular, cujo único objectivo é, segundo diz, tramar-lhe a carreira, e pela comunicação social do sistema que vigia e mantém à distância as ovelhas negras ronhosas. Perceba isso, dr. Jardim. Há cada vez menos pachorra. E a culpa é exclusivamente sua.
Bernardino da Purificação
17 comentários:
Hilariante! Crespo nem conseguia formular as perguntas! Que sufoco!
Aquilo nem foi uma entrevista, foi um verdadeiro monólogo constrangedor e hilariante!
Ainda bem que a malta de lá se diverte à brava com esta palhaçada que nos atingiu em força.
Como todos os espectáculos circenses, um dia o circo vai embora. Já faltou mais.
Abram alas pró Noddy! Só assim ele se candidataria! Ele não conhece o Passos Coelho?! Será que o Miguel Albuquerquer nunca o apresentou?
...e a vida dele foi aquilo que se viu ! como terminaria o poeta.
Realmente, quando é que conseguem convencer esta criatura que o seu reino, encontra-se confinado aos limites dominados pelos seus apaniguados subsidiodependentes ? Isto, enquanto a fonte continuar a pingar...obviamente.
Mais uma vez se viu o exemplo acabado do filhinho único: mimado,birrento,intriguista, insuportavelmente indelicado.
Em suma: um bock!
Um casca de batata que, da generalidade dos Madeirenses, dá uma degradante e risível imagem.
Não conhece Pedro Passos Coelho!?...
Talvez, um dia,tenha de lhe escrever uma "carta de amor", como acaba de o fazer ao "sr. Silva"...
"Pau que nasce torto...".
Até quando,permitirá, a cambada que o sustenta no poder, tamanha e disparatada farsa?!
Caro Pica Miolos, adorei essa do "Bock". Mais palavras para quê...esta figura encaixa-lhe que nem uma luva. Parabens
Vou evitar meter-me em terrenos escorregadios, porque isto de ser ou não ser madeirense tem que se lhe diga...
Sendo assim, vou usar uma fórmula mais abrangente: em vez de "madeirenses", vou utilizar a expressão "habitantes da Madeira".
Adiante.
Quanto a mim, os habitantes da Madeira dividem-se em duas categorias: os cidadãos "normais", digamos assim, e o "Povo Superior".
Ora, o Dr. Jardim, ignorando olimpicamente os primeiros, como é seu hábito, dirigiu a sua "entrevista" apenas aos segundos. Porque estes, trabalhados durante mais de 30 anos pelo poder Laranja, habituaram-se a desligar o cérebro sempre que o grande timoneiro pontifica. Assim, diga o que disser, a sua plateia aplaude incondicionalmente, mesmo que não perceba nada do que está a acontecer. E, mais uma vez, o Dr. Jardim fica a ganhar.
O Dr. Jardim, na entrevista ao Mário Crespo, apresentou-se na condição de Português. Assim sendo Fernando Vouga não precisa temer qualquer reacção que implique, por exemplo, chamarem-lhe "cubano". O Pres. do GR fez questão de dizer que falava para o POVO PORTUGUÊS o tal "que nunca o insultou quando ele se passeia por Lisboa". O homem, do cimo da sua megalomainia, não se apercebeu de que aquele monólogo foi tão rídiculo quanto a entrevista concedida, há anos, ao Mário Crespo pelo inefável major Valentim Monteiro.
Loureiro e Jardim são como a Gabriela. Nasceram assim e vão ser sempre assim... Eles, por um voto, tanto entregam um electrodomestico como ameaçam quem ousar contrariá-los
É óbvio que onde se lê major Valentim Monteiro deve ler-se Valentim Loureiro
Caro Jorge Figueira
O discurso do Dr. Jardim, mesmo que travestido de "nacional", acaba por ter sempre o mesmo objectivo: o povo superior. Porque é o único que lhe dá ouvidos.
Eu nem sequer vi a estrevista, porque sabia muito bem o que iria sair dela: mais do mesmo.
Fernando Vouga
Estou consigo quando diz que a entrevista foi para consumo do povo superior.
Não posso,em rigor, dizer que tenha visto a entrevista. Limitei-me a ouvi-la como ruído de fundo pois também não duvidava de que nada de novo surgiria. Creio, porém, (aqui está a pequena divergência consigo)que, lá bem no fundo, o actor representava para o palco nacional. Tentava trazer ao seu redil "ovelhas" representativas da mentalidade de povo superior. Elas não se esgotam por cá, também as há no continente, prontas a deixarem-se encantar pelo discurso que surtiu efeito na Madeira e poderia, dizem-lhe os neurónios megalómanos, constituir as tropas de choque para ganhar eleições no espaço nacional.
Caro Fernando Vouga, em meados de Junho de 1974, uma organização de trabalhadores da construção civil, organizou uma MANIF, a ter lugar pelas 14 horas de um dia da semana, em frente ao Palacio de S. Lourenço.
O objectivo da dita, era mostrar o desagrado dos ditos trabalhadores, relativamente a recentes medidas tomadas pelo então Presidente provisório da Junta Governativa da Madeira, Ex.mº Sr. Dr. Fernando Rebelo.
A frase de ordem era simples - "Fora com o Rebelo".
Acontece que os manifestantes foram previamente dispensados de trabalhar nesse dia, por forma a apresentarem-se em força pelas 14 horas no referido local. Até lá...obviamente que a tasca funcionou e bem.
Resultado, durante a dita, os da frente diziam "fora com o Rebelo" e os mais distante e totalmente a leste do motivo da dita, berravam em força "Vai cortar o cabelo".
Assim são ainda hoje os apaniguados do nosso grande lider, berrar berram, só que a única coisa que sabem é que agradam ao dito.
Caro Monteiro Vouga
Permita-me,meu caro Amigo, que coloque algumas reticências à sua variante "habitantes da Madeira".
Sendo certo que, ao longo dos tempos, muitos foram os Continentais(tal como cidadãos estrangeiros)que elegeram e adoptaram, afectivamente, a Madeira como o local, onde,pelas mais variadas razões (casamento,actividade profissional, clima, belezas naturais,...),lhes agradou passar a viver,essa factualidade nunca constituíu motivo para renegarem ou tornarem-se párias das suas origens.
A ligação, psicológica e emocional,à terra que os viu nascer,estará(salvo em casos de esporádico e acidental percurso familiar)sempre presente no seu imaginário.Tanto pelas melhores como pelas menos felizes recordações.
Ao caso, seremos todos habitantes, cívica e/ou harmoniosamente integrados,porém, sem deixarmos de,pelas melhores ou pelas piores motivações,sermos o que somos:
Portugueses(Minhotos,Transmontanos,(...)Algarvios,Madeirenses,Açorianos);
Ingleses;Alemães;Ucranianos;
Chineses;(...).
Assim,dos respectivos conterrâneos,todos,sem excepção,serão orgulhosos dos Homens Bons; muitos,sentir-se-ão constrangidos, e bastante envergonhados,pelos comportamentos dos emproados, desonestos, oportinistas e ardilosos,farsantes.
Um abraço.
Corrigenda:
Onde se lê "oportinistas"(por lamentável gralha) deverá ler-se "oportunistas".
As minhas desculpas.
Tem carradas de razão! hilariante, pindérico, jornalismo acocorado!!!
O servilismo elevado ao máximo expoente e ambos com mum denominador comumn: nível rasca!!!
Caro António Trancoso
Eu insinuei que, ao enveredarmos por esse caminho de definir o que é ser ou não ser madeirense, poderíamos dar algumas escorregadelas.
Mas é com todo o gosto que acrescento algo ao que até aqui foi dito sobre o assunto. O autor deste espaço "blogosférico" que nos perdoe pelo abuso de confiança, já que nos estamos a desviar do tema.
Tendo em atenção que o que vou dizer se aplica a qualquer país, região ou mesmo urbe, deixo apenas uma pergunta no ar: por mais ligações que se tenha à terra de origem, quem é que é mais madeirense? Aquele cuja mãe estava na Madeira aquando do seu nascimento ou aquele que escolheu esta terra maravilhosa para viver?
Caro Monteiro Vouga
Não me parece que estejamos a sair,tanto,do tema.
Não me resta qualquer dúvida acerca da estima e respeito que, não originários,nutram por esta Ilha. E,sei,que se sentem tão incomodados,como os naturais,com as tropelias e desaforos da troupe dominante.
Porém,resta-lhes,sempre,o recurso à isenção de uma naturalidade,que,factualmente,não beneficia os sérios aborígenes.
A condição de Madeirense,extra-muros,constitui,cada vez mais,um generalizado estigma, decorrente de uma crescente reserva mental. Reserva essa,alimentada pelos grosseiros comportamentos dos alcandorados ao poder,designadamente,pelo ridículo "maestro" que os rege e instrui.
O que é dramático,é ser confundido com a imagem,indiscriminada e institucional, de todos os autóctones.
Um abraço.
Desconhecia este brilhante centro da boa critica independente, não tivesae a oportunidade de lêr o indispensavel "Garajau".
Simplesmente, bravo ao grande artista do Bernardino.
Analisados os comentários, proponho um apoio generalizado ao que simplesmte (e que é muito) aqui se discute.
Finalmente encontro homens de bem, preocupados com a Madeira .
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