Quem se dá ao prazer de observar e comentar a política madeirense precisa às vezes de andar de lupa à procura de novidades. As coisas por cá movem-se lentamente. Apesar do frenesi da vozearia episódica. A despeito da roupagem nova com que se vão vestindo as coisas velhas.
Descontemos alguns pequenos episódios que emergem da espuma dos dias e nos dão a sensação de que, afinal, a política move-se. Se o fizermos, veremos que o resultado deste exercício de uma aritmética a todos os títulos fastidiosa, não será mais do que a constatação de que hoje, tal como ontem, exactamente como anteontem, e muito provavelmente como amanhã ou depois de amanhã, há linhas de continuidade e permanência que não mudam.
Ainda bem que assim é, dirão os conservadores no respaldo da grande maioria que têm. Nada melhor para a confiança do que o conforto da previsibilidade. É lamentável que assim seja, retorquirão os auto-denominados progressistas. Não há nada mais benéfico para um pântano do que a espessura viscosa das águas paradas. E entre uns e outros vai-se movendo o dr. Jardim, cem por cento fiel aos ensinamentos de Lampedusa. É preciso mudar sempre qualquer coisa para que tudo possa ficar mais ou menos na mesma. E como ele tem mudado as coisas! E como ele tem conseguido a proeza de fazer com que tudo vá estando na mesma!
Sem prejuízo do que precede, há duas notas que me ocorre fazer.
A primeira é a de que nunca como agora a oposição conseguiu fazer tanta mossa. Não vou ao exagero de sugerir que o PSD possa estar encurralado com a questão dos quinhentos milhões que se terão perdido da UE à conta da irresponsabilidade de reivindicar para a Madeira um PIB que todos sabemos irreal. Mas posso assegurar que não me lembro de alguma vez ter visto o partido do poder tão à defesa, tão exposto ao ataque político certeiro, tão vulnerável a uma crítica que toda a gente seja capaz de entender.
É claro que falta ainda muito para se perceber o impacto futuro deste pequeno milagre que agora se surpreende na política madeirense. É necessário esperar pelos efeitos. Do mesmo modo que é preciso verificar se a oposição (e, em particular, o PS) está em posição de continuar a embaraçar o poder da forma como neste caso tem feito. Aguardemos, pois. Porém, com a atenção que se deve dispensar aos momentos e factos susceptíveis de apressar o futuro.
Enquanto esperamos, permitam-me que sugira o acompanhamento de um folhetim que, pelos vistos, está já em curso. Refiro-me ao recrudescimento da querela entre o dr. Jardim e o DN. A coisa desta vez parece séria, independentemente de poder vir a acabar com mais um costumeiro armistício. Mas posso também jurar que nunca vi o dr. Jardim utilizar a linguagem que vem utilizando como forma de atingir o actual director do Diário de Notícias. Do mesmo modo que não me lembro de algum dia ter visto o dito cujo director ser tão frontal na resposta à incontinência presidencial. Pelos vistos, o tempo agora é diferente do das meias-verdades e das prosas às avessas de um passado não muito longínquo. Agora é a sério. E como a utilização perversa do JM para atingir o DN (por via, entre outros mimos, da prática de dumping na comercialização da publicidade) é coisa ainda bem viva, chamo a atenção para os próximos capítulos de uma novela que tem como protagonistas dois "queridos inimigos" novamente desavindos. É que às vezes o diabo tece-as. E até às querelas de trazer por casa se pode aplicar a máxima de que se sabe como começam, mas só no fim delas se pode saber como terminam.
Observemos, pois. Até porque, em bom rigor, nada mais poderemos fazer.
Bernardino da Purificação
4 comentários:
Sem dúvida que a relação do Poder com o DN, nestes trinta anos, passou por diversas fases. Não perfilho a ideia do Bernardino que admite que algo esteja em efectiva mudança entre o "ex-futebolista" - através dele o DN - e o Dr. Jardim. Bem gostaria que ele (Bernardino) tivesse razão e que o "armstício" não viesse a contecer. Isso significaria que o Dn, fazendo jus à sua costela britânica, fora capaz de criar uma opinião pública participativa e informada. Essa pequena revolução levaria à imediata queda deste hilariante poder que nos desgoverna. O temor deles é esse...
Curiosamente o JM deu hoje um tiro no pé ao relatar o caso do cauteleiro que aldrabou os convivados do dr. Jardim!
O AJJ faz a sua habitual lavagem cerebral ao velhinhos que as autarquias laranjas enviam à Madeira e um madeirense faz-lhe isto. Isso não se faz! O "nosso" presidente esforça-se ao máximo em pintar a Madeira como o paraiso na terra e deixa uma porta aberta para fazer o mesmo no Continente e vem um madeirense borrar a pintura. Os velhinhos que vão a cuba operar as cataratas vêm de olhos abertos mas não se queixam de terem sido roubados! Já não a respeito pelos protegidos do "nosso" padrinho!
A efectiva diferença entre o Sr. Luís Calisto e o Dr. Jardim, é que o primeiro sempre foi um lutador e um reconhecido vencedor nas artes que até agora avocou, enquanto o segundo, efectivamente, nunca passou daquilo que actualmente representa, um efectivo zero à esquerda, para mal dos nossos graves pecados...!
o dn dá mais jeito ao psd do que o jm, como é evidente.
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