Ele há pessoas assim. Calam-se quando as circunstâncias exigiam que falassem. Mas falam pelos cotovelos quando deveriam ficar calados. Uma vez que não sei se a ciência tem nome para isto, peço desculpa por classificar prosaicamente a coisa como um síndrome da incontinência verbal conjugado com uma desordem de descompasso com o bom senso e com o sentido do timing.
O senhor conselheiro Monteiro Diniz é o caso mais recente do cúmulo destas duas padecências. Durante a crise de legalidade que o partido do poder impôs ao parlamento regional, refugiou-se no recato do palácio que habita. Porém, agora que a legalidade formal regressou à casa da nossa representação política, aí está ele num corrupio de declarações e entrevistas. Dizendo disparates que, sorte dele, nenhuma entidade sindica. Exibindo uma parcialidade que as suas obrigações de Estado não deveriam tolerar. E denotando uma leviandade absolutamente incompatível com o luzente currículo que ostenta e, pior do que isso, com a função que desempenha.
A insigne criatura deu neste fim-de-semana uma entrevista ao Sol. Embora sua excelência nada de jeito tenha dito, permito-me recomendar uma leitura às parvoíces que disse. Podem crer que são interessantes. Quanto mais não seja, porque revelam a inutilidade perniciosa das funções que desempenha.
Vejamos então o que disse o senhor representante.
Procurando justificar a ruidosa omissão do Palácio de Belém perante os factos parlamentares recentes, o conselheiro Diniz declarou ipsis verbis: "Não sou eu nem o senhor Presidente da República quem pode resolver estas crises. É o povo madeirense. E o povo madeirense, quando chega às eleições, não tem alternativas e mantém o mesmo partido no poder".
Sem o devido respeito, apetece-me responder a este arremedo justificativo. Para dizer, em primeiro lugar, que ele nada justifica. Para sublinhar, em segundo, que ninguém está à espera de ver o conselheiro Diniz a resolver o que quer que seja, muito menos as crises que possam ocorrer no nosso parlamento. E para explicar ao senhor representante da República que o facto de o povo madeirense votar assim ou assado não dá o direito a ninguém, muito menos ao chefe de Estado, de furtar-se aos deveres de intervenção que as leis admitem e as circunstâncias exigem. Pelo contrário. Num quadro político como aquele que descreveu o conselheiro Diniz, todas as omissões perante o arbítrio da ilegalidade jogam sempre a favor de quem o pratica. Constituem uma prova de indecente parcialidade. E a ausência de censura política beneficia sempre quem prevarica só porque quer e pode. Porém, e pelos vistos, a vida ociosa que o ex-senhor ministro leva no palácio já nem lhe permite enxergar aquilo que a razão parece dar como óbvio e tem como evidência.
Diz depois sua excelência que, no final de contas, a culpa do despautério que ocasionalmente se instala na política regional reside, cito, numa "cultura comportamental que se vem acumulando ao longos dos anos". Ora, só faltava mesmo o recurso à sociologia de trazer por casa! Então o agente político que o senhor representante também é não compreende que o que deve escrutinar-se na política são os comportamentos de indivíduos ou de grupos de indivíduos? Não percebe que é perversamente desresponsabilizador explicar o relapso desvario de alguns enfiando toda a gente no saco da mesma "cultura comportamental"? Não enxerga, em suma, que justificar dessa forma a emergência de uma crise como a que ocorreu recentemente só dá jeito a quem a provocou? Pelos vistos, não. Nem o ex-senhor ministro, nem quem lhe deu autorização para tal profusão de disparates.
Mas a pérola mais interessante da entrevista pode ser encontrada já quase no fim. Diz o conselheiro Diniz que a Madeira não é uma terra sem lei. Tem razão. De facto, não é. Em bom rigor, a Madeira é só uma terra onde às vezes (sempre que lhe apetece) o poder se marimba para a lei. Mas isso, claro, a insigne criatura não foi capaz de dizer. O brilho embaciado do seu raciocínio só o deixou ir a este ponto, e cito de novo: "Criou-se a ideia de que aqui faz-se tudo o que se quer. Não é assim. O presidente do Governo Regional controla muita coisa, mas, na área legislativa, o controlo é feito por mim". Valha-nos o Altíssimo. Mais um bocadinho e o representante enfatuado ainda reconhecia que tem um pacto com o dr. Jardim. Um controla tudo. O outro controla as leis. Todas? Claro que não. Como é sabido, só as que o parlamento democraticamente eleito se dá ao ao trabalho de produzir e aprovar. As outras, isto é, as que são sistematicamente violadas por quem manda, ficam por conta da cultura comportamental vigente. Abençoada República que tal representante tem! E bendita Autonomia que tal cargo consente!
Bernardino da Purificação
8 comentários:
Brilhante caro Bernardino. Realmente temos merecidamente aquilo que temos.
Julgo que este Representante ainda é o mesmo que hà una anos atrás defendeu à saciedade, a legitimidade da sua ilegitima ocupação do Palácio de S. Lourenço. De tal forma, que excluiu a entrada do dito a todos aqueles que tornaram publico que o seu "Palácio" ocupado pela republica, mitigava para o exterior o nosso conceito de autonomia, dado tratar-se do edificio mais emblemático desta Região.
Pois é, aqui, contrariamente ao pensamento de alguns, cumpre-se com a lei controlada pelo Representante, já que a pratica,,leia-se, ocupação do palacio pelo Representante) essa encontra-se previamente dependente da excelesa vontade do Senhor Presidente.
E viva esta saloiada democrática.
julgo que estes anonimatos de blogues anti-ajj são espelho da causa de o psd ganhar sempre.
covardia com prejuízo para a madeira.
Também eu julgo que estes anónimos que simulam desejar a derrota do PSD/M e que juntam nos seus comentários de 2 linhas as siglas PS e PND são uma e única pessoa!
Curiosamente não me tinha apercebido que os blogs anónimos criariam tantos anti-corpos junto do eleitorado que este se voltaria para o PSD! Afinal parece que o eleitorado madeirense não é infoexcluído!
Não me parece que o que faz e o que diz esse senhor tenham qualquer importância.
Faz-me lembrar um relógio suíço: não adianta nem atrasa.
Os anónimos e heterónimos preocupados com os anónimos e heterónimos.
Até parece quela critica do roto ao esfarrapado...enfim, parece que voltamos aos velhos problemas de rilhafoles.
Amigo Bernanrdino, nem continente, mas um pouco mais incontinente.
Como tal, que comentar sobres as negociatas do BPN com a Vice presidencia, obviamente, acautelada através dos seus legitimários comissionistas, tudo isto sem conhecimento nem concurso público.
Socorro, onde está o Director da Cadeia. Há crise de overbooking ?
Alguns dos anonimos comentaristas estarão porventura ao serviço da maioria que nos (des)governa. Não sei, como a maioria dos leitores do blog, quem está por detrás do pseudónimo Bernardino da Purificação.
O comportamento do Representante da República na entrevista reflecte a displicência e frouxidão com que o Estado Português, há 30 anos, nos trata. Aceita, sem qualquer hesitação, o aviltamento do exercício dos direitos de cidadania. Isto é: o GR exerce permanentemente, sem mandato para tal, direitos que são nossos.
Ahhh!!!!!!!Eu não sabia!
Coitado do Senhor!
Também já tem uma certa idade e essas coisas acontecem.
Estou a lembrar-me do meu avô (que Deus tenha)que,também, quando lhe falavam mais grosso,molhava-se todo.Às vezes até era pela frente e por detrás...
Eu cá acho que não se devia incomodar quem sofre e só dar-lhe boas notícias e mimos. Muitos miminhos.
Para dar o exemplo,estou a pensar mandar-lhe, pelo correio,como prendinha de Natal um pacote de fraldinhas.
Não é muito(porque a vida não me permite grandes avarias) mas é com muito carinho.
Se muita gente fizesse como eu,o problema não era tão desagradável.
Quem é que não acha?!
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