terça-feira, 11 de novembro de 2008

Cavaco, a Autonomia e o ademais

O senhor presidente da República tem coisas mais importantes com que se preocupar. Os atropelos à legalidade democrática verificados no parlamento madeirense não passam de um exacerbamento, de grau escasso da escala cavaquista, da tensão inerente ao confronto político. E, ademais, a República tem na Madeira um senhor que a representa com capacidade para lidar com as excentricidades locais.
Manda o rigor que reconheça que não estou a citar ipsis verbis as declarações proferidas pelo senhor presidente da República. Porém, espremidinho o que disse, a coisa não passa desta indigência de raciocínio.
É evidente que o desemprego e a crise financeira são muito mais importantes do que quaisquer afloramentos totalitários ocorridos, ou em curso, na pérola do Atlântico. Os primeiros dizem respeito a todo o país. Os segundos não passam de mero folclore local.
Do mesmo modo, é claro para todos que os efeitos da intensidade do confronto político da RAM já fazem parte do anedotário nacional. O chefe de Estado tem assim carradas razão. Presidente da República que se preze não deve ceder à sedução da anedota.
Quanto ao ademais, a pátria não ignora que a Madeira alberga, por obra e graça do legislador constituinte, uma vetusta figura com poderes de representação da República. Não o ignora a pátria dos magnos problemas. Nem, muito menos, o exotismo folclórico desta pequena parcela. Às vezes é mais patusca do que vetusta? É sim senhor. Porém, compreenda-se. Entre a relevância dos cargos e o perfil particular de quem os ocupa deve haver sempre uma correspondência apropriada e visível.
De maneira que, meus amigos e caros concidadãos, a Madeira acaba de ser declarada em estado de autonomia total, tal como têm vindo a reclamar os mais fervorosos e radicais autonomistas, a começar, já se vê, por esse heróico espadachim autonómico que dá pelo nome de dr. Jardim. Porque o presidente da República não quer saber de nós, mesmo quando é atropelada a legalidade democrática. E porque, como se tem visto em todo este nada surpreendente processo, o representante regional da dita é mais expedito a comentar comentadores e políticos da oposição regional do que a condenar a prática deliberada de ilegalidades.
Estamos finalmente entregues a nós próprios, é o que é. Que é como quem diz que estamos entregues ao arbítrio de um poder a quem é dada a indecente indulgência dos casos perdidos. Dêmos, pois, graças ao Altíssimo. E, de caminho, agradeçamos a um presidente da República que, no intervalo dos seus inúmeros afazeres, é capaz de reconhecer a existência de ilegalidades, embora prefira deixá-las ao sabor dos caprichos de quem as pratica. E, já agora, tributemos também ao senhor presidente do Governo regional (e, em seu nome, à clique que chefia) o reconhecimento sincero que lhe devemos por fazer o que faz, apesar da rédea solta que tem. Não fosse ele um campeão da democracia e estaríamos todos bem arranjados...
Que mal fizemos nós?!
Bernardino da Purificação

5 comentários:

Anônimo disse...

A democracia é defensável, em última instância, pelo MP e pelos Tribunais. Além das eleições, claro!
O resto é conversa.
Sócrates é muito democrata.
Corrupção não há em Lisboa.
PObreza não há em Lisboa.

Se CSilva dissolvesse a ALR da RAM seria um exagero e uma inutilidade: AJJ ganhava de novo, o PND-M de BA poderia perder o seu deputado, o PS-M poderia passar de 7 (os actuais não foram eleitos, quase nenhum) para 6 deputados e o MPT para 2...

Anônimo disse...

Portugal vive uma democracia curiosa, ou mesmo ridícula.
Todos os cidadãos têm a liberdade de tornarem públicas as suas opiniões.
Porém, a dar crédito às palavras do próprio, o mais alto Magistrado da Nação, o Presidente da República, é o único cidadão que, por Lei, está impedido de dizer o que pensa. Pode falar, mas com a condição de não dizer nada.

Anônimo disse...

Que mal fizemos "nós" ?!

Claro que "fizemos".

"Elegemos":

Múmias paralíticas,revanchistas feitos democratas à pressa,vigaristas engravatados,vira-casacas emproados...

E "vamos" continuar a fazer (!)

Anônimo disse...

Pois meu caro Bernardino: "que mal fizemos nós?" Vivemos num País cinzentão onde os eleitos apenas trabalham para o voto da eleição seguinte. Cavaco, nesta apagada e vil tristeza, também lá tem o seu lugar. Onde andará o cidadão que, criticando Santana Lopes, denunciou "o monstro" e disse que a "má moeda expulsa a boa moeda"? O Homem tudo esqueceu e vai, falta após falta, relevando todas as que por cá se cometem. Ele tem o dever de conhecer os trilhos que pisa desde os remotos tempos em que,como Min. das Finanças, perante a louca despesa de um autarca disse: "você devia estar preso". Hoje só vê razões para elogios

amsf disse...

O sr. AJJ, a semana passada, a propósito da ALM, lamentavasse que a legislação da república não permitia que se resolvesse o problema à sua maneira! Ontem incentiva a população a perseguir a oposição e depois dirá que não têm nada a ver com o assunto como no caso do deputado Coelho, agredido por um "levadeiro" - agora condenado - supostamente a mando do Savino! É bom que voluntaristas deste género sejam condenados em tribunal para desencorajar alguns idiotas e incondicionais úteis do PSD/M!