Há uma espécie de regra não escrita da prática política que impõe aos governos a necessidade de renovarem periodicamente a legitimidade de que são portadores.
Não me refiro, como é evidente, à legitimidade formal que o estado de direito exige que tenham. Não há democracia sem eleições. Logo, não há governos democráticos sem a unção do voto popular. Mas como a democracia não termina nem se esgota no mero cumprimento dos seus próprios formalismos, não há chefe de governo democrático que não precise de mais qualquer coisa para se sentir permanentemente legitimado. A menos que se esteja nas tintas para os cidadãos que o elegeram.
Como já se percebeu, este qualquer coisa de que falo é o cuidado que têm os governantes de verdade de auscultarem em permanência os sinais dos tempos que passam. É verdade que, no nosso caso, se governa para quatro anos. Mas é igualmente verdade que os ciclo políticos nem sempre correspondem ao tempo de duração de uma legislatura. É por isso que qualquer sistema democrático salvaguarda a possibilidade de se poder interromper esses ciclos. E é por isso também que que os mecanismos informais de escrutínio da actividade governativa têm ganho, nos últimos anos, um lugar cada vez mais importante nas sociedades hipermediatizadas em que vivemos.
Em suma, para além da legitimidade formal que qualquer sistema reclama que tenham, os governantes necessitam do conforto e do amparo de uma outra. Há quem a designe por legitimidade de exercício. E, em termos práticos, não é mais do que a percepção clara de que, em todos os momentos da legislatura, as medidas de quem governa têm o aval e vão ao encontro das expectativas e necessidades dos governados.
Não há governo democrático que se permita dispensar esse aval. E isto é de tal modo verdade que por todo o lado vemos multiplicar os barómetros e os estudos de opinião. Do mesmo modo que é cada vez mais frequente a antecipação de eleições, tanto por iniciativa de quem governa, como em resultado de uma decisão nesse sentido por parte de quem tem o poder supremo de interromper os ciclos eleitorais. A demissão de Santana Lopes e a convocatória antecipada de eleições regionais na Madeira são exemplos recentes do que se acaba de dizer.
Porque já vai longo o intróito, passo já aos finalmentes. O que pretendo colocar sobre a mesa é uma questão muito concreta. A seguinte. Não havendo dúvidas de que o governo do dr. Jardim tem toda a legitimidade formal para se manter em funções, até que ponto tem actualmente o amparo da outra de que acima falei?
Como não estou na cabeça do dr. Jardim, desconheço por inteiro o que é que, sobre a matéria, sua excelência acha ou deixa de achar. Mas por analogia com o que se passou há um ano e pouco, atrevo-me a presumir o que é que ele deveria achar.
Explico. Por meras razões de interesse político pessoal, o dr. Jardim decidiu interromper a meio a última legislatura. Mas como era feio confessar o egoísmo da sua decisão, o presidente do governo resolveu oferecer como razão o entendimento de que a Madeira estava a ser estrangulada pelo Terreiro do Paço. De maneira que ele (pobre dele!), colocado entre a espada e a parede, não teve outro remédio se não optar galhardamente pela espada.
Os resultados da manobra são conhecidos. A mensagem foi convincente. E a Madeira em peso entronizou o seu excelso presidente, seguramente à espera de um novo tempo, de uma nova governação, de um novo modo de driblar as dificuldades. Debalde, como todos os dias se percebe. Porque o tempo continua exactamente o mesmo. Porque a governação mantém exactamente os mesmos traços e as mesmas caras. E porque as únicas coisas que todos vemos virtuosamente dribladas são as expectativas dos madeirenses.
Estarei a defender com isto uma nova ida às urnas antecipada? Podem crer que não, sem embargo de constatar que as presidenciais razões de há mais de um ano atrás continuam a ser, tanto no tom como na substância, invocadas até à náusea. Mas julgo que não exagero se me sentir no direito de exigir a quem me governa que tenha ao menos a decência de um gesto de refrescamento da sua legitimidade de exercício.
Eu sei que o dr. Jardim se diz avesso a remodelações. Isso não passa de fita, como se sabe, porque todos temos ainda presente o chuto no traseiro que um dia levaram os drs. Lélis e Gaudêncio (essa história, aliás, ainda está por contar em todos os seus deliciosos detalhes). Mas se a economia se afunda, se o desemprego sobe, se o desperdício está patente, se a desconfiança alastra, se a falta de um rumo é uma clara evidência, de que espera o presidente do Governo para emitir um sinal, por muito ténue que seja, de que, tal como há ano e pouco atrás, se preocupa com o futuro da Madeira e dos madeirenses? Ou será que não se preocupa? Ou será que para ele é indiferente que a política posta em prática pela equipa que o acompanha desde 2000 se tenha traduzido no imenso fracasso que já ninguém consegue esconder?
Como se imagina, as respostas cabem-lhe a ele. E mesmo que o não queira, elas serão dadas todos os dias. Se não em palavras, seguramente nas acções e omissões com que a sua cada vez mais notada falta de pachorra nos vier a brindar.
Bernardino da Purificação
7 comentários:
Não me surpreenderia que ele voltasse a usar o mesmo truque! Não para averiguar da sua legitimidade mas para cimentar o seu poder popular através do conflito com Lisboa pois os aliados regionais que assegurou nestes anos, tendo por base os milhões, começam a desertar! Os "grandes líderes" não gostam de "morrer" sozinhos!
Bem observado. O governo da casa está difícil e o "governadeiro" não tem já capacidade de criar novos factos políticos. Futebolisticamente é aquele jogador que faz sempre a mesma finta e o adversário já lhe conhece o truque não se deixando enganar. A participaçaão na procissão dos milagres ter-se-á devido ao facto de sentir que o pouco que produzíamos está a desaparecer? Os homens da construção civil que vieram da lavoura e das pescas agora não têm galinhas no galinheiro nem porco no chiqueiro... vão querer comer para eles mulheres e filhos. Já sei Jersey com eles...
Parece que o AJJ não quer que se saiba que o campo do Marítimo não é uma prioridade (ver comunicado na última página do JM) mas por outro lado dá ordens à CMF (ver DN) para criar dificuldades ao projecto. Numa coisa estamos de acordo, o referido equipamento desportivo não é prioritário, no entanto o sr. AJJ não quer assumir pessoalmente tal decisão. Será que Miguel Albuquerque aceita ser o bode espiatório perante os adeptos do Marítimo?! Esta é a tal coragem que tantos lhe elogiam!?
Trata-se de um dos inquéritos sobre ilegalidades nos serviços da Câmara Municipal de Lisboa, cuja investigação está a cargo da equipa especial coordenada pela procuradora-geral-adjunta Maria José Morgado.
No despacho agora proferido, o MP acusa o ex-presidente da Gebalis, Francisco Ribeiro, e dois vogais do conselho de administração de terem utilizado verbas da empresa municipal para despesas ilegais.
Os administradores da Gebalis demitiram-se em 2007, após a Comissão Nacional de Eleições ter considerado irregular o pagamento pela empresa de um concerto do cantor Toy, no âmbito da campanha de Carmona Rodrigues às eleições intercalares para a Câmara de Lisboa.
Estão todos enganados, o nosso incontornável Presidente, sonha no curto prazo treinar o Club Sport Maritimo.
Quem sabe ele não terá mais geito para aquilo...! Pelo menos a linguagem utilizada, encontra-se bem mais perto do vernáculo do seu dicionário de bolso.
E para a porrada, seguramente que contará com a imprescindivel presença do seu Vice, criatura com largas provas dadas nessa matéria.
Há muita coisa por esclarecer. O grande lider, porém, mantém-se calmo. Quem viver verá que o homem é um Santo. Ele está é mal acompanhado. Ora vejam se aquele Sr., com nome de Agência funerária, alguma vez disse que estavamos em dificuldades. O chefão não advinha as dificuldades se não for informado delas. No momento certo dirá: coitadito de mim sou ignorante em questões económicas aprendi aquleas do Keynes e fui chutando mas os imbecis que me acompanhavam etc.....Cuide-se (A)Ventura Carcês!
Sabe-se que a direcção do Marítimo, fazendo a gestão do presente (e hipotecando o futuro) estará prestes a adjudicar a obra dos Barreiros ao projecto alternativo que apresenta custos por metro quadrado 50% superiores às das restantes propostas.
O Governo Regional terá feito o devido, havendo informações terá clarificado o apoio a conceder (31,5 milhões), limitando-o ao valor da componente desportiva do projecto. Fez bem e terá dado liberdade ao Clube para decidir conforme achar por bem, podendo construir (ou planear para construção futura) para além da componente desportiva, agora que está esclarecido que as condicionantes de uso desportivo impostas na cedência do antigo campo do Nacional por cidadãos funchalenses associados, em meados do século passado, apenas se aplicavam a menos de metade do terreno actual.
Os problemas e contras daquela opção são grandes, mas tudo parece estar direccionado para ali:
Esse projecto alternativo apenas constrói (a altos custos) a parte desportiva e impede qualquer possibilidade futura de viabilização da estrutura através da inclusão de espaços comerciais. Típico de gestores de hoje que apontam apenas para a inauguração e não para um futuro sustentado.
De salientar que um restaurante e um bar de venda de amendoins não fazem deste espaço um espaço “comercial”. No mínimo, é de esperar, é possível e está considerado no projecto-base (e não nesta alternativa), uma área de 10 mil metros quadrados com fins comerciais.
O projecto alternativo valerá 20 milhões (600 Euros/m2 x área a construir) mas custará 31,5 milhões (valor proposto).
O projecto base (numa das suas possíveis variantes) custaria os mesmos 31,5 e asseguraria a mesmíssima componente desportiva, mas incluiria áreas vazias e em tosco, disponíveis para futuros usos e investimentos comerciais. Não sendo necessário, agora, mais dinheiro. No futuro, quando fossem oportunos e possíveis, esses processos seriam desencadeados. Uma opção para gestores com visão. Que, esperemos, demonstrem que o são, os actuais dirigentes do Marítimo.
Curiosamente, o projecto alternativo é… igual ao do Nacional. Requentado. Como deseja o presidente deste clube adversário que, assim, manietará Carlos Pereira “obrigando-o” a ter, como ele, um “elefante branco”. Não optando por distribuir as bancadas à volta de todo o campo, esta alternativa faz subir o impacto visual e a volumetria. Penalizando a cidade e a vizinhança e reduzindo a qualidade do ambiente de jogo (veja-se onde há mais actividade nos estádios ingleses).
O projecto alternativo é … alternativo. E não uma variante à proposta base que o próprio Marítimo colocou a concurso. Ora, assim, será uma proposta ilegal face às condicionantes colocadas a concurso. O que motivará ou poderá motivar as reclamações justas e procedentes dos restantes concorrentes. Afinal, se uma assinatura em falta afastou um concorrente, como pode ser mantida a concurso uma proposta alternativa (e não variante) fora do objecto do concurso? Afinal, também, a definição de proposta variante é clara e está indicada na legislação utilizada – e já descontinuada - para este procedimento legal (concurso).
Com o prejuízo do Marítimo e de recursos financeiros públicos envolvidos, poderá agora, acontecer o que aconteceu no Estádio da Serra. Quando se cobram 31,5 por algo que vale 20, sobram 11,5. Dará para “calar” e abafar as reclamações dos concorrentes lesados (1 a cada), para pagar a publicidade nas camisolas da equipa por 5 anos (mais 5) e sobrará ainda, para além da margem de lucro da obra, outros 5, para o empreiteiro. Depois, será mais difícil, mas, para ser tudo igual, teremos um novo Estádio gémeo ao da Choupana, que terá o nome de Carlos Pereira. Ao fim dos 5 anos, sem qualquer meio de subsistência que não os minguantes apoios públicos, o Estádio mudará o seu nome para Estádio da RAM e rogará por mais alguns subsídios. Pois o Estádio não terá outra forma para ser mantido e o Clube, gradualmente, se afundará em problemas económicos. Virá outro presidente, depois do actual ir para o Brasil e o Clube juntar-se-á a outros históricos desaparecidos. Basta lembrar o Boavista, Amadora e Setúbal. E, antes, os emblemas algarvios…
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