quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Política pós-moderna

O dr. José Miguel Mendonça fez o favor de anunciar à Região que é partidariamente assexuado. Julgo que não exagero se disser que adorámos todos saber que sua excelência olha para a política com o mesmo distanciamento com que os anjos olharão para o pecado da carne. Já era tempo de um dos nossos políticos mais proeminentes ser capaz de brindar-nos com a surpresa de uma revelação original. Bem haja por isso, dr. Miguel.
Não é que o sexo político do dr. Mendonça fosse coisa que algum dia pudesse interessar a alguém (a não ser talvez a quem ainda acalentasse a esperança de um qualquer devaneio político-partidário com sua excelência). Não é, de facto, isso. Mas a circunstância de tão desassombrada revelação ter partido de alguém que é sobretudo conhecido pela pose e pelo silêncio, muito mais do que pela substância ou frequência do verbo, faz a meu ver toda a diferença. De maneira que ao ler no jornal a impúdica exposição da sexualidade partidária do dr. Mendonça, tive a sensação de que estava perante um daqueles raros momentos que definem o tempo histórico. A partir de agora, pensei, haverá seguramente um tempo antes e um tempo depois da freudiana confissão do presidente do nosso parlamento. E tudo porque, de repente, fiquei (ficámos) a saber que os partidos têm sexo, que as ideologias provavelmente também, e que os campos políticos deixaram de dividir-se em direita e esquerda, como vinha sendo uso desde o 14 de Julho dos franceses e de quase todo o mundo. Se calhar sem o saber, o dr. Mendonça inaugurou um novo tempo político. Um tempo político pós-moderno. Em que há partidos machos e partidos fêmeas. E em que há políticos eunucos destituídos de pulsão político-sexual. Como serão, presumo, todos os partidariamente assexuados.
Palavra que me agrada e diverte a grelha analítica que resulta da tese. Por exemplo, o dr. Mendonça, que já foi do PS e agora é do PSD, já terá sido macho e fêmea. Como saltitou de um lado para o outro, ou foi travesti ou foi um transsexual partidário. Pode até acontecer, no limite do raciocínio, que tenha sido gay antes de se decidir pela masculinidade de um partido ou pela feminilidade do outro. Mas isso agora também pouco importa dada a sua presente, anunciada e assumida condição de politicamente assexuado.
Veja-se bem a importância das coisas que integram o discurso político da terra! Não se discute o sexo dos anjos. Discute-se o sexo partidário dos políticos. Ora, com gente desta a mandar só nos resta ter esperança. De quê não sei bem. Mas juro a pés juntos que a minha esperança se renova de cada vez que ouço alguém dizer pérolas similares às que proferiu o dr. Miguel Mendonça. E quando conjugo tudo isso com a certeza de que a política madeirense se prepara para mais uma guerra dos sexos centrada na transcendente questão de saber se Bernardo Martins vai ou não ser eleito vice-presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, nessa altura não só tenho esperança como passo a confiar ainda mais no futuro. Ou não fosse verdade que a candente querela entre o PS e o PSD (já agora, qual deles será o macho e qual dos dois será fêmea?) é tão importante para o futuro da política madeirense que até arregimenta essa formidável agremiação política que dá pela sigla MPT, e esse notável político do oeste insular que responde pelo nome de João Izidoro. Ora digam lá se isto não tresanda mesmo a coisa pós-moderna...
Bernardino da Purificação

Um comentário:

Anônimo disse...

Assexuado o Sr. Dr. Miguel Mendonça ?

Mas essa fase, não se tratou da utilização de um efémero e conhecido drible, quando uma sua então enfermeira, lhe apresentou um seu filho, nos longíquos tempos coimbrões ?

Qual a tempestividade do facto ? Ah, estou vendo, o dito cujo reincidiu ?

Ah grande malandro ! Mesmo trôpego e já meio tarilouco, nunca perdoas !

Pois é, diz-me com quem andas, que eu logo digo-te que és .